Carta ao povo brasileiro

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As recentes mobilizações do povo brasileiro tecem, em suma, justas críticas à polícia e aos políticos. Estou hoje na Câmara Federal, mas vim do outro lado do balcão.

Creio que a maioria dos brasileiros conhece a batalha que travei na Polícia Federal contra a corrupção.

Foi através de operações que comandei, que o banqueiro bandido condenado Daniel Dantas, Celso Pitta, Naji Nahas, Paulo Maluf, Law Kin Chong e muitos outros nomes de peso foram parar na cadeia por terem praticado crimes de corrupção e outros.

No entanto, forças com interesses contrários impediram que eu desse prosseguimento à minha luta como delegado. Por isso, busquei meu espaço no Congresso, onde eu teria uma chance de lhe dar continuidade.

Mas como todos sabem, a tarefa não é fácil, é quase inglória. Brasília não é um ambiente onde as coisas acontecem pelas vias que esperamos e gostaríamos. Os caminhos nem sempre são retos, e muitas vezes adentram pelos subterrâneos das negociatas.

Confesso que me senti muito solitário e impotente diante do quase impenetrável e imutável esquema ali enraizado.

No entanto, os últimos acontecimentos que se espalharam por todo o país me dão um novo alento. Sinto que não estou mais tão sozinho nessa cruzada e que o povo acordou para uma realidade que pode, sim, ser mudada.

Parabenizo às centenas de milhares de brasileiros que tiveram a coragem de protestar nas ruas, e os milhões que através das redes sociais, se uniram dando voz às suas indignações e seus anseios.

Lamento apenas o oportunismo de alguns infiltrados que iniciaram e alimentaram um clima de violência e vandalismo que tanto prejuízo traz para todos.

Mas principalmente, lamento demais a insensibilidade de alguns governantes, em especial do estado de São Paulo, que permitiu ataques brutais e sem sentido contra os manifestantes. As cenas de barbárie exibidas nos veículos de comunicação e nas redes sociais são tão injustificáveis que bastou uma mudança de postura do Governador, pressionado pela opinião pública, para que a violência deixasse de exigir.

Nossos policiais são gente como a gente; também tomam ônibus e metrô, também dependem do sistema público de saúde, e seus filhos também frequentam o tão moribundo sistema escolar. E talvez mais do que todos, temem a falta de segurança em que vivemos, pois são duplamente alvos dos bandidos, como cidadãos e como defensores da lei.

Não se deve cobrar desses heróis anônimos as atitudes que lhe são impostas por seus mandantes, que em última instância se apoiam na insensibilidade dos que despacham no conforto de seus gabinetes bem decorados e convenientemente longe do front.

Nossa força policial merece ser valorizada e recompensada com salários mais adequados, com equipamentos modernos e em número suficiente, com treinamento eficaz e liderança técnica e não permeável aos interesses meramente politiqueiros.

Mais uma vez felicito a todos os brasileiros que se fizeram ver e ouvir, com vaias, brados de ordem, cartazes, gestos e muita união.

Neste momento, sinto-me orgulhoso de ser brasileiro, e feliz por ter a oportunidade de unir-me a este sentimento que mobilizou toda uma nova geração e que contagiou as demais.

Aos líderes e participantes mais ativos destes movimentos em todo o Brasil, e a todos aqueles que, como eu, simpatizam-se com esse novo despertar, lembro que têm em mim um aliado, e uma voz em Brasília. Contem comigo para ombro a ombro, caminharmos firme pacificamente em direção a um Brasil com mais liberdade, mais justiça, mais fraterno e igual.

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