A tragédia de Santa Maria e a omissão do poder público

Os mortos de Santa Maria (RS), os soterrados em Angra e na Barra da Tijuca (RJ), os mortos nas estradas esburacadas e mal sinalizadas são, todos eles, vítimas da negligência de agentes públicos



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A tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS) não é simplismente obra de um idiota. Foram muitas as causas que levaram à tragédia que vitimou 231 jovens. Não basta culpar o integrante da banda que acendeu o sinalizador no palco, sob um teto altamente inflamável. Ele foi um imbecíl? Sim. Mas não errou sozinho.

Por que os extintores não funcionaram?

Por que os bombeiros não fiscalizaram?

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Por que a prefeitura deu licença a uma casa norturna sem saídas de incêndio?

Por que os proprietários não fizeram saídas de emergência no estabelecimento?

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Por que o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB) declarou: "Mesmo com o alvará valendo ou não, a tragédia ocorreria de qualquer maneira"!?!

A tragédia de Santa Maria está ligada a tantas outras onde a negligência do poder público, somada à ganância de certos "empresários", fazem vítimas inocentes.

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Os mortos de Santa Maria clamam por justiça, assim como os nove moradores que em 22 de fevereiro de 1998, morreram soterrados no desabamento do Palace II, prédio na Barra da Tijuca (RJ), edificado pela Construtora Serzan, do finado deputado Sérgio Naya, que segundo o Ministério  Público desabou por ter sido construído com material de baixa qualidade.

As vítimas da boate Kiss foram lesadas na sua boa-fé, tal e qual as 55 que se afogaram em 31 de dezembro de 1988, pela superlotação e completo descompromisso dos proprietários do Bateau Mouche IV com a segurança de seus passageiros.

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Por que o Poder Público não interditou a boate Kiss, visto que não cumpria com nenhuma das normas de segurança para uma casa de shows?

Por que os órgãos responsáveis pela fiscalização permitiram a continuidade das obras do Palace II?

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Quem deu licença para o Bateau Mouche IV navegar naquele fatídico réveillon de 1989?

Há licenciosidade demais no poder público. Lobbys demais. É um secretário que "quebra um galho" para um dono de boate e faz vistas grossas às regras de segurança no estabelecimento. É a Câmara de Vereadores que amplia a zona de ocupação e permite construção em locais impróprios, como nas encostas da Ilha Grande, em Angra dos Reis, onde um  deslizamento fez vítimas aos hóspedes da Pousada Sankay e de outras sete casas, matando pelo menos 19 pessoas no réveillon de 2010. É o prefeito que se omite, que não assume as suas responsabilidades.

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O baixo valor dado à vida é a causa de todas estas tragédias. Uma insensibilidade total com o outro, um descompromisso total com a cidadania explicam por que um governo investe mais em publicidade do que na recuperação das rodovias.

Os mortos de Santa Maria (RS), os soterrados em Angra e na Barra da Tijuca (RJ), os mortos nas estradas esburacadas e mal sinalizadas são, todos eles, vítimas da negligência de agentes públicos que agem em conluio com a ganância de entes privados.

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Se a sociedade não exercer sua indignação outras tragédias ocorrerão. Áreas de expansão urbana continuarão sendo aprovadas em local impróprio para construção. Licenças continuarão a serem expedidas em locais inadequados para eventos. Motoristas continuarão morrendo nas estradas.

A tragédia no Rio Grande do Sul é um alerta para prefeitos, vereadores e governadores pensarem menos em favores e ajeitamentos políticos, e se dedicaram mais em preservar as vidas que estão sob a responsabilidade de seus mandatos.

Assim como nas tragédias aéreas é mais fácil pôr a culpa nos pilotos que morreram, é inadmissível que apenas um idiota pague a conta sozinho de uma cadeia completa de omissões dos mais diversos órgãos responsáveis por zelar da segurança do cidadão.

Marcus Vinícius é jornalista, economista, edita o Jornal Onze de Maio e o www.marcusvinicius.blog.br

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