Walter Benjamin e Habermas
É aí onde entra a valorização dos potenciais de iniciativa e autocomposição das comunidades, minados pelo Estado moderno
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A obra do filósofo alemão WB resulta de uma improvável síntese entre judaísmo, marxismo e psicanálise. Daí o paradoxo entre um certo otimismo tecnológico ( de influência marxizante) e a nostalgia de um tempo de vida comunitário, pré-moderno, onde a identidade do indivíduo está associada ao seu pertencimento a uma coletividade, em que a palavra não se separa da ação.
O que permite o compartilhamento de histórias de vida e a faculdade de narrar. Se em outros textos, o autor exalta as virtualidades da técnica moderna, como no cinema e na arte de vanguarda, em outros, lamenta a perda da experiência e a dissolução da sociabilidade comunitária, sob o impacto do choque da vida moderna.
No ensaio O Narrador, Benjamin se apresenta como um nostálgico da experiência perdida e exalta a vida comunitária e o seu poder de compartilhamento da experiência. Também nos ensaios sobre Baudelaire e nas Teses sobre o conceito de História. Já no ensaio sobre o surrealismo, sobre o cinema e em Experiência e pobreza, como também sobre as variações em torno de Brecht, avulta a influência marxista e do materialismo histórico.
O interesse de usar o ensaio do Narrador é bem delimitado, trata-se de resgatar o valor da comunidade que se baseia na unidade da ação e da palavra, vis a vis ao processo alienante e desumanizante da modernidade, (Sobre isso, veja Sérgio Paulo Rouanet. 0 Édipo é o Anjo. Rio, tempo brasileiro, 1981)
Já a obra do filósofo contemporâneo J. Habermas pode -se dizer que se trata do grande herdeiro da teoria crítica e é considerada como uma das últimas sínteses filosóficas do século XX, por juntar correntes muito diversas- o funcionalismo, o marxismo, a epistemologia genética e a linguística anglo-saxão -, além da psicanálise.
A obra de Habermas é tida como um verdadeiro discurso filosófico, porque discute e incorpora contribuições de outros autores. Sua suma filosófica é A Teoria da Ação comunicativa, que redefine o conceito de uma razão monólogos e essencialista numa razão processual, argumentativa, sujeita a provas e contraprovas, a depender da capacidade argumentativa dos interlocutores- vorazes e de boa fé.
Mas há um déficit político nessa teoria, que privilegia o consenso, o mundo da vida e os atos de fala comunicativos. A política é pouco considerada. Foram seus discípulos americanos (Arato e Cohen) quem introduziram a política no sistema, com o conceito de sociedade civil, intitulado de dimensão institucional do mundo da vida. E o conceito de Democracia Deliberativa.
Essa inovação levou Habermas a se pronunciar sobre a crise do socialismo real, em 1990, a partir do conceito de Revolução Recuperadora, definida como revoluções contra o Estado, a favor da sociedade civil. É aí onde entra a valorização dos potenciais de iniciativa e autocomposição das comunidades, minados pelo Estado moderno, com o excesso de burocratização levado pelas prestações estatais na vida das comunidades, tornando -as meras clientes do Estado.
Daí a defesa da autonomia da sociedade civil e a limitação da intervenção do Estado e a valorização dos arranjos e composições próprias. (Texto, Habermas. A revolução recuperadora. Madrid, tecnos,1989)
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