As outras faces do Pelô

Declarado patrimnio mundial em 1985 pela Unesco, o Centro Histrico de Salvador no mais aquele; hoje, sem turistas, o paraso das baratas, dos ratos e dos usurios de drogas



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Matheus Morais_ Bahia 247 - Acredite, o Centro Histórico de Salvador está entre os monumentos históricos de 13 países iberoamericanos em risco de deterioração. O levantamento foi feito pela organização World Monuments Fund (fundo mundial para monumentos, na sigla em inglês, WMF), e divulgado pelo jornal Folha de São Paulo desta quinta-feira (13). Na América Latina, além da capital baiana, Cuba, Argentina, Bolívia, Colômbia, Guatemala, Haiti, México, Panamá, Peru e República Dominicana estão com o patrimônio histórico sob ameaça.

Intrigada com a informação, a equipe do Bahia 247 foi até o Pelourinho para ver o que está rolando de verdade. E m campo: eu (Matheus Morais, repórter), a repórter fotográfica Karol Azevedo e o produtor Haroldo, fomos dar um rolé e descobrimos um Pelô diferente do que muita gente está acostumada a ver: ruas desertas, bares vazios, moradores de rua, pedintes, animais aos montes e pouquíssimos turistas... Abaixo o relato do nosso passeio pelas ruas do centro histórico na noite da sexta-feira (14). Venha com a gente!

Pelourinho de pedintes, guardadores de carro e moradores de rua

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Logo que chegamos ao Pelourinho, um impasse: dois guardadores brigavam para ver quem conseguia tomar conta do carro da equipe. Estacionamos o veículo no Terreiro de Jesus e fomos logo comer aquele velho e bom acarajé para matar a fome (com camarão, cada um sai a R$ 5). Enquanto devorávamos o bolinho, avistamos quatro moradores de rua dormindo em frente à Catedral Basílica, (começava a noite e o sono deve ter batido), ao tempo em que a baiana de acarajé reclamava sem parar. "Aqui turista só quer tirar foto, chegar perto do tabuleiro e olhar, - comer que é bom, nada! Quem consome são os baianos, os que vem aqui no dia a dia...", resmungava.

Mais adiante um pedinte nos aborda e pede dinheiro para comer. "Estou aqui desde cedo, só quero cinquenta centavos para lanchar, tô com fome". O homem só vai embora quando consegue algumas moedas da nossa equipe.

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Pelourinho sem turistas

Caminhando, chegamos ao Largo de São Francisco (local cheio de restaurantes para turista ver e consumir), o que mais se nota é a falta dos turistas nos restaurantes. Em um deles, um cantor toca seu violão solitariamente enquanto um casal bebe uma cerveja, a plateia é composta basicamente por mesas e cadeiras vazias, garçons a espera de clientes e pedintes que observam de longe a falta de movimento.

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Já na rua Gregório de Mattos, seis percussionistas mirins tocam seus tambores para uma dúzia de turistas desajeitados que insistem em querer acompanhar o ritmo da batida, mas o máximo que conseguem é arrancar gargalhadas de um vendedor ambulante. O som não ecoa tão forte, afinal são apenas meninos tocando para pouca gente. Nem parece aquela rua em que, por conta da quantidade de visitantes, era difícil até de se caminhar por ali...

Mais adiante, no Largo do Pelourinho, em frente à Fundação Casa de Jorge Amado (local onde são realizados diversos shows) a visão chega a ser deprimente: apenas dois homens sentados na escadaria conversam, enquanto uma baiana de acarajé e um vendedor de cerveja fazem planos para o final de semana. Poucas pessoas circulam no lugar que já teve status de cartão-postal para turistas brasileiros e estrangeiros.

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Na subida para a antiga Faculdade de Medicina da Bahia, vendedores de quadros com motivos baianos recolhem seu material. O paradeiro é geral, são 19h43, em plena sexta-feira. Vendedores ficam na porta das lojas esperando pelos compradores, que insistem em não aparecer, os turistas desapareceram do Pelô, as ruas estão vazias, o caminho está aberto!

