Voto em Dólar Jr. é um voto cego
Tenho convicção de que 90% dos que as pesquisas indicam como eleitores de João Doria Jr. não sabem quem ele é. Não têm a menor ideia de quem seja. E mesmo assim o escolhem, na base do voto cego. O impeachment foi feito com pressa. A eleição está sendo feita com pressa. E a pressa é inimiga da eleição
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Ouvi de um motorista de ônibus da linha 7267 Apiacás - Praça Ramos, a três dias da votação em São Paulo:
"Essa eleição vai bater recorde de voto nulo".
Considerando que o dito cujo mora na periferia da cidade, conversa diariamente com centenas de passageiros de várias regiões da metrópole e não tem nenhum interesse econômico ou político envolvido na sua observação acho que ele está mais qualificado que sociólogos, cientistas políticos e marqueteiros para prever o que vai acontecer amanhã.
Cabe aos estudiosos, no entanto, e não ao chofer analisar o fenômeno mais a fundo para expor as suas nuances.
A pressa é um dos primeiros responsáveis pelo desalento democrático que toma conta de São Paulo e, acredito, do país. De dois anos para cá os acontecimentos se deram de forma vertiginosa e todos eles foram encaminhados a toque de caixa. Isso provoca um grande desconforto nas pessoas, que não conseguem entender o que se passa.
O processo do impeachment, que a história irá julgar, foi um exemplo dessa corrida desesperada que tomou conta do país e deve ter afetado a população. Aqueles intermináveis discursos e depoimentos madrugada afora, sem sábado, nem domingo impediram os brasileiros de acompanharem em todos os detalhes o episódio mais decisivo de suas vidas.
Eles só tiveram acesso aos resumos nos sites, rádios, TVs, jornais e revistas e todos os resumos destacam o que preferem. Ou seja, os brasileiros receberam as informações filtradas de acordo com os interesses político-econômicos defendidos, principalmente, pela maior emissora do país, a Globo.
Para o bem e para o mal é a Globo que faz a cabeça dos brasileiros e não apenas nos seus telejornais, mas também nas novelas que têm se constituído no mais influente veículo de imposição de ideias e comportamento dos brasileiros.
Tanto os que eram contra quanto os que eram a favor do impeachment – ou golpe – devem ter se ressentido da falta de informações completas para formar sua opinião e, na falta delas, os mais conformados preferiram adotar a opinião da maior emissora de TV, dos três maiores jornais e das três maiores revistas do país.
E os inconformados aderiram ao "Fora Temer".
Com a mesma pressa com que foi discutido, o impeachment – ou golpe – foi votado, sob a alegação de que Temer precisava viajar à China para a reunião do G-20, mais uma vez impedindo que as discussões do assunto mais importante desse e dos próximos anos fossem conduzidas com calma, prudência e profundidade.
Com a mesma velocidade desnecessária estão sendo conduzidas as primeiras eleições pós-impeachment. Uma campanha mais rápida, horário político mais rápido, tudo muito rápido, o que dificulta escolher bem, pois mal dá tempo de conhecer os candidatos.
Por mais que os brasileiros amem ou odeiem os americanos, eleição é uma coisa que eles sabem fazer. A campanha presidencial que agora chega ao ápice entre Hillary e Trump leva dois anos, durante os quais os pretendentes ficam expostos à opinião pública, cometem erros e acertos, e suas atitudes, ideias e opiniões se tornam conhecidas à exaustão. Há tempo suficiente para refletir e escolher com tranquilidade.
A campanha brasileira, ao menos a de São Paulo, tem conteúdo zero, revelando a completa falta de verdadeiros líderes políticos que tragam esperanças de futuro melhor. Resume-se a uma sucessão de ataques ao prefeito atual do tipo "você prometeu fazer 30 hospitais e fez 7", acompanhada de "eu fiz mais que você", de um desfile espantoso de egos "eu sou mais moderno que você" e promessas do tipo "eu vou fazer mais e melhor". E não passa disso. Não há um debate de ideias por falta de ideias. E de tempo.
Tenho convicção de que 90% dos que as pesquisas indicam como eleitores de João Doria Jr. não sabem quem ele é. Não têm a menor ideia de quem seja. E mesmo assim o escolhem, na base do voto cego.
O impeachment foi feito com pressa.
A eleição está sendo feita com pressa.
E a pressa é inimiga da eleição.
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