Coleção de resultados e metas marca volta às aulas no Rio

Ano letivo na rede pblica municipal comea oficialmente nesta quarta 1; diretores de escolas se renem com prefeito Eduardo Paes e secretria Claudia Costin; a ordem superar nossas melhores ambies, diz ela em entrevista exclusiva ao Rio 247

Coleção de resultados e metas marca volta às aulas no Rio
Coleção de resultados e metas marca volta às aulas no Rio (Foto: AF Rodrigues/Divulgação)


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Marco Damiani _247 – À razão de um orçamento de R$ 3,9 bilhões para 2012 – 25% do total empregado pela Prefeitura do Rio e igualado apenas pelo da Saúde --, o ensino público municipal abre oficialmente neste 1º de fevereiro um ano letivo de superação de metas. Em 2011, 423 escolas municipais atingiram o objetivo de oferecer o turno ampliado de sete horas de ensino para seus alunos. A partir de agora, outras 114 escolas, entre as quais 58 Cieps, entrarão nesse regime. Nos dois últimos anos, cerca de 33 mil estudantes da rede pública participaram de programas de aceleração de ensino, nos quais têm a chance de recuperar perdas curriculares de fases anteriores. De uma só vez, ao longo de 2012, mais 37 mil alunos irão participar desse processo. Em relação à realfabetização, seis mil estudantes situados entre o 4º e o 6º anos são esperados em aulas especiais. Eles se somarão a um contingente de 25,5 mil alunos que superaram a condição de analfabetos funcionais, desde 2009, por meio de aulas especialmente elaboradas para este fim. Neste pacote de metas, cabe ainda a inserção em um programa de reforço escolar de alunos repetentes de 3º, 4º, 7º e 8º anos e, também, dos estudantes que tiveram os piores resultados na Prova Rio, de avaliação externa, com aulas extra-curriculares. Nos campos da educação infantil e da pré-escolarização, as atuais 16,5 mil vagas em Espaços de Desenvolvimento Infantil terão o acréscimo, até dezembro, de outras 11,2 mil, abertas em 73 novos EDIs, dos quais 18 já foram inaugurados.

Não há como apartar essa vistosa coleção de resultados e ambições do trabalho da secretária municipal de Educação, Claudia Costin, no cargo desde 2009. Com um currículo que inclui mestrado em Economia e doutorado em Gestão pela Fundação Getúlio Vargas, ela já havia demonstrado uma forte vocação para o serviço público. Fora ministra da Administração no governo FHC e secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. A própria Claudia, porém, é a primeira a alinhar as conquistas de agora com a atuação dos que a antecederam no cargo. “Vi logo que a lagoa era boa”, compara.

Ao Rio 247, a secretaria Claudia, que responde pela rede de 1.065 escolas municipais, nas quais estão matriculadas 671,7 mil crianças e jovens cariocas, assistidas por 40 mil professores – e que, repita-se, volta a funcionar a partir desta quarta-feira 1, com uma reunião às 9h00 entre ela, o prefeito Eduardo Paes e todos os diretores da rede municipal --, concedeu a seguinte entrevista:

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247 – A sra. é secretaria de Educação desde o primeiro dia da atual gestão municipal. Qual foi o quadro que encontrou ao chegar?

Claudia Costin – Posso garantir que não assumi num quadro de desastre ou terra arrasada. Deu para ver, rapidamente, que havia uma lagoa boa pela frente. As condições para um salto de qualidade no ensino público municipal foram proporcionadas, em dez anos anteriores à minha chegada aqui, por meio do trabalho das minhas antecessoras e suas equipes. Não houve descontinuidade. Foi possível, por isso, tematizar a aprendizagem.

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- Como assim?

- Já tínhamos a maior rede física entre todas as cidades do Brasil, com mais de mil escolas municipais. O que faltava era conquistar os professores para bandeiras como o currículo único, fazê-los entender a importância dos cadernos de apoio pedagógico, criar mecanismos de avaliação mais precisos sobre as deficiências e distorções que anos e anos de regime de progressão continuada estabeleceram. Meu primeiro passo foi conquistar os diretores das escolas e os professores para essa missão transformadora.

