A dor e o aprendizado

Há aqueles que agora querem transformar as escolas em fortalezas. Há os que falam em fundamentalismos religiosos. Vamos com calma. Antes das certezas é preciso aprender com as dúvidas



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As cenas dos adolescentes correndo pela escola, o pânico, o medo, a destruição, as mortes.

Os velórios foram de grande comoção. É triste ver a partida antecipada de quem estava vocacionado para o futuro. Essas crianças não tinham que morrer, é essa a certeza que ficou em quem acompanhou o desfecho infeliz.

Há muitas conclusões apressadas. Muitas tentativas de solucionar o problema. Há aqueles que agora querem transformar as escolas em fortalezas, com policiais armados e detectores de metal. Há outros que querem endurecer a legislação penal. Há os que falam em fundamentalismos religiosos e os seus perigos. Vamos com calma. Antes das certezas é preciso aprender com as dúvidas.

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Por que Wellington Menezes de Oliveira - além da psicose, esquizofrenia - entrou na escola em que estudou disposto a matar adolescentes? Por que não matar no ponto de ônibus, no bar, na rua, na praia, no clube? Em todos esses lugares há grande concentração de pessoas. Não. Wellington escolheu a escola. A escola em que estudou. Evidentemente, Wellington sofria das doenças da mente, mas há algumas pistas para tentarmos aprender com esse episódio.

Há testemunhos de amigos da mesma escola em que o atirador sofreu bullying. Só tinha um amigo, que também sofria. Era discriminado. As meninas não davam a ele a atenção que tão bem faz aos adolescentes. Era muito fechado. Falava pouco. Sofria sozinho. A mãe, a única com quem tinha vínculos maiores, morreu.Perdeu o emprego. Resolveu viver sozinho. Ele e os seus monstros. E decidiu que o último ato de sua vida seria para chamar a atenção. Escreveu detalhes do seu sepultamento para se sentir alguém. Misturou angústias, desprezo pelo ser humano e respeito pelos animais. Esses, sim, valiam a pena.

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Claro que nem todas as pessoas que sofrem de bullying entram em escolas atirando. Mas há que se aprender com esse episódio.

As escolas precisam trabalhar com as habilidades sociais e emocionais, além da cognitiva. Não é possível que o espaço sagrado em que se ensina e se aprende seja reduzido a um palco de preconceitos e chacotas. Há quem diga que sempre foi assim. Há algumas diferenças. A falta de diálogo em casa e o cyberbullying ampliam o problema.

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O bullying é uma covardia, uma agressão à alma. Os seus efeitos podem ser amenizados se os pais conversarem mais com os filhos. O grande problema do bullying é o silêncio. A vítima sofre em silêncio, não divide com ninguém a dor pelo sarcasmo de que foi vítima. Bullying é mais do que violência escolar. Bullying é violência continuada, repetida. É a humilhação moral ou física em que os mais "poderosos" subjugam os "diferentes".

É preciso trabalhar essa temática em sala de aula nas diversas disciplinas. O aluno tem de perceber que as "brincadeiras" agridem, humilham. É a regra de ouro da ética:”não fazer ao outro o que não gostaríamos que fizessem conosco".

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Escola que apenas ensina a decorar não é escola. Família em que não há conversa não é família. Escola e família precisam estar juntas nesse processo essencial de educar a pessoa humana para o seu equilíbrio e para a convivência harmoniosa com os diferentes. É assim que se previnem essas tragédias. Com inteligência, não com violência nem com soluções mágicas.

Nossa solidariedade às famílias das vítimas e aos educadores de Realengo e de todo este País tão carente de uma educação que forme a pessoa, que desenvolva a cidadania e que prepare para a vida e para o trabalho.

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