Vini pode mudar de enxada para continuar o plantio
"O melhor que Vini tem a fazer é mandar os racistas e a cúpula do futebol da Espanha à m*rda e deixar o país", diz Bepe Damasco
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Será que vale a pena para Vini Jr. continuar na Espanha? Ou sua saída representaria o avanço de algumas casas na luta antirracista global? Não seria um golaço depositar sobre os ombros dos responsáveis pela campanha sórdida de ódio racial o ônus por sua saída de La Liga?
Esse dilema decerto deve estar povoando a cabeça do menino de 22 anos, filho da extrema pobreza da favela do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, que se transformou em um símbolo da luta contra o racismo estrutural em escala mundial.
Contaminada pelos ideais anticivilizatórios propagados pela extrema-direita (no caso da Espanha, encarnados pelo partido Vox, do qual o presidente de La Liga, Javier Trebas, é militante), parcela expressiva da população espanhola não aceita que um preto e pobre brasileiro, em tão pouco tempo, já seja um astro de primeira grandeza do futebol, a caminho de ser eleito o melhor jogador do mundo.
A visibilidade de que desfruta por desfilar seu enorme talento naquele que é considerado por muitos o maior de todos os clubes de futebol, o Real Madrid, atiça ainda mais a ira dos cães hidrófobos do fascismo. Mas Vini não se curva, não abaixa a cabeça e os enfrenta de peito aberto.
A forte reação do Brasil aos episódios repugnantes de domingo passado, unindo presidente da República, ministros, parlamentares, entidades da sociedade civil, clubes de futebol, grande parte da imprensa e ativistas das redes sociais fez com que a mídia e os cartolas espanhóis mudassem o tom e deixassem de culpar a vítima.
Nesta terça-feira, já houve prisões, o cartão vermelho absurdo de Vini foi suspenso e o Valência multado em 45 mil euros, algo em torno de 240 mil reais.
Contudo, acho pertinentes algumas indagações sobre os desdobramentos da situação atual.
1) A comoção que tomou conta da opinião pública de tantos países será suficiente para banir os racistas e criminosos dos estádios da Espanha?
Não acredito.
2) As prisões efetuadas pela Polícia Nacional da Espanha de sete vagabundos racistas (três já foram liberados) ajudarão a mudar a legislação do país, que não tipifica crimes de racismo, os quais são enquadrados vagamente como crimes de ódio?
Também não creio.
3) O Real Madrid, bem como outros times espanhóis cujos jogadores sofram injúrias raciais, terão a coragem de deixar o campo de jogo imediatamente?
Acho pouco provável.
4) O Valência será rebaixado para a Segunda Divisão depois dos acontecimentos ocorridos em seu estádio?
Não.
5) A Espanha será suspensa pela Fifa e impedida de disputar a próxima Eurocopa, a Liga das Nações e a Copa do Mundo de 2026?
Claro que não
Sendo assim, na minha modesta opinião, o melhor que Vini tem a fazer é mandar os racistas e a cúpula dirigente do futebol da Espanha à merda e deixar o país. Não que em outro país ele esteja a salvo de ataques racistas. De jeito nenhum.
Mas penso que uma mudança de ares, além de contribuir para preservar sua saúde física e mental, sem dúvida abalaria os alicerces do racismo, impondo-lhe uma dura derrota. E a luta antirracista de Vini certamente seguirá em qualquer lugar.
Pode ter chegado a hora de mudar de enxada para continuar o plantio.
Que clube inglês de ponta, por exemplo, não estenderia tapete vermelho para ele?
Dizem que a multa rescisória por rompimento de contrato chega a 1 bilhão de reais. Está aí uma boa briga. Se o Real não liberá-lo, ele pode alegar na justiça razões de dramática excepcionalidade para não cumprir o acordo.
Não lhe faltará apoio, Vini.
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