#Blitz: entre o lícito e o correto

Anunciar blitz pelo twitter não é crime previsto em lei, mas trata-se, sem dúvida, de uma atitude criminosa, de apoio ao criminoso



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Um caminhoneiro perdeu o controle de uma carreta e causou acidente envolvendo outros três veículos em plena rodovia, esta semana, na Paraíba. Em São Paulo, há alguns dias, dois rapazes em um carro de passeio colidiram com outro automóvel onde estavam pai e filho (65 e 20 anos), que tiveram o veículo arremessado contra uma árvore e morreram no local. Detalhe 1 – os dois condutores causadores dos acidentes, que nada sofreram, foram autuados por embriaguez; detalhe 2 – ambos os acidentes aconteceram em plena luz do dia.

Álcool, direção e período diurno. Dia desses um debate via internet acendeu uma discussão nesse sentido – que deveria ser estéril, engavetada, diga-se de passagem, mas vem semeando sentenças de violação do bom senso, prejuízos e morte. A celeuma incidiu sobre uma blitz realizada em plena luz do dia. O resultado, óbvio: mensagens via twitter anunciando o local da fiscalização policial. Como já foi dito neste espaço, anunciar blitz pelo twitter não é crime previsto em lei, mas trata-se, sem dúvida, de uma atitude criminosa, de apoio ao criminoso – seja ele um motorista embriagado ou um bandido trafegando com um carro roubado ou com alguém sequestrado no porta-malas, por exemplo (fatos, inclusive, que já aconteceram).

O foco sobre o horário da blitz, assim, tornou-se alvo. “Fiscalização a essa hora do dia não é para pegar bêbado, é para pegar trabalhador”, vociferou, dedilhando freneticamente o teclado do notebook, um tuiteiro que apóia o movimento pró-bandidagem. Eis acima dois casos que desmentem a tese no mínimo ignorante de quem pensa assim. Ademais, se o trabalhador parado na fiscalização estiver com documentação, veículo e níveis etílicos em ordem, o que temer? O trabalhador de bom senso deveria agradecer por correr risco um pouco menor de acabar tendo seu carro arremessado contra uma árvore e, mais ainda, com a família dentro do automóvel.

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Falta luz, de fato, não para a prática policial, mas para a noção de respeito à vida. O mais surpreendente é descobrir quem são as pessoas motivadas a avisar sobre fiscalizações que têm como meta diminuir o número de acidentes nas pistas do País. Os perfis vão desde universitários a profissionais liberais. Quando se autodefinem, porém, os tuiteiros anti-blitz são contraditórios: “Uma mulher casada e feliz, que crê em Deus”, “Pai, filho, marido”, “Casado e de bem com a vida” “Admiradora da vida”, “Família e Deus acima de tudo” entre outras frases bonitas são encontradas no mesmo espaço onde se anuncia “blitz na avenida ‘X’, em frente ao local ‘Y’. Evite!”.

A incongruência das ações mais parece inocência – ou ignorância – do que má fé. Afinal, não há como pensar que pessoas felizes, religiosas e a favor da vida estejam conscientes da possibilidade de contribuir, através de seus 140 caracteres, com pessoas como o motorista da carreta e do condutor que arremessou pai e filho rumo à morte. Por outro lado, não há inocência que resista a declarações do tipo “se não gostam do jeito que eu dirijo, saia da calçada!” ou “se acha ruim porque tuitamos blitz faça uma passeata em Brasília”.

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A maior alegação de quem fomenta o anúncio de fiscalizações policiais via internet, em tempo real, é a de que não se trata de crime: “É necessário que o fato típico seja ilícito para existência do crime. Ausente a ilicitude, não há crime.” Palavras bem encadeadas e mal avaliadas. O povo fala e escreve sobre amor à vida, a família e a Deus, mas parece entender pouco do assunto, na prática. Esses bem deveriam lembrar o texto que diz “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm”. Fica a dica.

Henrique França é jornalista, mestre em Ciência da Informação e professor universitário. Autor do blog #CotidianaMente

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