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Cena urbana: intimidação policial

A violênca policial não tem local certo para acontecer. Tome cuidado

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São duas da manhã e Sílvio * está voltando de carro para casa após uma noite de trabalho no restaurante em que é gerente. O sinal abre e ele acelera. Está atravessando o cruzamento em baixa velocidade, quando uma viatura de polícia atravessa a rua a 100 km/h e bate em sua lateral. O policial não estava em perseguição. Apenas achou que, como agente da lei, não precisava respeitar o sinal vermelho nem os limites de velocidade. Ambos os carros ficaram muito danificados e o conserto, sem dúvida, sairá caro. Mas, tudo bem. O policial conversa com Sílvio, muito cortês e educado. Afinal, a culpa era dele, admitiu prontamente e não havia com o que Sílvio se preocupar. Dirigem-se então à delegacia para registrar o BO. Na delegacia, porém, a história do policial muda completamente. Foi Sílvio que atravessou o cruzamento em alta velocidade, sem respeitar o farol vermelho. A culpa era dele, claro. Afinal, o agente da lei, encarregado de proteger a nós, cidadãos de bem, não iria cometer uma infração de trânsito tão banal, todo mundo sabe disso.

É claro que se Sílvio acionar o seguro, a perícia provará rapidamente que ele era inocente e que a versão do policial era falsa. Por isso mesmo, ainda na delegacia, outros policiais se aproximam dele e o advertem: “É melhor você confirmar a história do nosso colega. Lembre-se: a gente sabe aonde você mora e aonde trabalha.” A lógica é simples: se Sílvio não confirmar a história e for inocentado, o policial terá que pagar o conserto da viatura do seu próprio bolso, pois a Polícia não irá reembolsá-lo por um estrago se ele não estava em perseguição. Ao contrário, se corroborar a mentira, o policial não terá que desembolsar um tostão. A viatura é segurada justamente para casos em que civis imprudentes atravessam o farol vermelho e batem no carro de um nobre policial cumprindo seu dever.

Mas Sílvio não é um sujeito covarde e não se deixa intimidar. Aciona o seguro assim mesmo.

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Dias depois, está novamente voltando de madrugada para casa, após trabalhar a noite toda no restaurante. Está a pé, pois o carro encontra-se na oficina. Eis que então uma viatura de polícia pára ao seu lado e um policial que nunca viu mais gordo dirige-se a ele:

- Senhor Sílvio?

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- Sim, sou eu.

- Então foi o senhor que bateu na viatura do nosso colega, não é?

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E a intimidação prossegue. Fica claro que todos os policiais da delegacia estão unidos contra ele. Não vão permitir que seu colega assuma o prejuízo de um acidente, se a responsabilidade pode facilmente ser empurrada a um mero civil, um nada, um cidadão de segunda classe.

Sílvio é liberado e segue para casa. Está assustado, pensa em fazer o que os policiais exigem: declarar-se culpado de um acidente do qual é vítima. Porém, já havia acionado o seguro e, a esta altura a perícia já havia provado sua inocência. Não havia o que fazer e teria que assumir o risco da intimidação policial.

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Felizmente, a intimidação era fogo de palha e nada demais aconteceu. Sílvio pagou a franquia do seu seguro e o policial teve de arcar com a o conserto da viatura. O pior não acontecera. Mas o medo permanece. E permanecerá. Afinal, os policiais continuam sabendo aonde ele mora e aonde trabalha.

Esse é apenas mais um exemplo das cenas de intimidação e violência policiais que acontecem cotidianamente em São Paulo. E não acredite você que essas cenas ocorrem somente na periferia. Não, não. Os acontecimentos relatados acima aconteceram em plena Higienópolis, bairro nobre da cidade. A violênca policial não tem local certo para acontecer. Tome cuidado.

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