Voltar às ruas para livrar o país do governo genocida de Bolsonaro

"É preciso abrir um debate sério no interior da esquerda sobre a necessidade de ocupar as ruas novamente, com uma agenda de manifestações presenciais, seguindo os protocolos sanitários e de autoproteção individual e coletiva", escreve o colunista Milton Alves

(Foto: REUTERS/Bruno Kelly)


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O 1º de maio de 2021 marcou o início de uma retomada das ruas por setores da esquerda e dos movimentos sociais. Um movimento gerado a partir da militância de base e impulsionado por correntes políticas atuantes no interior do Partido dos Trabalhadores (PT), e de legendas como o Partido da Causa Operária (PCO), Unidade Popular pelo Socialismo (UP) e também por sindicatos, alguns cutistas, movimentos populares de moradia, saúde e reforma agrária – com destaque para a Frente Nacional de Lutas do Campo e da Cidade, liderado por José Rainha.

Ainda não foi uma retomada mais numerosa, massiva, mas apontou, claramente, o potencial combativo e a disposição de luta de vastos setores da militância de esquerda. Apesar da ausência das direções dos partidos de esquerda, principalmente do PT, – e da CUT – as manifestações aconteceram em todo o país, com as bandeiras unitárias de luta pelo Fora Bolsonaro, por emprego, vacinação para todos, auxílio emergencial de R$ 600, mais verbas para o SUS, distribuição de comida pelos governos, entre outras reivindicações. Também serviram de um contraponto político aos atos organizados pelos grupos neofascistas de apoio ao governo Bolsonaro.

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Neste 1º de maio, a direção do Partido dos Trabalhadores mergulhou na “Campanha PT Solidário” de arrecadação e distribuição de cestas básicas e produtos de higiene. Por sua vez, as cúpulas das centrais sindicais investiram, mais uma vez, em uma anódina e constrangedora live com a presença de políticos neoliberais e conservadores. Ambas ações revelam uma conduta política aquém das necessidades reais da população trabalhadora, golpeada duramente pela política neoliberal de Bolsonaro e dos capitalistas.

É preciso abrir um debate sério no interior da esquerda sobre a necessidade de ocupar as ruas novamente, com uma agenda de manifestações presenciais, seguindo os protocolos sanitários e de autoproteção individual e coletiva.

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As direções dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais não podem continuar adotando como um dogma intocável a palavra de ordem de “fique em casa” . Essa política é equivocada no momento, incapaz de contribuir para uma saída positiva da crise sanitária, econômica e social em curso, que já ceifou a vida de mais de 400 mil brasileiros e brasileiras. Uma política que acaba favorecendo o discurso criminoso do governo bolsonarista de “defesa da economia e dos empregos”, o que dialoga diretamente com o senso comum e desesperado de amplos contingentes das massas de milhões de desempregados e esfomeados.

A pandemia só revelou, mais ainda, a face dura e cruel do neoliberalismo, que transformou a vida cotidiana do trabalhador numa verdadeira roleta russa: ameaçado pela doença, pelo desemprego e a fome -, e sem políticas públicas que incentivem, de fato, o confinamento social com remuneração, garantia do emprego e uma assistência sanitária enquanto durar a pandemia de Covid-19.

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Vale lembrar o papel decisivo das manifestações de massas lideradas pelo Black Lives Matter e por sindicatos de base da AFL-CIO, em particular dos professores e profissionais da saúde, na derrocada política e eleitoral do negacionista Donald Trump, em 2020, ainda no auge da pandemia nos Estados Unidos.

Na América Latina, a esquerda e os movimentos populares também ganharam as ruas para lutar pela convocação da Constituinte no Chile e pela derrubada do governo golpista na Bolívia em 2020. Neste momento, na Colômbia, acontecem vigorosas jornadas de lutas nas principais cidades do país contra o governo de extrema-direita e em El Salvador manifestações de rua de caráter semi-insurrecional sacodem a pequena nação centro-americana.

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O neoliberalismo fracassou novamente neste pedaço do mundo – e a pandemia agravou as mazelas das políticas continuadas de ajustes regressivos e de cortes orçamentários brutais nos investimentos sociais implementados por governos de direita na região.

É hora de organizar uma agenda de retomada das ruas para canalizar a indignação e o rancor crescente contra a política genocida de Bolsonaro.

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