Pelourinho do pagode, do mijo, da fedentina generalizada, do perigo...

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Já na Praça da Sé, a fonte luminosa está desligada (só funciona quando há algum evento especial). Crianças andam de skate e brincam com carrinhos de controle remoto. Do outro lado da rua, a movimentação fica por conta de um grupo que se diverte ao som de pagode num volume altíssimo: a música vem de um som automotivo, que com o porta malas aberto garante a diversão dos amigos. Uma loira (a la Carla Perez) mais parece uma dançarina profissional, tamanha sua desenvoltura e intimidade com as coreografias.

A iluminação do local é péssima e a Polícia Militar vigia tudo de longe. O cheiro de urina contamina o ambiente que com o passar do tempo fica insuportável.

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Enquanto eu e Haroldo observamos o movimento, Karol fotografa o local e é seguida por um homem de camisa branca que logo a escolhe como vítima. Ao perceber a presença do rapaz, nossa fotógrafa caminha apressadamente em nossa direção, o suposto ladrão logo nos cumprimenta e dispara, "Tudo beleza, companheiros". Vai embora, nosso primeiro susto na noite do centro histórico.

Pelourinho obscuro

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Ainda na Praça da Sé, resolvemos entrar num beco para fotografarmos um amontoado de lixo no meio da rua. A rua estava bem iluminada, só que devidamente demarcada. Descemos e demos de cara com um senhor que logo travou um diálogo com nossa equipe.

- Mais em cima, lá pra cima - disse.

- Mais pra cima o quê, senhor? - questionou Haroldo

- Pelourinho é mais pra cima, aqui não... - respondeu o homem.

- Só queremos fotografar aqui embaixo – explicou nosso motorista.

- Então fique aí e depois não diga que não avisei, tô dando grande a ideia – ameaçou

Neste momento, avistamos mais abaixo um policial com uma arma na mão revistando um rapaz. Foi tudo muito rápido, eles logo entraram noutra rua e os perdemos de vista. Pouco tempo depois, um menino com os cabelos pintados de loiro se aproximou, estava visivelmente drogado. Nos afastamos. Bem que fomos avisados.

Pelourinho dos bichos

Por onde quer que você ande no Pelourinho, haverá sempre um gato ou cachorro de rua a sua espera: nas ladeiras e em frente aos restaurantes, próximo às lixeiras, nas valas, próximo aos vendedores ambulantes, eles nunca dão sossego. Ainda na Praça da Sé, numa grande vala podia-se contabilizar de quatro a sete bichanos, num verdadeiro criatório a céu aberto, todos se alimentando de resto de comida ou lixo entulhado em sacos. Os garçons e maitres ficam desesperados querendo espantar os bichinhos, mas acredite: eles estão em superioridade numérica em comparação aos turistas. Qualquer sanduíche que você comprar, lembre-se sempre – é bom deixar um pedaço para o bichaninho...

Baratas também fazem a festa nas ruas do Pelô. Elas passeiam livremente pelas ruas, de preferência aquelas que estão amontoadas de lixo. Um nojo, só! Na mesma vala onde moram os simpáticos gatinhos, as baratinhas também dividem o aluguel do espaço, tudo muito democrático.

Pelourinho da iluminação porreta

Quem visitar o Centro Histórico de Salvador não poderá reclamar de escuridão. Com ruas bem iluminadas, o Pelourinho ganhou um ponto no quesito "claridade". Resta saber se os policiais estão enxergando isto. Em quase duas horas "batendo perna" pelo Pelourinho, constatamos a fragilidade de um ponto turístico: ruas desertas, restaurantes vazios, poucos turistas, falta de segurança, péssima estrutura, perigo, medo, delinquentes, usuários de drogas.

Antes que se deteriore, o Pelô precisa de ajuda, pede, clama, implora por socorro! O Centro Histórico de Salvador, área declarada como patrimônio mundial pela Unesco em 1985, está entregue às baratas e nem dedetização resolverá o problema!

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