Aposta incerta, mas necessária

A epidemia do crack é arrasadora e não respeita idade, cor ou classe social. Para quem vive uma situação limite, o momento é o agora e a internação compulsória pode ser a única saída



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Políticos, ativistas sociais e especialistas se dividem: a internação compulsória de dependentes químicos é uma medida autoritária e paliativa X a internação compulsória é uma política corajosa e necessária. A rede pública não está preparada para atender a tantos usuários, alfineta a maioria. As chances de recuperação são bem maiores para quem procura tratamento por vontade própria, alertam profissionais de saúde.

Alheia ao bate boca e aos discursos bem intencionados que acenam para condições ideais de atendimento, muita gente tem procurado ajuda para internar familiares. Mães que se recusam a ficar esperando por uma solução a médio ou longo prazo, enquanto assistem à decadência física e moral dos filhos, nas cracolândias. Filhos, pais e irmãos que não renunciam à esperança de resgatar pessoas queridas do inferno do crack.

Quem vive a dor e o desespero de ter um parente afundado no vício sabe muito bem que faltam vagas e profissionais especializados para um acompanhamento médico e psicológico adequado. Também tem consciência de que as chances de recaída são consideráveis, ainda mais quando o usuário é internado contra sua vontade. Mas quem já está perdendo um filho, uma irmã, pai ou amigo para o crack sabe, acima de tudo, que precisa correr contra o tempo. A internação compulsória é uma aposta incerta, mas é sempre melhor do que cruzar os braços.

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Autonomia e liberdade de decisão? A dependência química é uma doença compulsiva grave, um problema de saúde pública. O viciado em crack não consegue mais pensar nem responder por si mesmo. Na prática, já abriu mão da própria liberdade – e da sua dignidade – em nome da droga. Se o direito à liberdade é um dos direitos individuais fundamentais, segundo nossa Constituição, o direito à vida também é. Mais: a dignidade humana é garantida no art. 1º da Constituição como princípio fundamental da República Federativa do Brasil.

Mas e nós, que não somos especialistas no assunto, que não perdemos nossos filhos ou amigos para o crack, que conhecemos a realidade das cracolândias só pelos jornais e pela internet?

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O psiquiatra e psicanalista José Nazar, em artigo recente sobre a questão, lembrou bem: como cidadãos, como integrantes de uma sociedade sufocada pela violência e pelo tráfico, todos estamos no mesmo barco, todos fazemos parte dessa tragédia. "Uma cracolândia é algo que promove os piores sentimentos em todos nós. Ali, naquele amontoado de indivíduos em sofrimento existe um pedacinho de cada um de nós, de um dejeto, de uma escória, de uma desistência", resumiu o psiquiatra.

Vários municípios brasileiros já ensaiam seguir os passos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na capital carioca, a internação compulsória de menores em situação de rua já funciona desde 2011. Apesar das falhas no atendimento, as estatísticas oficiais comemoram: apenas um menor, em cada quatro atendidos, volta para a rua. Não há indicações sobre recaídas, mas é claro que elas existem. De qualquer modo, um primeiro passo já foi dado. Não é porque um paciente com câncer pode ter uma recaída que ele não vai receber o tratamento adequado.

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No Espírito Santo, os dados não são lá muito animadores. Os 535 leitos disponíveis na rede pública para pacientes de saúde mental e dependentes químicos estão longe do necessário para atender à demanda. Mas a Secretaria Estadual de Saúde tem se movimentado para ajudar a financiar mais 12 Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas – já existem 14 no Estado.

A epidemia do crack é arrasadora e não respeita idade, cor ou classe social. Para quem vive uma situação limite, o momento é o agora e a internação compulsória pode ser a única saída. Ao apoiar esse tipo de política, no entanto, não podemos de forma alguma relegar a segundo plano a cobrança por uma rede de saúde e de atenção social mais estruturada e eficiente.

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Muito menos a luta por uma política efetiva de combate ao narcotráfico.

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