Violência de gênero e cor no Brasil
A tese da herança racial-ibérica-muculmana como causa dos preconceitos, discriminações e violência, seja contra a mulher negra e pobre, ou contra os homens negros e pobres, parece ter contribuído também para justificar a clientela preferencial desses indivíduos no sistema penal e carcerário brasileiro
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Tornou-se um lugar comum remeter-se ao instituto da escravidão negra no Brasil como a causa do arraigado preconceito de cor e de gênero (no caso da mulher negra e pobre), a despeito da miscigenação e do hibridismo racial entre os colonizadores ibéricos de sangue árabe nas veias.
A sugestão de um tipo de escravidão muçulmana nos trópicos, diferentemente da escravidão em países anglo-saxão de cristianismo reformado (mais arredios ao contato íntimo com pessoas de outras raças).
A tese da herança racial-ibérica-muculmana como causa dos preconceitos, discriminacões e violência, seja contra a mulher negra e pobre, ou contra os homens negros e pobres, parece ter contribuído também para justificar a clientela preferencial desses indivíduos no sistema penal e carcerário brasileiro.Ao contrario dos indivíduos brancos e ricos que nao frequentam as prisoes, delegacias e foruns. Resolvem suas questões de outra maneira.
Trazer a questão da violência de cor e gênero para a sociedade atual e particularmente no sistema penal e carcerário brasileiro, tendo como proposta um tipo de Justiça restaurativa, com base no "empoderamento" dos afrodescendentes que frequentam as prisões, como forma de combater a violência praticada na Justiça comum, é não atentar para a necessidade da luta dos movimentos sociais, fora do sistema carcerário, que se orientam para o reconhecimento das identidades sociais (cor, gênero, orientação sexual). Esses movimentos identitários podem, com boa vontade, ser interpretados como mini-revoluções sociais, se lograrem êxito em suas lutas, nas várias etapas do reconhecimento identitário. E um autor polêmico como M.Foucault pode até ser recrutado para justificar as escaramuças e estratégias tópicas, locais, esparsas e fragmentadas dessa "revolução molecular". (Felix Guatarri). Mas não se pode confundir essas lutas com uma ruptura revolucionária, nos moldes do pensamento marxista, que trabalha com uma mudança coletiva e radical das grandes estruturas da sociedade.
0 modelo de "revolução molecular " dos movimentos sociais contemporâneos pode até ser chamado de pós-moderno, em razão da fragmentação e da dispersão das lutas locais e parciais. Mas tal modelo estará muito longe do conceito moderno de revolução, de ruptura revolucionária da ordem social.
Quanto ao tema do capitalismo dependente, produto da ensaística latinoamericana na década de 70 que veio substituir a teoria cepalina da industrialização dos países ditos atrasados, parte do suposto que a internacionalização do departamento de bens de produção, em países de capitalismo tardio, não se constitui em empecilho para a reprodução ampliada do capital. O que significa que podem continuar subordinados aos países capitalistas centrais, através de uma alianças das burguesias nacionais com as burguesias estrangeiras. O que significa que não se deve esperar nunca dessas burguesias nativas nenhum gesto de independência ou autonomia, enquanto estiverem satisfeitas com a situação de dependência e heteronomia. São lumpen-,burguesias, cosmopolitas e cínicas, sem nenhum compromisso com o povo ou a nação.
Já quanto ao conceito marxista de "Modo de produção", utilizado pelos historiadores brasileiros que tratam da escravidao africana, acredito que haja uma incompreensão na utilização desse conceito. Em Marx, tal conceito implica necessariamente em autonomia, sobretudo em suas leis internas que garantem a sua reprodução. Não é o que acontece com o chamado modo de produção escravista, ou colonial ou colonial-escravista (Ciro, Gorender, Sodré). Essa inovação brasileira estava subordinada desde o princípio ao sistema colonial portugues, ao processo de acumulação na esfera da circulação pelo capital comercial e ao fornecimento externo da mão de obra escrava. Sem esses determinantes, ele não sobreviveria. Como não sobreviveu.
De nada adianta usar analogicamente o conceito de "subsunção formal " do trabalho ao capital para a relação entre colônia e metrópole, isto é uma "forçação de barra" para justificar o caráter capitalista da empresa colonial.
Mas pior é a aberração teórica de falar em producao e extracao de mais valia na escravidão. Marx jamais aceitaria uma tese como essa. O pressuposto da produção da mais valia é o trabalho assalariado e o salário. O lucro da empresa colonial advinha do monopólio de comércio e da possibilidade de fixar o preço das chamadas especiarias, além é claro da exploração desumana dos africanos trazidos à força para o Brasil.
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