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- A sra. conquistou o que buscava?

- Sim, e conquisto mais a cada dia. Unimos as escolas pelas internet e pelo contato pessoal, passamos a falar mais de perto com os professores, a dar mais apoio concreto. Não impusemos nada, mas estabelecemos uma série de novas diretrizes e procuramos travar a batalha de ganhar o professorado para o nosso lado – e não, simplesmente, impor à categoria uma tábua de regras, o que teria sido inútil. Uma das minhas primeiras atitudes foi chamar quem havia elaborado o sistema curricular anterior para criar, comigo e outros técnicos, o currículo unificado que temos agora. Aliás, sempre procuro contar com a participação de especialistas na elaboração dos mais diferentes temas. Gosto de ouvir. Sou firme, não sou beligerante. Nesse sentido, não quis romper com o passado, mas aproveitar as boas experiências, o nosso capital humano e corrigir o que eu achava que poderia ser corrigido. Adotei, para isso, o sistema do ‘planefazendo’.

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- Planefazendo?

- É, isso quer dizer aplicar o planejamento estabelecido em gabinete às condições reais de temperatura e pressão existentes na vida real, nas nossas escolas, entre os nossos professores e nossos alunos. Ou seja, é acreditar no planejamento, mas também é ter jogo de cintura suficiente para realizar adaptações, não se abater com as eventuais contramarchas e aproveitar as chances de avançar mais rapidamente. Planejar fazendo, planefazendo.

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- Por onde se deu o começo dessas mudanças?

- Olhando os resultados do Brasil em todos os testes globais de avaliação escolar, foi fácil perceber que não estávamos indo pelo caminho certo. Desde o ano 2000, em todas as provas mundiais, ficamos sempre com os últimos lugares. Em 2009, no teste PISA, coordenado pela OCDE, fomos o terceiro país que mais avançou, mas, ainda assim, ficamos com o 57º lugar em matemática, com o mesmo 57º posto em Ciências e com a 53ª posição em Matemática. O Rio de Janeiro, é claro, estava inserido nessa lógica geral do País. Partimos dessa base para explicar aos professores que, se continuássemos a seguir os mesmos métodos de sempre, chegaríamos aos mesmos lugares de sempre, isto é, o final da fila.

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- Então...

- Então partimos dessa avaliação para mudar e mudar mesmo o que estávamos fazendo. Criamos, inicialmente, cadernos de apoios pedagógicos, para qualificar o professor. Pela internet, tornamos disponíveis apostilas para ajudar o professor em sala de aula, com temas ligados ao seu dia a dia. Reequipamos bibliotecas e cuidamos da parte física das escolas também. Você pode notar que os nossos Cieps, por exemplo, estão sempre pintadinhos, coloridos, com tons alegres. Quando eu vejo que uma escola não está dessa maneira, telefono para a diretora, pergunto o que está acontecendo, o que ela precisa para se juntar ao nosso movimento. Ao mesmo tempo, retomando, informamos à rede que teríamos avaliações de desempenho escola por escola, garantindo às melhores, àquelas que superassem suas metas, mais remuneração para professores e funcionários. Em resumo, compartilhamos objetivos, definimos rumos e estabelecemos missões, mas também criamos mecanismos de estímulo.

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- Há uma tabela de prêmios?

- Sim. Da merendeira à diretora de uma escola que atinja as metas, cuja medição, por sua vez, é feita por meio de provas aplicadas de fora para dentro da escola, como a Prova Rio, pagamos um 14º salário. Em áreas conflagradas – e temos 151 escolas em áreas que são consideradas de risco --, pagamos o 14º e mais meio salário.

- Muita gente já recebeu esses prêmios?

- Em 2010, 56% de nossas escolas foram contempladas. Tomando-se apenas a nossa rede de Escolas do Amanhã – integrada pelas unidades posicionadas em áreas conflagradas, as 151 que mencionei --, esse índice subiu para 65%, com redução da evasão escolar e maior presença de professores.

- Qual é a base principal para esses avanços?

