Voto político decide reta final para as prefeituras
Em São Paulo, imaginando que 1/3 dos eleitores "ainda pode seguir mudando de candidatos, o fator político conta de forma decisiva. Marta atribuiu sua queda ao atrelamento ao governo golpista que, segundo ela, 'todo dia produz uma notícia negativa'. Por sua vez, a subida de Haddad tem a ver com a participação mais ativa e direta de Lula e a politização da campanha", observa Emir Sader; ele destaca que na capital paulista e no Rio, que tem Freixo e Jandira, "a esquerda pode pagar o preço de ir dividida ao primeiro turno"; "Da mesma forma, em muitas capitais do Brasil, a polarização nacional pesa, com a possibilidade concreta de que Raul Pont chegue ao segundo turno em Porto Alegre", cita ele, lembrando também de Recife, onde João Paulo também deve chegar à segunda etapa da disputa
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Ainda no clima do golpe, as campanhas municipais começaram mornas, com candidatos despolitizados, contando com o recall, liderando as pesquisas. Até que a campanha foi chegando à reta final, com a participação de líderes nacionais, como Lula, Dilma, a adesão de personalidades significativas para a opinião pública – entre eles até Antonio Candido – definindo seus apoios.
As pesquisas passaram a oscilar mais marcadamente, as certezas foram se desfazendo e as disputas ficando mais acirradas, a ponto de 1/3 dos eleitores de São Paulo afirmar que pode mudar de candidato. O que efetivamente vem fazendo, com a queda acentuada de Russomano, de Suplicy e de Erundina, com a subida de João Doria e de Haddad. Imaginando que 1/3 deles ainda pode seguir mudando de candidatos, o fator político conta de forma decisiva. A própria Marta atribuiu sua queda ao atrelamento ao governo golpista que, segundo ela, "todo dia produz uma notícia negativa". Por sua vez, a subida de Haddad tem a ver com a participação mais ativa e direta de Lula e a politização da campanha.
A campanha curta, pela reforma despolitizadora promovida por Eduardo Cunha, favorece os candidatos já conhecidos, além de facilitar as campanhas que entulham o horário eleitoral com inaugurações de obras, ao invés de argumentos. É assim que Pedro Paulo sobe e pode chegar ao segundo turno. Mas disputa, cabeça a cabeça, com Freixo e Jandira, enquanto Crivella se consolida, aparentemente, com apoios oportunistas daqueles que ficaram esperando se definir o cenário para aderir, como Garotinho e Romário.
Nas duas cidades, a esquerda pode pagar o preço de ir dividida ao primeiro turno. Haddad era o candidato natural à reeleição, depois de um bom mandato, mas o Psol nem sequer considerou a possibilidade de apoiá-lo. Lançou Erundina, que recém saía de 20 anos no PSB de São Paulo, base de apoio dos tucanos, para reassumir sua imagem mais à esquerda, o que lhe permitiu ter, no início, destaque nas pesquisas, para logo em seguida cair, seja por não ter propostas que se contraponham ao mandato de Haddad, seja porque o voto útil canaliza – e o fará cada vez mais – apoios para Haddad.
Da mesma forma, em muitas capitais do Brasil, a polarização nacional pesa, com a possibilidade concreta de que Raul Pont chegue ao segundo turno, recolocando a possibilidade de que o PT volte a dirigir a prefeitura de Porto Alegre. O PT está sempre no centro do voto político – a favor ou contra o PT. Em Recife e em Fortaleza, o protagonismo dos candidatos do PT é evidente. Salvador, Belo Horizonte e Curitiba são capitais importantes em que, até aqui, a polarização se dá entre candidatos de direita ou com favoritismo grande de um deles.
As manipulações de pesquisas se tornam ainda mais evidentes. A DataFolha, cuja seriedade passou a estar bastante questionada depois que suas manipulações ficaram evidentes no seu objetivo de atingir o PT e Lula, chega ao ponto de produzir uma rejeição do Haddad de 43% e, na outra ponta, a de Doria, como a menor, com quase 1/3 a menos. Essa a ação da direita, por meio da mídia: gerar rejeições dos candidatos do PT e da esquerda, para favorecer candidatos anódinos que representam a direita.
Nestes dias finalmente o tema das eleições municipais ganha relevo na atenção das pessoas. A oscilação das preferências tende a se concentrar nos candidatos que representam algo mais definido. A esquerda, especialmente em São Paulo, Rio, luta para chegar ao segundo turno e pode ter sucesso, porque os candidatos de esquerda são os únicos que contam com grande militância, o que conta mais ainda quando a proibição de financiamento privado impede a proliferação dos cabos eleitorais pagos pelas ruas das cidades.
Os resultados das eleições, especialmente se houver disputa com presença de candidatos da esquerda, podem elevar o interesse político e a mobilização popular em torno dos candidatos e dos temas urbanos, até aqui com pouca possibilidade de debate nas campanhas.
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