Waack e o pretismo
Só o pretismo ativo vai mostrar que os racistas são uma minoria, o problema é que eles estão na estrutura do poder e promovem, dali, um racismo estruturado e institucional
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Waack bateu nos petistas o quanto quis.
mas com os pretistas a coisa foi diferente.
e num é que os jornalistas dos jornalões - todos brancos - apareceram para defender o indefensável, o racista pego de calça curta, William Waack, paladino da moral e dos bons costumes?!
é sempre assim.
há mais de 500 anos esses caras aparecem por essas paragens para justificar o racismo do colega e do vizinho como um mero deslize, um erro, como quis Gilmar Mendes.
quando um juiz da Suprema Corte chama um crime de “erro”, ele mostra o tamanho da condescendência do judiciário com os seus de cor.
segundo a lei, que Gilmar deveria defender, é crime de incitação racial o que fez o defenestrado Waack.
Gilmar mostra, com a defesa do amigo branco, um racismo velado.
como velado é o racismo de Barroso, o que chamou Barbosa de negro de primeira linha.
os de segunda linha são aqueles que Bolsonaro mediu em arrobas, em mais um arroubo racista que mostra que a coisa não é isolada.
já chamaram goleiro preto de macaco, apresentadora preta de macaca, modelo preta de macaca...
são eles que dizem que os negros cheiram mal, que têm o nariz feio, que têm o cabelo ruim, que deformam os seus lábios no cinema e na TV, que mandam matá-los na calda da noite.
uma buzina, ao longe, por mais chata que possa parecer, pode ser acionada por um homem ou uma mulher, até cachorro hoje em dia já sabe buzinar para chamar o dono.
o dono daquela buzina poderia ser também um coreano, um chinês ou um legítimo pele vermelha em sua possante Dakota.
mas Waack não teve dúvida, encheu o saco, só pode ser preto.
e dizem, veja a inversão, que agora os pretos é que tão a encher o saco do Waack.
num grupo fechado que faço parte, cheio daqueles cornos da ex-querda (“fui traído por Lula, fui traído pela esquerda, a lua me traiu...”), dizem que a esquerda aproveita o caso para fazer barulho nas redes e que isso é coisa de petistas.
é não, seus cornos, é coisa de pretista.
é o pretismo mostrando que racistas não terão mais arrego.
e os pretistas são gente de todas as cores, de todos os credos, de todas as classes.
só o pretismo ativo vai mostrar que os racistas são uma minoria, o problema é que eles estão na estrutura do poder e promovem, dali, um racismo estruturado e institucional.
é esse racismo estrutural que evidencia o preto quando o coloca em uma situação desfavorável e o silencia quando o preto se destaca.
foi assim que a Caixa Econômica aprovou um comercial de TV com o maior escritor brasileiro, o negro Machado de Assis, na pele de um homem branco.
é assim que as escolas ocidentais ensinam que foi Hipócrates o pai da medicina, firmação absurda e hipócrita.
uma vez que sabemos que o pai da medicina é o negro Imhotep, que já praticava a medicina com maestria dois mil anos antes do grego nascer.
foi ele também o primeiro a fazer um mapa astronômico.
os Dogons, no Mali, já praticavam a astronomia quando os europeus estavam saindo das tendas.
o Grande Zimbábue é uma maravilha da arquitetura urbana africana, e pioneira.
são africanas também as pirâmides, os obeliscos e os ziguratts.
na África negra nasceu a matemática, arquitetura, a metalurgia, a engenharia, a agricultura (Vale do Nilo), a pecuária (Nairobi), a escrita (Sudão), a matemática... a civilização.
quando Champollion decifrou os hieróglifos da pedra de Rosetta, no século XIX, ficamos sabendo que todo o conhecimento religioso, filosófico e científico dos gregos teve origem na África.
aliás, foram os egípcios os primeiros a terem médicos, dentistas e veterinários.
tudo coisa de preto.
era preto também o Buda, e magro, antes de o falsificarem branco e rechonchudo.
Jesus nunca poderia ter sido loiro, como até o diabo sabe.
essa estrutura de silenciamento é tão brutal e escancarada que o canal The History Channel exibe, há uns anos, um programa seriado que pretende afirmar, com base pseudo científica, que não foram os negros que erigiram as pirâmides.
e que não foram os morenos americanos que edificaram aquelas estruturas magníficas e monumentais no continente.
afirmam, veja quão brutal e alienante é o racismo, que foram uns seres das estrelas.
estes sujeitos, sem terem mais o que fazer, viajaram em naves espaciais (!!!) e aqui chegaram para ensinar tudo aos negros.
na Europa essas naves também baixam de vez em quando, mas lá, sabe como é, os etês se conformam em escrever agroglifos em campos de trigo.
assim, os brancos reescrevem a história, com essa conversa mole.
agora veja essa: o Brasil é um caso raro de um país que tem descendentes de escravizados, mas não tem descendentes de escravizadores.
parecem que foram todos abduzidos, para aprenderem a construir pirâmides.
só ficaram aqui os descendentes da Princesa Isabel, aquela que promoveu a abolição da consciência dos escravagistas.
disseram, os descendentes de escravizadores, que Waack sofreu um linchamento selvagem nas redes, eles gostam de chamar os pretos de selvagem.
dizem que o grito dos pretistas foi desproporcional à atitude do racista.
como dirão que foi desproporcional o grito do preto que tomou um navio de assalto e apontou um canhão contra uma chibata.
afinal, são eles que dão a medida das coisas.
dizerem que tá na hora de mudarmos de assunto, que isso já são águas passadas.
mas nós, pretistas, dizemos, não e não.
nós temos pautas mais urgentes!
e a causa é essa.
Zumbi já era pretista.
mas foi Luís Gama quem levou o pretismo aos tribunais e deu a ele um sentido mais de liberdade que de fuga.
mais tarde, o pretismo é fortalecido por Abdias Nascimento, na formação de artevistas negros.
o pretismo refloresceu no hip hop.
o pretismo vive firme e forte na poesia de rua, na literatura marginal, no cinema negro.
o pretismo não morre, ele está mais vivo que nunca.
palavra da salvação.
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