- Sem dúvida, o currículo unificado. Antes – e isso parece inacreditável agora --, cada escola elaborava o seu próprio currículo, tendo a preocupação, apenas, de seguir as regras básicas dadas pelo Ministério da Educação. Os professores não eram obrigados a mostrar seu plano de voo, definir as etapas de seu trabalho. Desse jeito, cada escola falava, na prática, a sua própria língua pedagógica, e todas se desencontravam. Acabamos com isso criando o currículo único, em cima daquelas discussões com especialistas. Como não havia tempo a perder, isso se deu logo no primeiro ano de gestão. Foi o método planefazendo que funcionou.

- E essas avaliações externas?

- Estabelecemos duas provas externas, comuns a todas as escolas, por semestre, e uma no final do ano. Passamos a ver nitidamente, pelo cruzamento de resultados, onde havia mais e menos problemas, quais escolas e, em particular, quais alunos demandavam atenções especiais. As avaliações externas nos deram um raio-x completo do sistema. Com base em seus resultados, fazemos ajustes, criamos programas de aceleração escolar, de reforço e, até, de realfabetização.

- Na base do ensino, a educação infantil, o que está sendo feito?

- Desde 2009, abrimos 16,5 mil vagas em creches e no que chamamos de Espaço de Desenvolvimento Infantil, muitas vezes em áreas anexas às escolas da rede. Neste 2012, estaremos criando mais 11,2 mil vagas nos EDIs. Ao todo, hoje, temos 56,3 mil crianças em creches e 71 mil alunos na pré-escola. Isso indica que, doravante, cada vez mais nosso trabalho de educar tende a ser mais facilitado, porque a base está se ampliando e inserindo a todos. Fico orgulhosa em dizer que já percebemos a afluência, à rede pública, de alunos vindos de escolas particulares, o que é mais um demonstrativo de que o nível do ensino que praticamos, efetivamente, melhorou.

- Para este 2012, quais resultados a deixarão feliz lá no mês de dezembro?

- Primeiro, se todas as crianças estiverem aprendendo bem e a gente conseguir mostrar isso. Quero, ainda, os professores motivados e acabar com esse fenômeno do analfabetismo funcional, que foi o que a gente encontrou na rede. Quando eu cheguei aqui, nós tínhamos 14% de crianças analfabetas nos 4º, 5º e 6º anos. Uma tristeza. Se isso se reduzir para 5%, o que quer dizer só crianças que vêm de fora ou com dificuldades bem maiores de aprendizagem, eu vou me sentir feliz. Além disso, a nota da prova Brasil. O Rio pode mostrar um avanço importante. Estarei feliz se a gente sentir que as crianças estão escrevendo bem. Também se os Ginásios Cariocas -- os ginásios experimentais, quando o professor poderá mostrar que é polivalente -- funcionarem a contento, eu vou me sentir uma pessoa muito realizada. Não posso esquecer, ainda, das crianças pequenas. Quero zerar o número de vagas em creches. É por ai.

Abaixo, os números oficiais da Secretaria Municipal de Educação para 2012:

1.065 Escolas

250 Creches Públicas Municipais em horário integral

98 Unidades Escolares que atendem na modalidade Creche

178 Creches conveniadas

51 Espaços de Desenvolvimento Infantil

Alunos matriculados

Total Geral: 671.702 alunos matriculados

Educação Infantil

Creche: 56.385 alunos

Pré - Escola: 74.093 alunos

Ensino Fundamental

1º segmento: 304.340 (1º ao 5º ano)

2º segmento: 229.983 alunos (6º ao 9º ano)

Educação Especial

Alunos em classes especiais: 4.968

Alunos incluídos em classes regulares do ensino fundamental: 5.719

Total de alunos do Ensino Fundamental: 539.329

Programa de Educação de Jovens e Adultos/EJA: 18.894 alunos

Unidades de Extensão

Clubes Escolares: 12

Núcleo de Artes: 10

Pólos de Educação pelo Trabalho: 18

Atendidos por:

40.149 professores

- 16.622 professores I

- 22.065 professores II

- 1.462 professores de Educação Infantil

5.641 agentes auxiliares de creche

10.357 funcionários de apoio administrativo

* Última atualização em 4 de janeiro de 2012.

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