Em nota, ex-reitores pedem justiça para Cancellier e reitores perseguidos pela Lava Jato das universidades

“A brutalidade do ocorrido com o reitor Cancellier nunca foi esquecida pela comunidade acadêmica das 69 universidades federais e nem tampouco por nós, ex-reitores e reitoras”

Luiz Carlos Cancellier de Olivo
Luiz Carlos Cancellier de Olivo (Foto: Pipo Quint/Agecom/UFSC)


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247 — Ex-reitores de universidades federais assinaram uma nota pedindo justiça para o reitor Luiz Carlos Cancellier e outros reitores perseguidos durante a operação Lava Jato. A nota denuncia a ação ilegal que resultou na morte de Cancellier, assim como os diversos casos de perseguição enfrentados por reitores e reitoras.

“A brutalidade do ocorrido com o Reitor Cancellier nunca foi esquecida pela comunidade acadêmica das 69 universidades federais e nem tampouco por nós, ex-reitores e reitoras. Foram dias de opressão, de insegurança e ameaças, especialmente após 2019. Foi exatamente nesse ano que o então ministro da Educação de Bolsonaro ameaçou reitores e instituições publicamente, ao cortar sumariamente os recursos”, diz a nota.

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Os ex-reitores destacam a necessidade de investigação e punição dos responsáveis, além de buscar reparação pública. Eles se dirigem ao presidente Lula e aos ministros de Justiça, Flávio Dino, e Educação, Camilo Santana, em busca de justiça, resgate da memória e garantia da legalidade para a preservação da democracia.

Confira abaixo:

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No último dia 7 de julho de 2023 recebemos a notícia de que o Tribunal de Contas da União (TCU) não verificou irregularidades na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) após denúncia nunca explicitada ocorrida em 2017, afrontando o devido processo legal e a presunção de inocência, gerando medidas arbitrárias pela PF e pelo judiciário que, por sua violência, levaram à morte do Reitor Luiz Carlos Cancellier em 02 de outubro de 2017 (https://jornalggn.com.br/justica/tcu-afirma-que-nao-houve-irregularidades-ufsc/).

O Reitor Cancellier foi vítima de uma ação ilegal de destruição de sua reputação, após uma representação sobre supostos superfaturamentos em contratos. Por razões até hoje ocultadas, a representação não levou a uma investigação, e sim a uma ação da Polícia Federal que determinou a prisão sumária e sem provas do Reitor, decretada pela então Delegada Erika Marena.

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A linha de ação que gerou os horrores sem precedentes vividos por Cancellier foi aplicada de maneiras diferentes e em inúmeras outras situações impostas a reitores de instituições federais entre 2016 e 2022. Foram conduções coercitivas, negações ao direito de defesa, denúncias junto a órgãos de controle e várias humilhações públicas que causaram sofrimento e adoecimento. No caso Cancellier, o terror culminou na proibição de que o Reitor, em pleno exercício de seu mandato, ingressasse no espaço de sua Universidade.

A brutalidade do ocorrido com o Reitor Cancellier nunca foi esquecida pela comunidade acadêmica das 69 universidades federais e nem tampouco por nós, ex-reitores e reitoras. Foram dias de opressão, de insegurança e ameaças, especialmente após 2019. Foi exatamente nesse ano que o então ministro da Educação de Bolsonaro ameaçou reitores e instituições publicamente, ao cortar sumariamente os recursos da UnB, UFBA e UFF, com a citação da Reitora da UnB, Márcia Abrahão, além dos casos das Reitoras da Unifesp, Soraya Smaili, e da UFMT, Myrian Serra, que foram mencionadas explicitamente em sessões do Congresso Nacional e para a mídia, em várias ocasiões. Lembramos igualmente as conduções coercitivas, como as ocorridas com os Reitores Jaime Ramirez e Sandra Goulart da UFMG, e da representação do MPF contra o Reitor Roberto Leher da UFRJ, além das tentativas de inquéritos contra aqueles que se manifestaram, denunciando os abusos e a arbitrariedade. Esses são apenas alguns dos exemplos.

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Apesar do movimento de perseguição às universidades ter se iniciado antes de 2017, a partir do golpe sofrido pela Presidente Dilma, bem como da violenta e infundada prisão do Presidente Lula, as universidades federais foram massacradas pela “Lava Jato da Educação”. De maneira sigilosa, nossas universidades foram vasculhadas e investigadas ao extremo. Foram inúmeras tentativas de processos administrativos, de tomadas de contas junto ao TCU e de denúncias falsas contra reitores e reitoras junto à CGU. Algumas dessas situações foram relatadas em evento realizado durante a SBPC de 2022 em Brasília, sob a coordenação dos Reitores João Carlos Salles e José Geraldo (https://sindct.org.br/sindct/especiais/sindct-na-sbpc-2022/o-caso-cancellier/).

Por isso, é preciso não só contar mais uma vez a história do Reitor Cancellier mas exigir justiça, para que não seja esquecida e para que não se repita, por seu simbolismo e por representar um período no qual sofremos com as denúncias infundadas. Ao abrir mão de sua vida tragicamente, Cancellier também foi um anteparo e uma proteção aos demais, diante de tanta criminalização.

