Bresser-Pereira: PL 4.330 aponta para 'mexicanização' do Brasil
Segundo o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, o comportamento do Congresso Nacional na condução de pautas que mexem em direitos dos trabalhadores aponta para “um retrocesso social”: “O que o Congresso parece estar querendo é que nós caminhemos na direção do México. Será que os brasileiros vão concordar com isso? Tenho minhas dúvidas, espero que não”
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por Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual
São Paulo – O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira disse a jornalistas na noite de terça-feira (28) que o comportamento do Congresso Nacional na condução de pautas que mexem em direitos dos trabalhadores aponta para “um retrocesso social”. “O que o Congresso parece estar querendo é que nós caminhemos na direção do México. Será que os brasileiros vão concordar com isso? Tenho minhas dúvidas, espero que não”, afirmou a jornalistas ao ser perguntado sobre a aprovação, na Câmara, do PL da Terceirização (4.330), antes da palestraBrasil: crise e construção política, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp).
Em sua opinião, como o governo do PT “tentou, mas infelizmente fracassou” na tentativa de “fazer um grande acordo social entre empresários e trabalhadores”, os empresários optaram por aguçar a luta de classes, buscando achatar os salários dos trabalhadores e ampliar a precarização das relações e das condições de trabalho. “Em outros termos, baixar o salário através da flexibilização das leis trabalhistas.”
Para o economista, em vez de retirar direitos, o grande acordo social passaria por ajustar a taxa de câmbio, depreciando a moeda nacional até um valor de cerca de R$ 3,30 em relação ao dólar americano, para alavancar a indústria do país.
“Ao invés de depreciar a moeda (o real) propriamente dita, elevá-la para R$ 3,30, baixam os salários, causando desemprego. É para isso que essa lei (PL 4.330) aponta, para o que eu chamo de mexicanização do Brasil. O México depois de fazer o acordo com os EUA passou por um processo de redução brutal dos salários reais.” Ele defende também que o governo deprecie a moeda nacional para tentar reverter a “tragédia” da desindustrialização do país.
Ministro da Fazenda do governo José Sarney em 1988, fundador do PSDB, ministro de Fernando Henrique Cardoso em duas pastas (Administração Federal e Reforma do Estado; e Ciência e Tecnologia), Bresser-Pereira declarou voto em Dilma Rousseff no segundo turno de 2014.
Em sua opinião, o valor de R$ 3,30 por dólar é uma taxa de câmbio fundamental para o que chama de “equilíbrio industrial”, mas, para ele, “infelizmente”, a depreciação do real durante a crise é passageira.
O ex-ministro disse estar desenvolvendo uma teoria sobre “macroeconomia estruturalista do desenvolvimento”, segundo a qual há uma tendência à sobrevalorização “cíclica e crônica da taxa de câmbio: ela se deprecia violentamente nas crises, depois se aprecia, e fica cronicamente apreciada por vários anos. E então tem uma crise nova e deprecia de novo”. Ele diz que, pelo fato de a crise brasileira ser uma “crisesinha”, o real deve voltar a valorizar frente ao dólar.
De acordo com Bresser-Pereira, “a taxa de câmbio que impera no Brasil é a taxa satisfatória às commodities”. “Imagino que essa taxa de câmbio é coisa de R$ 2,70 hoje, e deve voltar mais ou menos a esse nível, o que é uma tragédia para o Brasil”.
Por outro lado, acredita que a taxa Selic vai continuar subindo, embora a presidenta Dilma tenha tentado “corajosamente” reduzi-la em seu primeiro mandato. “Acham que, para combater a inflação, precisa aumentar os juros. Mas o controle da inflação está sendo feito pelo ajuste fiscal – o qual sou a favor. Não há razão nenhuma para fazer (reduzir a inflação) através dos juros, que já são muito altos. O motivo fundamental do ajuste fiscal é recuperar a saúde fiscal do país. Mas na hora em que você aumenta os juros, o Estado brasileiro passa a gastar muito mais”, alega Bresser.
Ele disse estar convencido de que os rentistas brasileiros, que ganham com os juros altos, “não são apenas os muito ricos, mas também uma classe média rentista"."Eles têm uma ‘senhoriagem’ sobre o PIB, de 5% a 6%. Se não tiverem de 5% a 6% para eles, a coisa não funciona. Eles têm uma quantidade enorme de economistas e financistas a seu serviço.”
"Perspectivas pouco entusiasmantes"
Na palestra, o economista afirmou que não acredita em impeachment da presidenta Dilma, mas teme que o país esteja vivendo um "vácuo de poder" semelhante aos ocorridos nos períodos 1960-1964 e 1987-1990.
Disse também que nos 12 anos de governo do PT houve distribuição de renda, mas o país, a rigor, não cresceu, o que "deixou a classe média muito irritada, e ela caminhou para a direita firmemente". Segundo ele, passados 12 anos, o Brasil não voltou a crescer de maneira consistente e a crise da indústria é prova disso.
Na opinião do ex-ministro, o cenário ainda traz um dado novo: "há uma nova direita jovem nas redes sociais fazendo estragos muito grandes e a esquerda está sem projeto, com essa crise do PT". Para ele, nesse cenário, "as perspectivas políticas do Brasil não são de ditadura, não se preocupem, mas são pouco entusiasmantes".
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