Código Florestal já aumenta desmatamento

Ns ganhamos, dizem os madeireiros ao padre Amaro (foto), sucessor da missionria Dorothy Stang; destruio de florestas pode aumentar 47%



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Rodolfo Borges_247, de Brasília – A prorrogação do decreto que suspende a aplicação de multas por crimes ambientais adiou a conclusão das discussões sobre o Código Florestal, mas a aprovação do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB) na Câmara já mudou o comportamento dos madeireiros no Pará. Quem diz é o padre José Amaro Lopes de Sousa, pároco da paróquia Santa Luzia, coordenador da Comissão Pastoral da Terra de Anapu e Altamira (PA) e um dos herdeiros da luta da missionária Dorothy Stang na região. “São pessoas que deveriam pagar multas enormes para o Estado, mas chegaram para mim e disseram: ‘padre, nós ganhamos’. Ganharam o quê?”, questiona Amaro, que esteve em Brasília nesta semana para denunciar a morte de quatro colegas na região.

Caso o novo Código Florestal for adotado pelo governo brasileiro da maneira em que está, o desmatamento no país pode aumentar 47% até 2020. A informação foi apontada em um estudo elaborado por pesquisadores da Universidade de Brasília, em parceria com cientistas da Holanda e da Noruega. O projeto chamado Lupes (Política de uso da terra e desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento, na tradução do inglês) se baseia no total desmatado no país em 2008. Estima-se que se a atual lei, que estipula regras para a preservação ambiental em propriedades rurais, vigorasse até 2020, seria derrubado no país 1,1 milhão de hectares de floresta (11 mil km²) a mais que em 2008.

Por isso, o padre Amaro demonstra preocupação. “O governo anunciou que para o Pará e o Amazonas vai ter meio milhão (de reais) para trabalhar. Mas isso é só coisa que fica no papel. Fica nos jornais. Alguma coisinha chega, mas até passar pela burocracia e os conchavos entre os grupos políticos acaba morrendo mais gente”, reclama Amaro, que se diz “meio Tomé” ao voltar pela sexta vez a Brasília atrás de justiça para a região Norte, onde foram assassinados quatro agricultores e extrativistas só neste ano. “E isso são as que a gente sabe, aqueles que têm um pouco mais de visibilidade. Sabemos de mais quatro pessoas que estão ameaçadas de morte. Ser ameaçado é nosso pão nosso de cada dia”, diz.

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Desta vez, uma das melhores promessas do governo, segundo Amaro, é a de regularizar a situação das terras. “Estão fazendo duas guaritas há seis, cinco meses, mas não tem quem faça a segurança”, avalia. O padre diz que os madeireiros da região mudaram de atitude depois da aprovação do novo Código Florestal na Câmara. “Eles estão querendo conversar. Antes queriam ver o diabo a ver a gente. Ganharam confiança. No próximo ano vai ter eleições municipais, tem a construção de Belo Monte. Eles querem pegar aqueles quatro municípios em torno de Belo Monte para ganhar muito dinheiro”, disse ao Brasil 247. “Acham que o governo está do lado deles. Vão continuar tirando a madeira, jogando capim dentro da roça. Com esse tipo de pessoal não tem diálogo”, lamenta.

Em resposta às demandas dos agricultores, os ministros da Justiça e dos Direitos Humanos, José Eduardo Cardozo e Maria do Rosário, lançaram a operação “Defesa da Vida” em Marabá (PA), na última quinta-feira. A operação pretende combater ações do crime organizada, por meio da atuação das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança, e acelerar a análise dos quase 2 mil inquéritos policiais que investigam morte em assentamentos da região.

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Padre Amaro agradece a atenção, mas se diz acostumado a ver esse tipo de ação. Depois da morte de Dorothy, algumas casas foram construídas, alguns quilômetros de estrada, mas muito pouco foi feito. Faz seis anos que ela foi morta. Na época, o Estado de direito se fez presente, com Exército, Força Nacional, Federal, e tudo, mas depois todo mundo sai de fininho. Temos receio de que isso ocorra de novo”, alerta o pároco, que vive no município de Anapu (25 mil pessoas) desde 1989. “Estamos desassistidos de tudo. O semestre vai terminando e quatro professores ainda não chegaram. Por causa de Belo Monte, o (consórcio) Norte Energia deu uma ‘guaribada’ numa escola, mas a outra está caindo. O Enem está chegando e falta professor de português. Saímos com esperança (de Brasília), mas na volta a gente costuma pisar no chão da realidade”.

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