Xingar pode causar bem-estar
"Lula ter dito algumas vezes na prisão que desejava foder o seu carrasco, foi salutar para manter a sanidade mental e a esperança de que iria buscar justiça"
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Estava na PE da Vila Militar, havia saído da solitária e me encontrava num xadrez coletivo de companheiros da VAR-Palmares, comecei a sentir uma dor de dente insuportável, chamei pelo padioleiro, cabo enfermeiro, uma, duas, três vezes, e nada. Das grades deu para ver que ele estava no corredor, perto, batendo papo. Gritei mais e nada. A dor aumentava e com todo o meu desespero xinguei: padioleiro filha da puta.
Aí ele escutou, veio num passo só e pediu para abrirem o xadrez que queria sair na porrada comigo. Ele gritava para abrirem e nada.
Nesse ínterim a porta foi aberta, não para ele entrar, para nos entregarem a bandeja da rala comida. Bandejas dentro, porta fechada.
Chegam os oficiais e sargentos torturadores.
Abrem a porta e me ordenam sair, eu pego a bandeja e saio segurando-a, na intenção de não meterem a porrada numa pessoa com as mãos ocupadas. De um lado e outro do corredor carrascos com a insaciável sede de torturar.
Não baixei a cabeça e nem olhei para os lados, devia evitar cruzar olhares. Ao final do corredor, me conduzirem de novo para a solitária e lá fiquei mais um tempo, que ao final de idas e saídas totalizou 59 dias.
Na cela relaxei e comi a merda da comida, que para mim sempre foi um sacrifício digeri-la, desta feita não estava tão intragável.
No outro dia fui levado à clínica dentária da Vila Militar e no trajeto o sargento Rangel sugeriu que eu fugisse ao mesmo tempo que segurava o coldre da 45, num claro sinal de sua intenção.
Xingar foi uma solução, perigosa, mas foi.
Quando levava choques também xingava, mesmo que aumentasse a fúria dos torturadores.
Quem está encarcerado e não tem raiva de seus algozes, deve ser doente ou estagiário para o santificado.
Lula ter dito algumas vezes na prisão que desejava foder o seu carrasco, foi salutar para manter a sanidade mental e a esperança de que iria sair e buscar justiça.
Hipocrisia da mídia é que é exortável às carolas do século 19. Naquele século determinadas palavras, chamadas de palavrão, eram excomungadas, uma delas era merda, outra era sacanagem, acabaram sendo incorporadas no dia a dia coloquial e também na literatura.
É evidente que uma autoridade está sujeita a certos decoros, mas, não como uma camisa de força, um dogma, afinal somos humanos.
A história e a justiça ainda vão completar a “foda” no Moro. Enquanto a direita quer ressuscitar o juiz parcial e contemporiza com Campos Neto que fode a economia brasileira.
Na entrevista teve uma declaração do presidente que deixou muitos atemorizados, qual seja: dizer que não se arrepende das escolhas feitas para o STF e que se voltasse no tempo faria as mesmas escolhas. Porque não os escolheu para serem seus amigos.
Não deve escolher por ser ou para ser amigo, mas para ser fiel à Constituição, garantistas, obedientes ao devido processo legal, e nisso, com exceção do ministro Ricardo Lewandowski, a maioria não foi.
Se as escolhas do Lula e da Dilma, tanto para o STF como para os tribunais superiores, tivessem sido acertadas, não teríamos tido o mensalão como foi, nem o golpe a Dilma (com STF e tudo mais), e nem a prisão do Lula por 580 dias.
Podem massificar qualquer narrativa, mas diante da história está gravado como indicações absolutamente equivocadas.
Se errar de novo, não será por inexperiência e nem por maus conselhos, mas por outros motivos.
Não poderia encerrar sem parabenizar a excelente entrevista do 247
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