A liberdade guia o povo?

Quaisquer rebeliões pela busca de melhorias quase sempre serão reprimidas pela força legal do Estado



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Em "Tempos Modernos", Charles Chaplin interpreta uma cena especialmente interessante. Membro da classe proletária, Chaplin está trabalhando em uma linha de produção quando um de seus colegas anuncia uma greve da categoria. Chaplin então sai da fábrica e lá fora encontra um grupo de grevistas realizando um piquete. A polícia logo chega armada até os dentes, e um simples descuido do divertido vagabundo protagonista (que arremessa sem intenção uma pedra no pescoço de um oficial) desencadeia uma violenta repressão. Charles é preso e a manifestação, dispersada.

Ainda que de modo bastante bem-humorado, essa cena em particular é uma ilustração viva de uma situação que existe desde os tempos do Absolutismo e que veio a se cristalizar no Brasil como um jargão no início da República Velha: "questão social é caso de polícia". Em outras palavras, quaisquer rebeliões pela busca de melhorias quase sempre serão reprimidas pela força legal do Estado.

A máxima chegou ao cúmulo da sua aplicação no primeiro semestre desse ano, na chamada "Marcha da Maconha". Uma caminhada com valores legítimos e que foi proibida pela justiça por ser estupidamente classificada como "uma apologia ao uso de substâncias ilícitas". A polícia desceu seus cassetetes, bombas "de efeito moral", balas de borrachas e demais instrumentos de caráter repressivo. Tudo com um único objetivo: calar uma voz que clama por ser ouvida.

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Disse Bill Clinton, a batalha contra as drogas é "uma guerra perdida". Seguindo essa linha de raciocínio, o mais correto a fazer não seria legalizar ao invés de reprimir? Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a maconha, especificamente, é menos letal que o álcool e o tabagismo, socialmente aceitas no país. Holanda, Portugal e a Irã estão entre a lista de países que legalizaram o uso da droga.

A questão, nesse caso, é muito menos complexa do que aparenta. Todo produto legal é tributado. Todo tributo é usado em algum tipo de melhoria para a população que o paga. Assim sendo, a maconha legalizada geraria impostos que poderiam ser gastos justamente com a recuperação dos dependentes químicos. Um processo cíclico e interminável? Talvez. Mas o que temos ganhado com as apreensões na fronteira? Para cada tonelada apreendida, tantas mais entram a cada dia no Brasil. A velocidade com que o uso se propaga, sobretudo entre adolescentes, não é acompanhada pela criação de clínicas de tratamento. Estamos perdendo dinheiro e perdendo vidas.

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A palavra democracia diz muita coisa. "Governo do Povo". Mas esse suposto governo só se confirma pela liberdade de expressão. Com toda certeza, descer cacetes e tentar abafar a questão não fazem parte da lista de ações libertárias. Mesmo que o que se pede supostamente vá de encontro "aos costumes da família e da boa moral", é preciso ouvir porque é para isso que delegamos o poder aos nossos representantes: para se posicionar a favor de nossos clamores e não silenciá-los.

Sob o jugo infalível de Vossa Sapiência, aquela-que-foi-torturada-na-ditadura-e-que-por-isso-deveria-respeitar-as-opiniões-alheias, caminhamos para um ostracismo letárgico, entoando o hino e diminuindo cada vez mais os nossos já costumeiros cérebros ortodoxos.

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Estudante de Jornalismo da PUC Minas

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