Grupo aponta riscos do avanço da 'pauta conservadora'

Centenas de pessoas participaram da Jornada pela Democracia, realizada na sede de coletivos em uma rua no bairro da Bela Vista, o Bexiga, neste domingo, para discutir o momento político e econômico do Brasil, os limites das transformações sociais dos últimos anos, o papel dos meios de comunicação e a importância da cidadania para o desenvolvimento; grupo manifestou preocupação com medidas como redução da maioridade penal e ampliação da terceirização

Centenas de pessoas participaram da Jornada pela Democracia, realizada na sede de coletivos em uma rua no bairro da Bela Vista, o Bexiga, neste domingo, para discutir o momento político e econômico do Brasil, os limites das transformações sociais dos últimos anos, o papel dos meios de comunicação e a importância da cidadania para o desenvolvimento; grupo manifestou preocupação com medidas como redução da maioridade penal e ampliação da terceirização
Centenas de pessoas participaram da Jornada pela Democracia, realizada na sede de coletivos em uma rua no bairro da Bela Vista, o Bexiga, neste domingo, para discutir o momento político e econômico do Brasil, os limites das transformações sociais dos últimos anos, o papel dos meios de comunicação e a importância da cidadania para o desenvolvimento; grupo manifestou preocupação com medidas como redução da maioridade penal e ampliação da terceirização (Foto: Roberta Namour)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual

São Paulo – A apenas três quarteirões da avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, onde se concentravam movimentos que em comum tinham o sentimento anti-Dilma, algumas centenas de pessoas passaram o dia de ontem (12) discutindo o momento político e econômico do Brasil, os limites das transformações sociais dos últimos anos, o papel dos meios de comunicação e a importância da cidadania para o desenvolvimento.

O encontro, denominado Jornada pela Democracia, realizado na sede de coletivos em uma rua no bairro da Bela Vista, o Bexiga, contrastava com o ato da Paulista pelo clima predominante: em vez de faixas e palavras de ordem agressivas, mesas se revezavam para, mesmo criticando o governo, tentar refletir sobre a conjuntura, os erros do Executivo e perspectivas diante de um clima de beligerância instaurado pelo país.

continua após o anúncio

A Rádio Brasil Atual e a TVT transmitiram todos os debates ao vivo, em cerca de 12 horas de trabalhos ininterruptos.

Um diagnóstico em comum aos participantes e presentes: o risco do avanço da pauta conservadora em detrimento de direitos sociais. Situação que se traduz em medidas como o avanço da proposta de redução da maioridade penal, a aprovação na Câmara de um projeto de lei sobre terceirização e o debate sobre o Estatuto de Família.

continua após o anúncio

Participante de uma mesa que tinha como tema o conservadorismo, a psicanalista Maria Rita Kehl, se diz preocupada, por exemplo, com o que chama de falta de politização na sociedade. "É mais grave que ser direita, porque existe uma direita que joga limpo. O eleitorado não é politizado", diz. Para ela, há uma "insatisfação vaga" que acaba se concentrada na figura da presidenta da República.

Há uma situação que, segundo Maria Rita, tem a ver também ao papel da televisão, "que domesticou a sociedade brasileira". Na época da ditadura, aconteceu "uma simpática adesão" não propriamente ao regime autoritário, mas à imagem de Brasil moderno que se tentava transmitir, com reuniões de executivos da Globo na Escola Superior de Guerra. No momento atual, ela não acredita que se defenderia a volta da ditadura, mas ao mesmo tempo deveria haver mais responsabilidade quanto ao tipo de informação que se divulga.

continua após o anúncio

Ela também se diz decepcionada com as denúncias de corrupção que envolvem o PT, mas identifica também um aspecto positivo: "A apuração que está havendo hoje é um avanço enorme para o país". Ao mesmo tempo em que lembra que a corrupção não foi "inventada/' agora nem é obra de um só partido, Maria Rita se mostra espantada com a "percepção" de que não havia corrupção na ditadura.

'Indecente'

continua após o anúncio

Laerte Coutinho, cartunista, aponta a necessidade de ampliar o discurso. "Estamos falando muito para nós mesmos. Por um lado é legal, por saber que não estamos sozinhos, mas precisamos falar com os outros também." E critica meios de comunicações, citando o jornal Folha de S. Paulo e a revista Veja, por dar apoio a movimentos contra o governo. "É indecente." Isso remete a outra questão, acrescenta. "De novo a discussão da regulamentação (da mídia) está escanteada", observa Laerte.