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Passados 6 anos da morte de Cancellier e anos de torturas psicológicas, o ofício do TCU enviado ao atual reitor da UFSC trouxe a informação de que o “Tribunal decidiu em conhecer da representação, considerá-la improcedente e determinar o seu arquivamento”.

No entanto, a conclusão do processo e seu arquivamento não serão suficientes: não trarão as inúmeras perdas de volta, em especial a vida de nosso colega Cancellier. É por esta razão que entendemos que a justiça não está feita e será preciso investigar ainda mais e, principalmente, punir os responsáveis. A punição dos responsáveis e a reparação pública serão parte da justiça que esperamos. Para que ela ocorra, é necessário não anistiar os condutores deste capítulo infeliz de nossa história recente. 

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Nós nos dirigimos ao Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, bem como aos Ministros de Estado da Justiça e da Educação, para nos manifestarmos publicamente em nome do resgate da memória do reitor Cancellier e em honra a todos os reitores, reitoras e instituições que foram brutalmente agredidos/as e perseguidos/as. Queremos justiça e reparação. Para que a história não se repita e para que seja plenamente restabelecida a legalidade imprescindível para a garantia da democracia. 

Assinam os Ex-Reitores e Ex-Reitoras das seguintes universidades, com as datas de seus mandatos:

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Amaro Henrique Pessoa Lins – UFPE, 2003-2011

Ana Dayse Rezende Dórea - UFAL, 2003-2011

Ana Lúcia Almeida Gazzola – UFMG, 2002-2006

Arquimedes Diógenes Ciloni - UFU, 2000-2008

Carlos Alexandre Netto – UFRGS, 2008-2016

Celia Maria Silva Correa Oliveira - UFMS, 2008-2016

Cleuza Sobral Dias – FURG, 2013-2020

Dilvo Ristoff – UFFS, 2009-2011

Eliane Superti – UNIFAP, 2014-2018

Felipe Martins Muller - UFSM, 2009-2013

Fernando Antonio Menezes da Silva - UFRR, 2000-2004

Gustavo Oliveira Vieira – UNILA, 2017-2019

Gilciano Saraiva Nogueira – UFVJM, 2015-2019

Helio Waldman - UFABC, 2010-2014

Helvécio Luiz Reis – UFSJ, 2004-2012

Jefferson Fernandes do Nascimento - UFRR, 2016-2020

Jesualdo Pereira Farias - UFC, 2008-2015

João Carlos Salles Pires da Silva - UFBA, 2014-2022

João Carlos Brahm Cousin – FURG, 2005-2012

José Carlos Ferraz Hennemann - UFRGS 2004-2008

João Luiz Martins - UFOP, 2005-2013

José Arimatea Dantas Lopes - UFPI, 2012-2020

José Henrique de Faria - UFPR, 1994-1998

José Ivonildo do Rêgo - UFRN, 1995-1999 e 2003-2011

José Geraldo de Souza Junior - UnB, 2008-2012

José Rubens Rebelatto – UFSCar, 1996-2000

Josué Modesto dos Passos Subrinho - UFS, 2004-2012 e UNILA, 2013-2017

Marcone Jamilson Freitas Souza - UFOP, 2013-2017

Malvina Tuttman - UNIRIO, 2004-2011

Maria Beatriz Luce - Unipampa, 2008-2011

Maria Lúcia Cavalli Neder – UFMT, 2008-2016

Maria Stella Coutinho de Alcântara Gil – UFSCar, 2008

Mauro Del Pino – UFPel, 2013-2017

Naomar Almeida Filho - UFBA, 2002-2010 e UFSB, 2013-2017

Nelson Maculan Filho – UFRJ, 1990-1994

Newton Lima Neto – UFSCar, 1992-1996

Nilma Lino Gomes – Unilab, 2013-2014

Odilon Antonio Marcuzzo do Canto - UFSM, 1993-1997

Orlando Afonso Valle do Amaral - UFG, 2014-2018

Oswaldo B. Duarte Filho - UFSCar, 2000-2007

Paulo Burmann – UFSM, 2013-2021

Paulo Gabriel Soledade Nacif – UFRB, 2006-2013

Paulo Márcio de Faria e Silva - UNIFAL-MG, 2010-2018

Paulo Speller – UFMT, 2000-2008; UNILAB, 2010-2013

Pedro Angelo Almeida Abreu - UFVJM, 2007-2015

Reinaldo Centoducatte – UFES, 2011-2020

Ricardo Berbara – UFRRJ, 2017-2021

Roberto Ramos Santos - UFRR, 2004-2012

Roberto Leher – UFRJ, 2015-2019

Roberto de Souza Salles – UFF, 2006-2014

Sebastião Elias Kuri - UFSCar, 1988-1992

Silvio Luiz de Oliveira Soglia - UFRB, 2015-2019

Soraya S. Smaili - UNIFESP, 2013-2021

Targino de Araújo Filho - UFSCar, 2008-2016

Valéria Heloísa Kemp – UFSJ, 2012-2016

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