Assalto ao trem pagador é só a ponta de um iceberg

Prisão de José Francisco das Neves, o “Juquinha”, pode levar a peixes maiores; no governo, ele foi protegido de José Sarney, do PMDB, e Valdemar Costa Neto, do PR; até Ideli Salvatti, do PT, tentou segurá-lo na “faxina”; superfaturamento na Norte-Sul alimentou campanhas eleitorais e o escândalo poderá rivalizar com o caso Cachoeira

Assalto ao trem pagador é só a ponta de um iceberg
Assalto ao trem pagador é só a ponta de um iceberg (Foto: Edição/247)


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247 – Estava inspirado o delegado da Polícia Federal que batizou como “Trem Pagador” a operação que, na manhã de ontem, prendeu, em Goiânia, José Francisco das Neves, o “Juquinha”, que, entre 2003 e 2011, todo o governo Lula e primeiro ano de Dilma Rousseff, presidiu a Valec, a estatal responsável por projetos ferroviários no Brasil. O nome da operação é uma referência a uma das melhores produções do cinema nacional: “O Assalto ao Trem Pagador”, dirigida por Roberto Farias, em 1962. Na trama, um grupo de criminosos articula o assalto ao trem pagador da Central do Brasil, mas eles também combinam não gastar o fruto do crime antes do primeiro ano, para não levantar suspeitas. Antes disso, acabam caindo em armadilhas.

“Juquinha”, ao contrário dos personagens do filme, não tomou os cuidados em evitar os chamados “sinais exteriores de riqueza”. Construiu três mansões de luxo no condomínio Alphaville Ipês, o mesmo em que Carlos Cachoeira foi preso, e adquiriu algumas das melhores fazendas de Goiás. Nos oito anos de governo, o patrimônio declarado dele e da esposa saltou de R$ 1,5 milhão para R$ 14 milhões, mas a Polícia Federal estima que os bens comprados pelo casal – e em alguns casos doados aos filhos – valham entre R$ 60 milhões e R$ 100 milhões.

As investigações começaram no ano passado, quando o Tribunal de Contas apontou superfaturamento de, pelo menos, R$ 100 milhões nas obras da Norte-Sul, que ligam o Maranhão a Goiás. Idealizada no governo de José Sarney, a ferrovia foi alvo de muitas críticas, mas é uma obra necessária, que tem levado desenvolvimento para fronteiras agrícolas do Maranhão, do Piauí, de Tocantins e de Goiás.

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O problema é o superfaturamento. E é aí que entram as empreiteiras. Na Operação Trem Pagador, foram também citadas as construtoras Constran e EIT. A Constran pertenceu a Olacyr de Moraes e foi comprada por Ricardo Pessoa, ex-diretor da OAS. A EIT, que tem sua origem no Ceará, é tida como uma empresa próxima a Fernando Sarney. Tanto a EIT quanto a UTC, outra construtora de Ricardo Pessoa, estão juntas no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Coincidência ou não, estão na mira de Fernando Cavendish – o dono da Delta tem plantado notícias na imprensa sinalizando que as empresas de Ricardo Pessoa usam a mesma rede de laranjas da Delta.

Hábil operador político, “Juquinha” chegou à Valec por indicação do ex-vice-presidente José Alencar. No PR, ele se aproximou muito do deputado Valdemar Costa Neto (PR/SP), um dos principais operadores do mensalão, e conseguiu garantir seu espaço no Ministério dos Transportes. No governo, ele era tido como “metade Valdemar”, “metade Sarney”. Ou seja: defendia interesses do PR e do PMDB na área ferroviária. E nunca foi mistério, em Brasília, que ele também atuou na arrecadação de recursos para campanhas eleitorais.

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No início de 2011, quando veio a “faxina” no Ministério dos Transportes, “Juquinha” dizia em Goiânia que o problema da presidente Dilma Rousseff era com o ministro Alfredo Nascimento, não com ele. Reportagens da época registraram que até a ministra Ideli Salvatti, do PT, entrou em cena para tentar preservá-lo. Ele teria caído apenas porque o PR se fechou em torno de Alfredo Nascimento.

Sorte do governo Dilma. Se estivesse ainda no governo, “Juquinha” estaria cuidando do projeto do trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo. Coisa pequena. Uma “coisica” de R$ 35 bilhões.

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