Violência em Honduras lembra que eleição nem sempre é passeio
“Quando a violência do Estado de Sítio contra protestos da oposição leva até setores da polícia de Honduras a cruzar os braços em protesto ´porque não podemos sair matando nosso próprio povo´, é bom recordar que muitas vezes a verdade das urnas precisa ser confirmada pela vontade das ruas”, escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. PML recorda que um suspeito milagre de multiplicação dos votos a favor do candidato do governo depois de uma pane de várias horas no sistema informatizado de apuração – o que serve de alerta para quem acredita que Lula, se eleito, não terá que superar outros obstáculos
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Ainda que muitos brasileiros tenham dificuldade de entender a importância de se prestar atenção na atual tragédia política de Honduras, convém registrar um aspecto principal.
Sob Estado Sítio após uma campanha eleitoral disputada, Honduras ajuda a lembrar que vivemos uma época histórica na qual é pura ingenuidade imaginar que em toda parte as regras do Estado de Democrático de Direito estão garantidas por instituições consolidadas, à prova de tempestades políticas de qualquer natureza.
Não é assim -- e a situação vivida por este pequeno país da América Central confirma o erro de se pensar uma eleição presidencial como um passeio em família.
Uma verdade sempre útil de recordar, quando se considera que a eleição hondurenha, em 2017, guarda uma semelhança essencial com a sucessão presidencial brasileira do ano que vem, que irá expressar o esforço de uma maioria da população para recuperar direitos e liberdades colocados sob ameaça pelo golpe contra Dilma em 2016.
Há situações, sabemos todos, em que a verdade das urnas só pode ser garantia pela vontade das ruas.
As incertezas em Honduras, hoje, são colossais. Numa eleição realizada em 26 de novembro, o resultado oficial só deve ser anunciado em vinte dias.
Produto do Estado de Sítio, a violência empregada para reprimir uma população inconformada com a suspeita de uma fraude escancarada para favorecer o candidato do governo, Juan Orlando Hernandez, levou uma força especial da própria polícia a abaixar os braços e se declarar em greve, ontem.
Conforme um dos líderes policiais ao jornal El Mundo é preciso “manifestar nosso inconformismo com o que está ocorrendo a nível nacional. Nós somos pessoas do povo e não podemos sair matando o próprio povo.”
Um capítulo da crise atual envolveu a apuração.
Salvador Nasralla, candidato da frente de oposição, liderava com uma vantagem de 57% até que, numa típica cena de pastelão, Hernandez assumiu o primeiro lugar.
O milagre da multiplicação dos votos ocorreu após uma demorada pane no sistema informatizado de apuração, que paralisou a contagem por muitas horas. Quando os trabalhos puderam ser retomados, por coincidência Hernandez estava na frente e Nasralla em segundo. Inconformados, os eleitores da oposição foram as ruas para denunciar a fraude e Hernandez chamou o Estado de Sítio.
Deu para entender?
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