Zuzu Angel deixou o ensinamento de que só se recupera uma democracia comprometida à força de muita resistência

A jornalista Hildegard Angel destaca o legado de sua mãe, Zuzu Angel, morta pela ditadura militar, que completaria 100 anos de vida neste sábado (5). “Zuzu Angel foi mineiramente inteira no que produziu, e deixou o legado da elegante legitimidade, da franqueza pueril, da moda com sotaque da nossa História. Deixou o ensinamento de que só se recupera uma Democracia comprometida à força de muita resistência”, diz ela

Zuzu Angel
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Amanhã [neste sábado (5)] serão 100 anos de nascimento de Zuzu Angel nossa mãe. De Stuart, Ana Cristina e minha. Levou sua maternidade até a última consequência. Até ser morta pelo Estado brasileiro. Talvez o assassinato político mais investigado de nossa História. 

A morte foi alvo do escrutínio de 3 comissões federais, a dos Desaparecidos Políticos, a dos Direitos Humanos e a da Verdade. Com perícias, depoimentos, até um delegado do Dops, que tudo revelou e confirmou, e de testemunhas oculares do desastre provocado. 

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Foi na na saída de um túnel, que hoje tem seu nome. Zuzu, mãe Coragem, brasileira patriota.

Zuzu Angel significou o ponto fora da curva na moda do país, ponto da consciência e virada. Foi a 1a. a denunciar a colonização mental de nossos criadores de moda.

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Até mesmo os mais talentosos condicionavam suas criações aos padrões importados, fossem de estilo, técnica, cor e até de altura da bainha.

Zuzu foi um norte, uma bússola. Apontou o despropósito de nesse país inspirador, solar, colorido, intenso, um país com suas alegrias e dores, festas populares, heróis, mitos, flores, pássaros, matas, minérios, e mesmo assim até os mais talentosos da nossa moda iam buscar inspiração, beleza e regras no Velho Continente cansado de guerra.

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Zuzu rompeu com essa ‘prisão cultural’ e voou com os pássaros, se lambuzou com as mangas carlotinha, admirou matas, cheirou flores, ampliou limites e até ousou denunciar opressão, torturas, política assassina do Estado brasileiro na Ditadura Militar com seus vestidos singelos, cheirando a quintal varrido das cidades do interior, com suas rendas coloridas balançando no varal, com suas toalhas de mesa de renda do Norte vestindo noivas, suas contas de jacarandá, os bambus e conchas bordando vestidos.

Enfim, Zuzu foi o Brasil, que era omitido em nossa moda, como se ela se envergonhasse dele, e só vestisse “tailleurs”, “drapées”, “pied de poule”, e outros termos franceses, em vez de babado sim, babado não, bordado também, franzidos e fuxicos.

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Zuzu Angel foi mineiramente inteira no que produziu, e deixou o legado da elegante legitimidade, da franqueza pueril, da moda com sotaque da nossa História. Deixou o ensinamento de que só se recupera uma Democracia comprometida à força de muita resistência.

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