Vinte e Nove de Maio, o 1º dia?
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Somos seres complexos. O ser humano é a única criatura que tem consciência da sua finitude, mas, paradoxalmente, luta diariamente por seus sonhos, planos, desejos e ideias; luta por uma vida que sabe efêmera.
Por quê? O que nos move tão grande e corajosamente, se sabemos que provavelmente não colheremos as tâmaras que plantamos? Esse é um grande mistério que, em sendo o que é, contém em si próprio a resposta.
Acredito que o que nos move é o amor, centelha de Deus, o que nos move são as virtudes divinas, o desejo inconfessado de viver além da vida, ser imortal no sorriso dos nossos filhos e netos (quando eles chegarem), viver nas nossas obras e, com sorte, no coração de alguns.
Há manifestações, atos individuais e coletivos que vão ainda além, são atos heroicos.
A moralidade tradicional aborda um quadro conceitual composto por ações proibidas, obrigatórias e facultativas. Nossas ações podem ser ofensivas, louváveis e indiferentes, e o debate moral transpassa os limites impostos por esse modelo quando nos deparamos com ações que reúnem em si aspectos que pertencem a esferas diferentes, são os atos supererrogatórios, atos que caracterizam-se, na esfera deôntica, facultativos e louváveis. São os atos chamados heróicos, pois sua realização é algo pouco comum, embora reconhecidos e admirados.
O que nos leva a pensar: por que algumas pessoas procedem heroicamente? Quais os motivos que estão compreendidos nesses atos? O que leva alguém a realizar coisas boas? O que está envolvido na realização de um ato heroico? Pode haver alguma relação entre bom caráter e os atos heroicos? Para Aristóteles as virtudes são adquiridas pela prática; o modo que agimos em relação às outras pessoas é que seremos reconhecidos como corajosos ou covardes, ela revela nossa disposição de caráter, indica o comportamento bom ou mau diante das paixões.
Vivemos tempos sombrios, pandemia, desemprego, inflação, ausência de investimento público e privado, ausência de políticas públicas para o desenvolvimento humano e da economia sustentável, um tempo de desconstrução institucional e desrespeito à constituição federal, tempos assim exigem atitudes heroicas.
A população sente essa realidade, tanto que sessenta por cento das pessoas com renda superior a 5 salários-mínimos desaprovam o governo Jair Bolsonaro, aponta pesquisa da “Exame”. A desaprovação do presidente chega a 58% na Região Sudeste. De acordo com o levantamento, 52% dos entrevistados consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo.
E a pesquisa apurou que a avaliação ruim de Bolsonaro é consequência de três fatores: ritmo da vacinação; semanas seguidas com recordes de mortos em decorrência da covid-19 e o fato de a população não ter percebido, até agora, efeito positivo da nova rodada do auxílio emergencial. Metade dos entrevistados considera que Bolsonaro não merece ser reeleito.
As manifestações populares do último dia 29 de maio, em defesa da vida, da vacina, do auxílio emergencial, pelo #ForaBolsonaro, são resposta à realidade e exemplo de movimento heróico, de coragem e grandeza de milhares de cidadãos anônimos, em quase duas centenas de cidades no Brasil e no mundo.
Democratas foram às ruas, decidiram não deixar que mais um dia terminasse sem que sua voz fosse ouvida, sem que pudessem crescer um pouco, e sem alimentar seus sonhos.
Certos da importância da manifestação, com o cuidado necessário estivemos lá no Largo do Rosário, espaço democrático aqui em Campinas, ao lado de milhares de pessoas, muitos jovens; cada um de nós venceu o desalento e buscamos a expressividade que emerge do movimento coletivo e mágico que diz a todos que podemos fazer algo extraordinário com nossas vidas.
Foi a partir do histórico Largo do Rosário que movimentos vitoriosos nasceram, e naquele dia 29 de maio muitas cores, todas as cores, harmonizaram-se pelo respeito necessário ao caminhar. Nos quatro cantos as palavras de ordem eram ditas sob a proteção da verdade, por isso transformadoras, revolucionárias, humanas e apaixonadas.
O Papa Francisco, tão frequentemente ofendido por maus cristãos, escreveu “Nestes dias de tanta angústia e dificuldade, muitos se referiram à pandemia que sofremos com metáforas bélicas. Se a luta contra o COVID-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas. Um exército sem outra arma senão a solidariedade, a esperança e o sentido da comunidade que reverdece nos dias de hoje em que ninguém se salva sozinho. Vocês são para mim, como lhes disse em nossas reuniões, verdadeiros poetas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos”, Francisco se refere aos movimentos sociais, e continua, “...gostaria de convidá-los a pensar no “depois”, porque esta tempestade vai acabar e suas sérias consequências já estão sendo sentidas. Vocês não são uns improvisados, têm a cultura, a metodologia, mas principalmente a sabedoria que é amassada com o fermento de sentir a dor do outro como sua. Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que ansiamos, focado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e no acesso universal aos três T que vocês defendem: terra e comida, teto e trabalho”.
Da vida fazemos o que queremos, na vida fazemos o que queremos, com a vida em movimento podemos mudar o mundo, progredir, incluir, cuidar de tudo e de todos. Só não podemos viver em silêncio.
Quem sabe o vinte e nove de maio é o primeiro dia de um novo tempo.
Essas são as reflexões.
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