Depressão, mal do século

Quatrocentos milhões de pessoas no mundo e 13 milhões no Brasil sofrem de depressão. Com causas ainda não totalmente esclarecidas, o mais assustador a respeito desta doença é que depois do primeiro epsódio a probabilidade de ocorrer outro é de 50%



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Quatrocentos milhões de pessoas no mundo  e 13 milhões no Brasil sofrem de depressão. Com causas ainda não totalmente esclarecidas, o mais assustador a respeito desta doença é que depois do primeiro epsódio a probabilidade de ocorrer outro é de 50%; depois do segundo o risco sobe para 75%; e após o terceiro período a chance de que ele se repita pula para 90%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão causa 850 mil suicídios por ano em todo o mundo. 

Tudo parece indicar que algum mecanismo no cérebro faz com que estes momentos fiquem gravados e tendam a se repetir com mais freqüência, a cada novo incidente. Como todos nós estamos passíveis de passar por isso o importante então é prevenir para que não ocorram períodos de depressão, e, no caso de acontecer, fazer com que tenham a menor duração possível.

A grande pergunta é: como fazer isso? Como nós cidadãos comuns vamos distinguir a tristeza por uma perda de amigos ou familiares, ou por uma grande decepção amorosa, daquela tristeza sem fim que toma conta de algumas pessoas fazendo com que a vida, o sol, ou uma noite estrelada não represente mais nenhuma beleza?  Se você sente isso procure o mais rápido possível um médico, um psicanalista, um psiquiatra. Eles podem te ajudar.

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Quadro muito diferente do entristecer passageiro ligado aos fatos comuns da vida, a depressão  é uma doença potencialmente grave que interfere no sono, no apetite, na vida sexual, no trabalho. Está associada a altos índices de mortalidade por complicações clínicas ou suicídio. Necessitamos olhar pra seus sintomas com atenção e estar sempre atentos a novas pesquisas que iluminam o assunto. 

Há quatro décadas acredita-se  que a causa da depressão estava ligada a uma queda da produção de substâncias no cérebro que agem na transmissão de sinais entre os neurônios, os neurotransmissores, entre os quais a serotonina exerceria o papel principal. O fato de que medicamentos usados para aumentar as concentrações de serotonina no cérebro beneficiou grande número de pacientes reforçou esta tese.

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Nos últimos dez anos, no entanto, a hipótese dos níveis inadequados de serotonina passou a ser cada vez mais contestada. O principal argumento contrário a ela foi o de que nunca foi possível demonstrar deficiência de serotonina no cérebro de pacientes deprimidos.

Uma reportagem sobre o assunto publicada recentemente pela Revista Science  me chamou a atenção. Ela traz uma discussão sobre o conjunto de ideias mais aceitas atualmente para explicar a depressão: a hipótese do estresse.

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Segundo essa teoria, em resposta aos estímulos agressivos do ambiente, o hipotálamo produz um hormônio (CRF) para convencer a hipófise a mandar ordem para as supra-renais produzirem cortisol e outros derivados da cortisona.

Diversos trabalhos experimentais mostraram que esses hormônios do estresse (CRF, cortisol e outros) prejudicam a saúde dos neurônios, porque modificam a composição química do meio em que essas células exercem suas funções. A persistência do estresse altera de tal forma a arquitetura dos circuitos neuronais que chega a modificar a própria anatomia cerebral. Por exemplo, provoca redução das dimensões do hipocampo, estrutura envolvida na memória, e área fundamental para a ação das drogas antidepressivas.

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Pesquisadores da Universidade de Emery, em Atlanta, demonstraram a existência de períodos críticos na infância em que sofrer violência física, abuso sexual, ausência de cuidados maternos e outros tipos de estresse emocional podem conduzir à hipersecreção de CFR no hipotálamo, com conseqüente liberação de cortisol pelas supra-renais, alterações associadas à depressão na vida adulta. Os pesquisadores concluíram que muitas das alterações neurobioquímicas encontradas na depressão do adulto podem ser explicadas pelo estresse ocorrido em fases precoces da infância.

No estudo clínico realizado em Atlanta, 45% dos adultos com quadros depressivos de pelos menos dois anos de duração haviam sido abusados, negligenciados ou sofrido perda dos pais na infância.

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Outro achado importante para definir o papel dos hormônios do estresse foi a demonstração recente de que a injeção de CRF diretamente no cérebro de animais de laboratório induz o aparecimento de quadros típicos de depressão e de distúrbios de ansiedade, sugerindo que depressão e ansiedade tenham mecanismos comuns e possam ser induzidas por fatores semelhantes. Talvez seja essa a justificativa para a maioria das pessoas com depressão na vida adulta relatar ter tido personalidade hiper-ansiosa na infância e adolescência.

Neurocientistas famosos defendem a teoria de que o mecanismo através do qual o estresse induziria a depressão estaria ligado ao hipocampo: os hormônios do estresse suprimiriam o nascimento de novos neurônios nessa estrutura crucial para o processamento da memória. 

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Tal suspeita ganhou ímpeto especialmente depois da publicação meses atrás de uma descoberta inesperada: depois de duas ou três semanas de tratamento com drogas antidepressivas começam a nascer novos neurônios no hipocampo (neurogênese). Esse achado explicaria também por que, apesar dos antidepressivos elevarem imediatamente os níveis cerebrais de serotonina, sua ação benéfica só se manifesta semanas mais tarde.

Estudos do desenho dos circuitos cerebrais envolvidos na depressão nos últimos dez anos provocou uma série de ensaios terapêuticos com drogas de ação muito diferentes das atuais. Devemos estar atentos e torcer para que cada vez mais políticas públicas se voltem para sistematizar pesquisas e incentivar novos tratamentos pelo sistema público de saúde que possam revolucionar o tratamento da mais comum de todas as enfermidades psiquiátricas.

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Dep. Chico Vigilante

Líder do Bloco PT/PRB 

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