A jornalista e pesquisadora Rosane Borges lembra da violência policial, citando casos como a da recente chacina de 12 jovens na Bahia, que teve pouca repercussão. "A gente volta à questão do Je suis (referência ao ataque ao jornal francês Charlie Hebdo, que matou 12 pessoas em janeiro). Ninguém é os 12 jovens de Salvador. A tragédia social que a violência policial vem provocando é uma política de Estado", afirma. "Isso deveria nos comover. A gente tem de pensar em que projeto de nação queremos. O que está em jogo também é uma política de costumes, a república, a coisa pública."

continua após o anúncio

É uma questão de estabelecer um marco civilizatório, diz Rosane. "O que está em jogo é qual o pacto de civilização que a gente quer. Não ultrapassar a barreira da barbárie é um bom termômetro." Sobre a recente medida em debate no Congresso, questionou: "O que é a redução da maioridade senão um golpe contra a juventude negra?".

Enquanto o debate ocorria, a aproximadamente um quilômetro dali, manifestantes da Paulista voltavam a tirar fotos da e com a Tropa de Choque da Policia Militar, a exemplo do que ocorreu no ato de 15 de março.

continua após o anúncio

Revisão de erros

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) lembra que houve em outubro uma eleição "equilibrada e polarizada", e agora o conservadorismo "tomou conta" de um dos poderes, referência à eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara. "Eles colocaram na agenda uma escalada contra os direitos sociais. Esse é o grande perigo que estamos vivendo", afirma, citando temas como maioridade penal, Estatuto da Família, terceirização e conceito de trabalho escravo. "A sociedade brasileira tem de se manifestar", diz o parlamentar, considerando correto recente avaliação do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos: "O centro político está sendo homogeneizado pela direita".

continua após o anúncio

Para ele, houve erros também durante a campanha eleitoral. "Nós baixamos a guarda. Ouvi de um importante dirigente que o Muda Mais não era importante. Temos de fazer uma revisão dos nossos erros. Acho que a montagem do ministério não foi boa", disse Teixeira, arrancando aplausos. Ele também criticou a edição, no final do ano, das duas medidas provisórias que dificultam acesso a direitos trabalhistas e previdenciários. "O governo precisa reorganizar sua base. Não vai ter uma reforma política neste contexto."

Ele identifica algumas questões prioritárias: o fim do financiamento empresarial em campanhas eleitorais, a luta contra a redução da maioridade e a resistência contra o Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização. "Não podemos deixar passar esse projeto. Vai tirar massa salarial, ganhos dos trabalhadores." E defendeu "pautas positivas", como a implementação de um imposto sobre grandes fortunas e uma reforma tributária.

Analista político da Rede Brasil Atual, o ex-ministro Paulo Vannuchi considera que é preciso enfrentar a "retomada conservadora" e simultaneamente fazer "um profundo balanço dos nossos erros", incluindo governo, partidos e movimentos sociais. O maior deles, avalia, talvez tenha sido não mexer na questão da democratização dos meios de comunicação.

A uma observação feita por Laerte ("A gente tem de esquecer que é esquerda, somos povo", no sentido de ampliar a participação social, Vannuchi disse concordar em parte. E citou o pensador italiano Norberto Bobbio: depois da queda do Muro de Berlim, a esquerda se identifica com quem prioriza ideias de igualdade e união, enquanto a direita, está ligada ao discurso de eficiência e mercados.

Ainda na questão da maioridade, Maria Rita Kehl observou que é uma questão que "tem a ver com pensar no Brasil como 'nós' e 'eles'". Segundo ela, é preciso pensar que as crianças são uma responsabilidade de todos. "Pelo menos as crianças deveriam ser responsabilidade nossa. Não tem uma passeata pedindo melhores escolas, creches. Quem vota a favor (da redução) é muito mais uma política de vingança do que de justiça."

Os debates no sobrado da Bela Vista, transmitidos pela TVT, começaram pela manhã e foram até a noite deste domingo.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247