Virgem em chamas
Uma mescla muy latino-americana de sortilégios da Natureza, misticismo e repressão sexual anima o intrigante drama costarriquenho "Clara Sola"
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Uma mescla muy latino-americana de sortilégios da Natureza, misticismo e repressão sexual anima esse drama costarriquenho que deu a Wendy Chinchilla Araya o prêmio de melhor atriz e mais duas distinções na Mostra de São Paulo de 2021. Vinda da dança contemporânea, Wendy tem uma performance que parece ir contra si mesma, pois Clara é uma mulher refreada por interdições, sinais de autismo e uma deformação na coluna. Um vulcão contido por dentro.
Na aldeia remota onde vive com a mãe e uma sobrinha jovem, o povo acredita que ela faz curas milagrosas. O filme a cerca de mistérios. Não discernimos se são reais ou imaginários os seus poderes ligados à Natureza (amadurecer frutas nas mãos, ressuscitar insetos). Estamos numa fronteira fluida entre o realismo mágico latino-americano e a magia de um Apichatpong Weerasethakul.
O limiar é igualmente difuso entre as exaltações místicas de Clara e o despertar tardio e bruto de sua sexualidade. A chegada de Santiago, um novo ajudante (Daniel Castañeda Rincón), que passa a namorar María (Ana Julia Porras Espinoza), incendeia o erotismo em Clara e estabelece uma rivalidade não explícita com a sobrinha.
A amizade de Clara com uma égua da família terá papel determinante no enredo. O destino do animal vai não só determinar o desfecho dramático, como constituir uma espécie de alter ego (alter égua?) de Clara, expressão bestial de sua identificação com o primitivo. Não faltam referências simbólicas ligadas às pulsões místicas e sexuais, como o fogo, a lama, o inseto no cativeiro.
Estreando no longa-metragem depois de vários curtas premiados, a diretora Nathalie Álvarez Mesén, nascida na Costa Rica e formada na Suécia e EUA, demonstra muito cuidado nos detalhes da encenação (com destaque para as ações das mãos) e uma maneira de conduzir a narrativa sem pressa, mas com firmeza. Clara Sola pode não ser o filme mais original no seu tema, mas é intrigante e cheio de suspense psicológico.
Leiam uma entrevista de Nathalie Álvarez Mesén ao crítico Bruno Carmelo.
O trailer:
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