A Bahia é uma só, não se divide

Deputado quer dividir a Bahia para criar o estado do So Francisco na regio de Barreiras



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Elieser Cesar_Bahia 247 - Batizada de nova fronteira agrícola do estado, a região oeste da Bahia tem 14 municípios em seu Território de Identidade, 1,2 milhão de habitantes, 4,11% dos bens produzidos em solo baiano – algo em torno de R$ 121,5 bilhões pelo PIB de 2008 – 1 milhão de hectares de soja, 350 mil de algodão, 200 mil de milho, dois polos de fruticultura, uma agroindústria poderosa, 1 mil Km de rio São Francisco e um representante político cuja ambição é maior do que toda essa riqueza junta: o deputado federal Oziel Oliveira (PDT-BA), ex-prefeito de Luís Eduardo Magalhães, antigo Mimoso do Oeste, e marido da prefeita de Barreiras, a ex-deputada federal Jusmari de Oliveira.

É de Oziel a autoria de um projeto que vem causando muita polêmica nos meios políticos e empresariais baianos, o de dividir a Bahia para criar o Estado do São Francisco. O novo estado seria composto por 31 municípios, dentre eles Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Formosa do Rio Preto, Santa Maria da Vitória, Correntina, Barra, Serra do Ramalho e Carinhanha, divididos em três regiões, Oeste Baiano, Bacia do Rio Corrente e Velho Chico. Seria como praticamente Portugal e Áustria, juntos.

Não se trata de nenhuma iniciativa nova. Na verdade, o ambicioso Oziel que visaria, na esteira do desmembramento territorial, uma futura candidatura a governador, no caso dele, ou a governadora (numa referência à mulher, Jusmari), requentou um antigo projeto, aproveitando a discussão, no Congresso Nacional, da proposta de criação de 11 novos estados, dentre eles os de Carajás e Tapajós, desmembrados do Pará. Da lavra do deputado Xavier de Oliveira (será parente?), a iniciativa antiga data de 1946 e propunha a criação do Estado do São Francisco, com capital em Barreiras, cujo nome seria trocado para Barão de Cotegipe, em homenagem ao estadista do final do Império, que fatiava territórios com a mesma tranquilidade festiva de quem corta um bolo de aniversário.

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Se for criado como o desejado, o novo estado terá uma extensão de 173 mil quilômetros quadrados e um PIB estimado em R$ 10 bilhões. Em defesa do desmembramento, o deputado Oziel Oliveira soletra números e se ancora no que considera isolamento do oeste da Bahia: "Somos 1,2 milhão de habitantes, mais do que a população do Uruguai, estamos a uma distância média de 1 mil Km da capital da Bahia e enfrentamos sérios problemas de infraestrutura". Segundo Oliveira, a criação do novo estado, apoiado em um plebiscito, "é um clamor de toda a região".

O Estado do São Francisco reuniria municípios díspares. Como Barreiras, que tem o melhor índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região e o 3º da Bahia, e Cotegipe, 340º IDH no ranking dos 417 municípios baianos. A criação do estado que levaria o nome do Rio da Integração Nacional, não navega, no entanto, em águas mansas, como gostaria o Américo Vespúcio do Oeste, numa alusão ao descobridor do rio, lá pelos idos de 1501. Um estudo divulgado pela Superintendência de Estudos Econômicos (SEI) da Secretaria de Planejamento da Bahia demonstra que, se fosse criado hoje, o novo estado nasceria com um déficit superior a R$ 800 milhões por ano, pois a arrecadação potencial seria de R$ 1,17 bilhão para um custo anual de R$ 2 bilhões. O mesmo levantamento apontou que apenas quatro municípios – Barreiras, São Desidério, Luís Eduardo Magalhães e Correntina – abocanhariam 83,6% do PIB do novo Estado, deixando os demais municípios à míngua, o que agravaria as já gritantes desigualdades sociais.

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O deputado-cegonha faz ouvidos de mercador e argumenta que o futuro desenvolvimento vai compensar os custos administrativos do parto de um novo estado. A classe política em peso da Bahia já se posicionou contra o que considera aventureirismo político. A reação uniu adversários da política baiana como o governador Jaques Wagner e o vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima.

"Não se divide a Bahia. Criar um novo estado é criar despesa, e não receita", descarta Wagner. "A Bahia é uma só, indivisível, diferente e única. Ninguém vai separar os baianos", ecoa Geddel. O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, se disse "altamente contra a divisão da Bahia", observando que o Estado de Castro Alves, Octávio Mangabeira e Jorge Amado não se divide. "Somos todos irmãos e temos que lutar pelo bem-estar de todos", afirmou Nilo ao Bahia247.

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Ainda na Assembleia Legislativa, o líder do bloco PCS/PTN, Targino Machado, ajudou a colocar água na fervura do caldeirão separatista de Oziel Oliveira. "É demagogia pura para ganhar votos. Quem será candidato a governador e a senador nesse novo estado?", pergunta Machado, para em seguida, indicar a resposta: "Querem cortar o bolo para matar a própria fome".

Num esforço para integrar o Oeste – por muito tempo isolado das demais regiões do Estado – o governo da Bahia aposta no projeto da Ferrovia Leste-Oeste (Fiol), que será construída pelo Governo Federal para ligar Ilhéus-BA a Figueiropólis, no Estado do Tocantins, cortando toda a Bahia no sentido Leste-Oeste, a custo de R$ 4,2 bilhões somente no trecho baiano.

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Nem Irmã Dulce queria a Bahia dividida

Até Irmã Dulce, que não se metia em política para cuidar de assuntos mais transcendentes, como a religião e a caridade, foi contra a divisão da Bahia. No final da década de 80 do século passado, quando o então deputado federal Fernando Gomes, o "Fernando Cuma" – segundo o folclore político baiano, assim chamado porque falava "cuma é isso mesmo?" – tentou desmembrar a Bahia, a partir de Vitória da Conquista e até o sul, para criar o Estado de Santa Cruz, Irmã Dulce assinou uma emenda popular contra a divisão. Com 435.252 signatários, o documento foi entregue, pelo então governador Waldir Pires, ao presidente da Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães. Para barrar o projeto o publicitário Duda Mendonça criou a campanha "A Bahia não se divide", que teve a participação de artistas e intelectuais, como Maria Bethânia e Jorge Amado. O autor de Gabriela Cravo e Canela chegou a dizer: "Nasci baiano e vou morrer baiano".

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Viu, Oziel, em que casa de marimbondo você foi mexer?!

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