Até o sol é brasileiro

A verdadeira independncia brasileira deveria ser comemorada hoje, dia em que os baianos expulsaram de vez os colonizadores



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Elieser Cesar_247 - Que ninguém venha com aquela velha história de que a Independência do Brasil já estava consolidada desde 7 de setembro de 1822, quando o Príncipe Regente, Dom Pedro I, soltou o famoso grito às margens do rio Ipiranga - segundo às más línguas acometido de diarréia e que, na Bahia, a libertação chegou com um quase ano de atraso. Foram os baianos que escorraçaram os portugueses definitivamente do Brasil, obrigando o brigadeiro Inácio Madeira de Mello a voltar para Portugal acompanhado de cerca de 12 mil patrícios. Como se diz em bom baianês, em solo baiano, Madeira de Mello e seus comandados levaram madeirada.

Para comemorar o feito histórico a Bahia amanhece, neste sábado, verde e amarelo. Sua Independência foi conquistada na madrugada de 2 de Julho de 1823, quando as tropas brasileiras, formadas por soldados, índios, escravos, vaqueiros e mulheres, como Maria Quitéria e Maria Felipe, entraram vitoriosas em Salvador, depois de muitos combates na capital e nas vilas do recôncavo., Pela miscigenação de seus heróis e suas diferenças sociais flagrantes, o 2 de Julho, muito mais do que um desfile militar, é uma festa popular, uma espécie de carnaval-cívico em que todos - adultos, velhos, crianças, políticos, empresários e gente do povo - participam e se divertem sem trio elétrico, camarotes e as excludentes cordas, como ocorre no carnaval tradicional.

Do bairro da Lapinha ao Campo Grande, em Salvador (o trajeto percorrido pelos carros do Caboclo e da Cabocla, estátuas símbolos da participação popular na luta pela Independência da Bahia), a festa não é de ninguém porque é de todos. Em ano pré-eleitoral, os políticos até que tentam roubar a cena, mas acabam ofuscados pelo entusiasmo de milhares de pessoas que saem às ruas com motivos verde e amarelo, sambando, cantando e bebendo. Para reforçar o verde-amarelo, as fachadas e varandas de muitas casas são decoradas com flâmulas, palhas de coqueiro, bandeirolas, balões e bolas de assoprar comas as duas cores típicas da nacionalidade.

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Os gajos prendiam fazer da Bahia e do nordeste o trampolim para a reconquista do Brasil, mas bateram de frente com a tenaz resistência dos baianos.. Como explica o historiador Ubiratan Castro de Araújo, membro da Academia de Letras da Bahia e diretor-geral da Fundação Pedro Calmon, órgão da Secretaria Estadual de Cultura: "A Bahia foi o cenário do afrontamento entre dois partidos antagônicos, o da recolonização, dos portugueses, e da Independência, dos brasileiros".

De fato, em 19 de fevereiro de 1822, numa tentativa de reverter o processo de Independência do Brasil, Madeira de Mello expulsa as tropas brasileiras de Salvador e assume como o ditador o Governo da Bahia. Expulsos da capital, os brasileiros se refugiam no recôncavo, principalmente na Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, onde organizam a reação. A contraofensiva vem com a participação do povo na luta. Ainda em Cachoeira, o coronel Joaquim Pires de Carvalho reúne tropas e armamentos e entrega o comando ao general Pedro Labatut.

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Em vão, Madeira de Mello tenta fechar o cerco pela Ilha de Itaparica e Barra do Paraguaçu, mas é rechaçado e se refugia na capital. Sob o comando do coronel José Joaquim Lima e Silva, o exército brasileiro, com ajuda da marinha, aperta o cerco sobre Salvador. Com o abastecimento de víveres restrito, cercado por terra e mar, Madeira de Mello acaba se rendendo. A tropa vitoriosa entra em Salvador pela Estrada das Boiadas. Esse caminho será refeito, mais uma vez, neste sábado, a partir das 9 horas, saindo Lapinha, passando pelas ruas do Centro Histórico, como a Ladeira do Boqueirão, o Carmo e o Pelourinho, ganhando o Terreiro de Jesus e chegando ao Campo Grande, no centro da cidade, onde as estátuas do Caboclo e da Cabocla ficam até o dia 5. Mais baianos crédulos aproveitam a oportunidade para chorar suas mágoas aos pés do Caboclo, como se se tratasse de uma figura mística, como um orixá ou uma entidade de umbanda.

Como sempre com intensa participação popular, num folguedo de brancos, negros e mestiços, ricos e pobres. Porém, como a festa é mesmo de todos, políticos e autoridades também participam das comemorações. Em ano pré-eleitoral, os pré-candidatos a prefeito de Salvador e os partidos políticos aproveitam o cortejo para testar a popularidade e aferir o humor do eleitorado. Já anunciaram presença na festa dos principais políticos de olho gordo no Palácio Thomé de Souza, Nelson Pellegrino (PT) João Leão (PP), Alice Portugal (PCdoB), o vice-prefeito Edivaldo Brito (PTB), ACM Neto (DEM), Marcos Medrado (PDT), Antônio Imbassahy (PSDB) e o vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima. Com charangas e batucadas, os partidos políticos fazem uma festa à parte, independentemente de vaias ou aplausos.

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Pelo caráter nitidamente popular do corejo, a arquiteta e mestre em História, Socorro Targino Martinez, autora do livro Dois de Julho: a História da Festa, define o desfile como "patrimônio intangível, cultuado e preservado por todos os que se orgulham da sua ancestralidade e demonstram o engajamento em reivindicações comunitárias, patrióticas e amorosas". Na Bahia, o 2 de Julho é, acima de tudo, a festa da história, o verdadeiro carnaval do povo.

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