Fora de Aécio faz Serra dar salto à frente no PSDB
Senadores tucanos por Minas Gerais e São Paulo convocaram, pelas redes sociais, manifestação contra o governo; mas Aécio Neves não apareceu, e quem ocupou espaço foi José Serra; tucano paulista foi assediado para fotos, discursou e contou sua estratégia para o 247, enquanto descia a paulistana rua da Consolação: "O imponderável sempre acontece, as ruas têm de continuar mobilizadas e a oposição tem de se dar não apenas em Brasília, mas localmente também", enunciou; "Essa é a pior Prefeitura da história de São Paulo", completou; ele não acredita que o governo presidente Dilma caia: "Nossa luta será longa, não é coisa de uma semana ou um mês"
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Marco Damiani, 247 – O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, convocou. O senador José Serra, tucano de São Paulo, também. Aécio furou, Serra faturou.
Depois de ambos chamarem, na véspera do sábado 6, pelas redes sociais, uma manifestação, em São Paulo, para dar massa popular a oposição à presidente Dilma Rousseff e, com ênfase, ao PT, só um dos tucanos se deu bem. Serra. Ele apareceu, Aécio deu bolo.
Com entre duas mil pessoas e, no exagero de um locutor do primeiro trio elétrico, dez mil participantes, o certo é que a marcha da oposição, repleta de camisas verde-amarelas, ao estilo da Seleção Brasileira, nem chegou perto de ocupar a Praça Roosevelt – o objetivo final, após saída do vão livre do Masp. Mas, mesmo assim, a passeata cumpriu seu papel de criar, no mínimo, um factóide. E houve o peso político real da manifestação dado pela presença de Serra.
Acompanhado pela reportagem de 247 desde sua chegada à passeata, pelas 17h00, no início da descida da rua da Consolação, o tucano, discretamente, soube ganhar a cena. Antes de ele chegar, o que se tinha era uma caminhada bem organizada, com bom público – se você considerar que, dois sábados atrás, menos que 500 pessoas contra o governo se juntaram no vão do Masp -, dois caminhões de som e cartazes escritos em inglês! Notadamente de classe média, só, exclusivamente, unicamente com gente branca – chequem pelas fotos --, casais, mulheres bonitas, enfim, paulistanos de classe média, bem vestidos, estavam participando.
Os cartazes desta marcha que pedia 'Fora PT', 'Dilma vá para Cuba' e um 'Dilma, you didn´t win the elections. Roubbed" eram, para alguns, divertidos. Um dos locutores chamava o ex-presidente Lula de "nove dedos". Na descida da Consolação, com todas as quatro faixas de rolamento no sentido centro da cidade ocupadas por integrantes da passeata, um sol de horário de verão às seis da tarde alegrava a todos. Diante de um sobrado que tinha o símbolo de uma foice e um martelo na porta, o loucutor de viés pentecostal dizia:
- Desçam, saiam da propriedade dos outros. Venham para a rua para melhorar de vida.
Repercussão zero, ninguém desceu.
Em tempo: àquela altura, uma outra marcha, esta com menos de 150 pessoas, defendia, no final da avenida Paulista, a tal volta dos militares ao poder. Era liderada por homens com uniformes militares de selva, camuflados, e imagens explícitas de loas ao regime militar. Um fiasco, que só tomou as faixas de rolamento da Paulista por concessão do policiamento. Não havia número suficiente para justificar essa intervenção no trânsito. Comparando: havia mais gente fazendo compras na rua Oscar Freire, naquele horário, do que pedindo a volta dos milicos.
Nesse contexto, voltando à descida da Consolação, 247 conversou com o 'manifestante' José Serra, que explicou sua posição:
247 - O sr. está com o 'fora, Dilma'? É o que estão pedindo aqui.
José Serra – (Silêncio).
Depois de tirar fotos com fãs, conversar com organizadores e receber o microfone para falar dali mesmo, a pé, ele se explicou melhor:
- Estamos aqui para fazer oposição e pedir mais democracia, mas dentro da Constituição, repetiu. "Fora da Constituição, não".
Serra recusou-se a fazer um discurso à direita, clássico, sem, no entanto, deixar de comparecer a um ato que poderia descambar para o atraso político completo.
Por 247, pouco mais tarde de falar ao microfone, Serra se tranquilizou ao saber que a turma pró-militares havia feito outra passeata. O senador disse:
- Você ouviu o que eu falei? Pedi para fazer oposição, mas dentro da Constituição. Nada disso de volta dos militares. Eu fui exilado duas vezes. Com os militares, eu serei exilado três vezes. Nada disso, enfatizou.
Quando o público da manifestação chegou à praça Roosevelt, o número não conseguiu atrapalhar as dezenas de skatistas que batiam rodas no local. Do alto do caminhão de som que liderara a marcha, Serra foi o único orador. Havia gente dos dois lados do grande veículo, preenchendo as pistas de descida e uma pista de subida da Consolação. Viu-se, nitidamente, que eram não mais de duas mil pessoas. Em termos de comparação, a Marcha da Maconha, reportada por 247 em 2012, na mesma praça Roosevelt, tinha, a olho nu, entre quinze a vinte vezes mais o número de pessoas desta do final da tarde do sábado 6.
Do alto caminhão de som, Serra fez seu discurso:
- Nós temos de continuar nas ruas, estávamos ontem, estamos hoje, devemos estar amanhã, conclamou.
- O importante é mantermos essa mobilização, avançou ele, arrancando aplausos.
- Nós temos de nos preparar para uma luta política longa, que não vai se resolver na próxima semana, no próximo mês, mas irá adiante, prosseguiu Serra.
- Agora, temos de entender que a política sempre tem o fator do imponderável, que sempre acontece o imprevisível. O que não se espera sempre acontece nos grandes momentos. Esse é mais um motivo para nos mantermos mobilizados, completou, referindo-se, veladamente, à possibilidade de a presidente Dilma Rousseff ter as contas de sua campanha eleitoral barradas pelo TSE.
- O sr. acha que isso pode acontecer?
Serra, outra vez, não respondeu com palavras, mas fez um sinal de que não acredita nesta possibilidade.
Na caminhada entre a descida do caminhão de som e o automóvel que o esperava na contramão da lateral da Roosevelt – só depois que o senador deixou o local o trânsito voltou a fluir na mão normal -, Serra foi vaiado, com delicadeza, quase na base da brincadeira, por clientes de um bar com samba ao vivo. Pouco. Em seguida, porém, duas garotas lá de dentro, encostadas na grade que separava quem pagou de quem não pagou consumação para entrar no bar, esticaram as mãos para Serra e mandaram beijos, dando gritinhos:
- Adoro você, disse uma delas, sorrindo.
O senador retribuiu. Em seu melhor estilo calmo e pausado, Serra acabara de ganhar o sábado com aqueles gritinhos das duas fãs.
Até descer a Consolação com passeata anti-PT, Serra não fizera nenhum movimento desde que ganhou seu novo mandato, em outubro. Estava quieto, tendo recusado todos os pedidos de entrevista que lhe chegaram. No sábado de sol, desceu a rua, juntou-se com aquele público de camisas amarelas e perfil de classe média e renovou suas baterias.
Em tempo: ao público, Serra disse:
- A nossa oposição não pode ser só em relação às questões nacionais. Temos também de fazer oposição sobre as coisas que estão próximas de nós. Esta Prefeitura de São Paulo é a pior de todos os tempos, demarcou.
Que venha também um lindo domingo de sol.
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