Waack demitido e a Globo em pé de guerra

Apesar das aparências de civilidade, há boatos de que a demissão foi traumática e de que o clima no império global não é dos melhores. (...) O clima de tensão não se restringe à redação da GloboNews. Ele afeta todo o império global. Na semana retrasada, o Grupo Globo anunciou uma mudança inusitada. Pela primeira vez na história, a presidência da megacorporação não será ocupada por um dos herdeiros da famiglia Marinho

william Waack
william Waack (Foto: Altamiro Borges)


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Na sexta-feira (22), a Rede Globo anunciou a demissão do outrora todo-poderoso William Waack. A rescisão do milionário contrato foi divulgada em nota assinada pelo diretor de jornalismo, Ali Kamel. Após elogiar a sua “excelência profissional”, ela afirma que o defenestrado e a empresa “decidiram que o melhor caminho a seguir é o encerramento consensual do contrato de prestação de serviços que mantinham”. Ela também tenta livrar a cara do ex-âncora do Jornal da Globo e do programa Painel, da GloboNews, que “reitera que nem ali nem em nenhum outro momento de sua vida teve o objetivo de protagonizar ofensas raciais”. Apesar das aparências de civilidade, há boatos de que a demissão foi traumática e de que o clima no império global não é dos melhores.

Só para relembrar, no dia 8 de novembro, viralizou nas redes sociais um vídeo gravado minutos antes do apresentador entrar no ar, em uma transmissão realizada em frente à Casa Branca, nos EUA, em 2016. “Tá buzinando por que, seu merda do caralho”, rosna o jornalista no vídeo, reclamando de uma buzina que soava na rua. Em seguida, ele balbucia ao convidado, o comentarista Paulo Sotero, ao seu lado: “Você é um, não vou nem falar, eu sei quem é”. E arremata: “É preto, é coisa de preto”. No mesmo dia do vazamento, William Waack foi retirado da bancada do telejornal, sendo substituído pela jornalista Renata Lo Prete, que abriu o programa anunciando seu afastamento temporário para a devida apuração do episódio de racismo. Agora, a demissão é terminal!

Três versões circulam sobre os motivos do rompimento do contrato. A primeira é de que a emissora estaria tentando limpar a sua imagem, já bastante desgastada na sociedade. É bom lembrar que Ali Kamel, o chefão do jornalismo da empresa, obrou um livro em 2006 intitulado “Não somos racistas”, em que tentou minimizar os preconceitos no Brasil. Há muito tempo que o movimento negro acusa a TV Globo de ser uma das principais difusoras do racismo no país. William Waack, com sua visão elitista, poderia reforçar este estigma. Por isto, ele foi enxotado. A segunda versão é de que o ex-âncora se tornara um estorvo na emissora por suas posições truculentas e arrogantes. Ele era detestado por vários profissionais. Agora veio o motivo para jogá-lo fora!

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Clima de tensão no império global

A terceira versão tem efeitos mais deletérios. Com as quedas constantes de audiência e a redução dos recursos publicitários, a Rede Globo vem promovendo uma tal “reestruturação organizacional” para reduzir custos. As maiores vítimas são os trabalhadores, inclusive os jornalistas que ainda chamam o patrão de companheiro. Na mesma semana da dispensa de William Waack, a emissora já havia surpreendido a redação com o anúncio da rescisão do contrato da colunista Thais Heredia, que trabalhava na GloboNews desde 2012 e escrevia para o site G1, que também pertence à famiglia Marinho. Ironicamente, a jornalista demitida recentemente virou motivo de piadas na internet devido aos seus comentários eufóricos em defesa da “reforma” trabalhista de Michel Temer.

