Hollywood no resgate do AF 447

Expedies em alto mar do diretor James Cameron, de Titanic, podem ajudar a desvendar o mistrio da queda do avio da Air France



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Roberta Namour, correspondente do 247 de Paris

As investigações das causas da queda do avião da Air France 447 contarão com uma valiosa ajuda de equipamentos pioneiros de empresas de telecomunicações e de petróleo, assim como do diretor de Hollywood, James Cameron. Os destroços do Airbus A330 foram encontrados a 3,9 mil metros de profundidade no oceano Atlântico, depois de quase dois anos de buscas. Até então, poucas missões de resgate de aeronaves em tais condições foram registradas. Entre as principais dificuldades estão a visibilidade, quase nula, a temperatura gélida e a forte pressão. Além disso, o trabalho enfrentará um outro obstáculo: a remoção de dezenas de corpos extremamente conservados, que seguem afivelados nas poltronas da fuselagem localizada.

A operação deve começar hoje com a chegada do Ile de Sein ao local, um dos navios da Alcatel-Lucent, especialista em implantação de cabos submarinos de telecomunicação. A bordo estarão 70 pessoas incluindo membros do Escritório de Investigações e Análises (BEA), da França, investigadores do Reino Unido e do Brasil, assim como um psicólogo. A presença de familiares das vítimas não foi permitida. A embarcação é equipada com o robô americano Remora (ROV), da empresa Phoenix International Holdings Inc., que possui câmeras de alta resolução e dois braços mecânicos. Sua cesta pode recuperar até 200 quilos de detritos em uma única viagem. "Há cerca de seis a oito ROVs no mundo capaz de descer tão fundo como o Remora”, disse Tim Janaitis, gerente de desenvolvimento comercial da Phoenix.

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Os equipamentos podem operar até a 6 mil metros de profundidade. Eles costumam ser usados em perfurações de petróleo em alto mar. Mas também já foram utilizados para chegar até o naufrágio do Titanic, no Atlântico Norte. A busca pelos restos do transatlântico condenado em meados da década de 1980, assim como o filme de 1997, dirigido por James Cameron, ajudaram no desenvolvimento de tecnologias marítimas para alta profundidade. Depois do sucesso do longa metragem que ganhou 11 estatuetas do Oscar e custou cerca de 200 milhões de dólares para ser feito, Cameron embarcou em uma expedição submarina até o navio Bismarck, que afundou no Atlântico em 1941. “Experiências como essas motivam a continuidade de pesquisas por novas tecnologias”, afirma Robert Jensen, diretor executivo da Kenyon International Emergency Services, uma empresa sediada em Houston que ajuda as companhias aéreas em catástrofes.

No caso do resgate do AF 447, um time de nove experts da Phoenix irá manipular o Remora de 900 quilos a partir do navio Ile de Sein usando grandes monitores de vídeos. O objetivo central da operação é localizar as caixas-pretas na cauda do avião e trazer até a superfície. Se encontradas, elas serão imediatamente enviadas por vias aéreas até a sede do BEA, sob a vigilância da polícia. A parte mais delicada será a remoção dos corpos. Algumas famílias não querem que os cadáveres sejam resgatados. Mas os investigadores dizem que esse processo pode ser importante para determinar, por exemplo, se os passageiros ainda estavam vivos quando o avião afundou. Até então, apenas um acidente aéreo obrigou equipes de resgate a mergulhar a uma profundidade maior do que a do avião que percorria o trecho Rio-Paris. Os destroços e as caixas-pretas do Boeing 747, da South African Airways, que desapareceu perto das ilhas Maurício, em 1987, foram localizados 14 meses depois, a 4,25 mil metros da superfície.

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