Bueiros do rio, calor que (nos tucanos) provoca arrepio

Na Cidade Maravilhosa, tampas de bueiros voam pelos ares. Em seguida, labaredas mortíferas lambem quem estiver passando



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“Quando as coisas ficam estranhas, usem o fato a seu favor.” (Hunter Thompson, jornalista)

Na Cidade Maravilhosa, tampas de bueiros voam pelos ares. Em seguida, labaredas mortíferas lambem quem estiver passando. Por acaso não morreu ninguém ainda. Mas justificada paranoia tomou conta dos cariocas. Um cidadão que escapou das chamas disse num jornal que pôs as mãos na cabeça com medo que o míssil o atingisse.

O doce balanço a caminho do mar está mesmo a perigo. E o grosso da mídia, com espírito de ginasiano descolado, fica brincando até que uma daquelas tampas de ferro caia no cocuruto de alguém.

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Todos – em artigos, crônicas, entrevistas, reportagens – passam ao largo do fato fundamental. A origem dessas explosões é a privataria. A Folha acena inclusive com “forças estranhas” em título de primeira página. Lá dentro ficamos sabendo que é em cima de nota oficial da Light sobre suspeitas de sabotagem. Estamos caindo no perigoso terreno da galhofa.

O geógrafo Moacyr Duarte, um dos maiores especialistas em riscos ambientais e tecnológicos do país, bem que tentou dar umas pinceladas na questão do papel da privataria na série de explosões em entrevista à GloboNews, mas seus entrevistadores – Carlos Monforte e André Trigueiro – fizeram cara de paisagem. Televisão é fábrica de segundos, sabe como é.

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É como negar o papel do Guardian na implosão do News of the World, a jóia da coroa do império Rupert Murdoch. (Palmas para a imprensa de verdade.) Foi preciso que um repórter do Guardian, o mesmo jornal que deixou mr. Murdoch pelado, viesse ao Rio em 1999 para entendermos melhor o que se passa hoje. Trata-se do jornalista americano Greg Palast, autor de A melhor democracia que o dinheiro pode comprar.

“Recebi um cartão postal do Rio completamente às escuras. Os cariocas enviaram-no em protesto contra a Light, a companhia de eletricidade da cidade, que estava sendo chamada de ‘Dark’.

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“O governo brasileiro privatizou a Light do Rio vendendo-a para a Eletricité da França e para a Reliant, a companhia de Houston amiga de Bush. A Reliant e seus parceiros prometeram melhorar o serviço do Rio – e demitiram 40% da mão-de-obra da empresa.”

Um parêntesis: o próprio FHC disse em entrevista recente que o açodamento de José Serra levou-o a acelerar o processo.

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“Infelizmente, o sistema de eletricidade do Rio não está totalmente mapeado. Os funcionários da Light sabiam a localização das redes e transformadores apenas de cabeça. Quando foram mandados embora pelos novos proprietários franco-texanos, levaram junto seus mapas mentais. Diariamente um novo bairro ficava às escuras. Os donos estrangeiros culparam o El Niño, um fenômeno meteorológico no oceano Pacífico. O Rio de Janeiro fica às margens do Atlântico.”

No balanço, o jornalista constata que a Reliant e os parisienses tiveram um lucro fabuloso com a escuridão carioca, de nada menos que 1.000% em seus dividendos, e o preço das ações da Light do Rio subiu de 300 para 400 dólares.

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São Paulo ainda não chegou ao estágio das explosões. Ainda é um vagalume quando chove ou venta um pouco mais. Quando isso acontece, o governador Geraldo Alckmin diz impunemente que a americana AES-Eletropaulo não tem capacidade para agir em casos de emergência. Ninguém na grande imprensa vai lembrar que disso ele entende. Como coordenador das privatizações do governo Covas, Geraldo Alckmin conduziu a desastrosa venda da Eletropaulo.

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