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Em artigo postado no UOL em 14 de dezembro, Ricardo Feltrin, especialista em televisão, já havia alertado para o risco de cortes na emissora. “A duas semanas de ter sua direção trocada – sai Eugenia Moreyra, entra Miguel Athayde –, a redação da GloboNews vive um de seus momentos mais tensos. Vários apresentadores e jornalistas aproveitaram o momento de mudança para reivindicar programas, outras funções, troca de setores, pedidos de aumentos, etc. De forma nada velada, alguns jornalistas também estão aproveitando o ‘vácuo’ de poder para tentar puxar o tapete de outros colegas... Até o novo chefe da Globonews assumir, em 1º de janeiro, aparentemente tudo vai continuar em estado de suspensão. Mas os nervos vão continuar à flor da pele”.

O clima de tensão não se restringe à redação da GloboNews. Ele afeta todo o império global. Na semana retrasada, o Grupo Globo anunciou uma mudança inusitada. Pela primeira vez na história, a presidência da megacorporação não será ocupada por um dos herdeiros da famiglia Marinho. Jorge Nóbrega, um executivo que está na empresa desde 1997, passou a ocupar o lugar de Roberto Irineu Marinho, que deixou a presidência-executiva do império e seguirá apenas no chefia do seu Conselho de Administração. Em um comunicado formal, o herdeiro cansado foi incisivo. “Quero deixar muito claro que a Família Marinho não se afastará nem por um milímetro do Grupo Globo. Somos e queremos continuar sendo uma empresa familiar com gestão profissional”. A nota, porém, não convenceu os angustiados profissionais da empresa. O temor é que a mudança vise acelerar dos tais “ajustes organizacionais”.

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Fim melancólico de William Waack

Ainda sobre William Waack, duas notinhas recentes mostram o triste fim do ex-todo-poderoso âncora da TV Globo. Keila Jimenez, do site R7, revelou no início de dezembro que o jornalista caiu em total isolamento nas últimas semanas. “Nem amigos, nem familiares, muito menos colegas de trabalho. William Waack, 65, se isolou completamente e não quer falar com ninguém, nem ser visto após o episódio que culminou em seu afastamento da TV, após uma carreira sólida, de mais 40 anos de jornalismo... Procurado por amigos da área, Waack não retorna ligações, mensagens, nem e-mails. Os mais chegados dizem que está em seu refúgio, um sítio que herdou da mãe em Jundiaí, no interior de São Paulo. Isolamento que não deve acabar tão cedo.

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Já o mesmo Ricardo Feltrin, em notinha postada na sexta-feira (22), confirma que a demissão do âncora não foi tão “consensual” como afirmou Ali Kamel. “Foram ao todo quatro reuniões entre a direção da Globo e William Waack (acompanhado de advogado) desde o início de novembro, depois que o jornalista foi afastado do comando do ‘Jornal da Globo’... Segundo fontes ouvidas pela coluna o resultado das quatro reuniões foi o mesmo: tensão, mal-estar e irritação por parte do jornalista, que vinha sendo pressionado a rescindir voluntariamente o contrato... Em todas as reuniões o jornalista deixou claro que considerava descabida e humilhante a punição que recebeu por causa de um vídeo ‘furtado’ por um ex-funcionário da Globo e postado na internet”.

“A situação ficou ainda mais tensa no último dia 6, quando Waack soube que Diego Rocha Pereira, ex-operador de VT da emissora e vazador do vídeo, não só retornou à Globo como fez uma foto no cenário do ‘Jornal da Globo’, sentado na cadeira que já foi dele. Para o jornalista, a atitude do ex-funcionário foi submetê-lo ao ridículo. E a emissora não se preocupou em evitar isso. Para ele, a Globo não podia se eximir de responsabilidade sobre dois fatos: tanto pelo vazamento do vídeo como pelo retorno do vazador às suas dependências. A coisa não deve terminar só com o comunicado da Globo hoje, anunciando a demissão. Do ponto de vista jurídico o caso pode se tornar uma batalha longa e espinhosa, com prejuízo para ambas as partes... Sem intenção, a Globo pode estar criando uma nova, longa e caríssima novela judicial”.

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