Vini Jr., a honra, a moral e a dignidade humana

Uma coisa vini jr deve ter em mente: a honra, a dignidade e a moral das pessoas não são negociáveis

Vinícius Júnior
Vinícius Júnior (Foto: Pablo Morano/Reuters)


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“Until the philosophy which holds one race superior and another inferior is finally and permanently discredited and abandoned, everywhere is war” Haile Selassie I

 

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vini precisa sair rápido da espanha, e ele não tem nada a perder com esse gesto.

os espanhóis precisam mais de vini do que vini deles.

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e eles precisam se dar conta disso.

o futebol gera uma receita extraordinária para aquele país, e os capitalistas só têm um órgão realmente sensível no corpo que é o bolso.

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tem muita grana envolvida naquele espetáculo cujo maior protagonista é o jogador brasileiro.

o futebol é a única atividade popular do planeta capaz de juntar, no mesmo lugar e com o mesmo propósito, reis, príncipes, sheiks; néscios e intelectuais, homens e mulheres, crianças e idosos; pobres e podres de ricos, pretos e brancos, árabes e hebreus, asiáticos e indígenas, cristãos e muçulmanos; deus e o diabo.

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e vini é, hoje, o maior jogador de futebol do mundo.

um menino que dança enquanto joga, e com a graciosidade e a beleza da sua arte, traz alegrias para multidões em todo o planeta.

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vini é um malabarista que insiste em sorrir mesmo quando uns pernas-de-pau lhe desferem odientas botinadas.

um garoto bonito, alegre, talentoso, cativante e milionário.

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mesmo assim, ele é vítima constante de racismo.

aliás, os racistas o odeiam por isso mesmo.

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lembremos que vini não é apenas um homem, ele é um homem negro, como diria fanon¹.

e o racismo, vai além de uma questão de classe, vai além da posição de um sujeito; o racismo está na base da estrutura capitalista.

o racismo formatou o mau caráter ocidental, legitimando todas as arbitrariedades dos colonizadores europeus.

é a fraude da suposta raça superior e do destino manifesto que impulsionou e impulsiona o macho branco ao assalto, à pilhagem, ao estupro, ao extermínio e à pirataria.

o racismo não define o negro, é o branco quem se define pela racialização das pessoas.

e o racismo é, portanto, uma relação de poder.

e dentro de campo, vini é o homem mais poderoso da espanha.

o rei é obrigado a aplaudi-lo.

Vini, com sua alegria pura, seu talento mágico e sua arte criativa, é uma afronta para essa gente.

vini significa para os racistas de hoje o que jesse owens representou para hitler nos jogos olímpicos de berlim, em ‘66.

e é por isso que o nosso vini não contou com a imediata solidariedade de que precisava.

as respostas estão vindo a conta-gotas e porque houve reações negativas do mundo inteiro.

não fosse isso, a espanha continuaria mantendo o seu descarado silêncio omisso e conivente.

o garoto foi humilhado com insultos racistas por uma horda de facistóides em um estádio lotado.

aos urros, o chamavam de macaco.

chamar um negro de macaco, eu já disse isso várias vezes e insisto, é uma forma de dizê-lo quase humano; porém, incivilizado e incivilizável.

os torcedores e a mídia espanhola já haviam tentado impedir que vini dançasse enquanto comemorava os seus gols, porque aquilo denotava alegria e a alegria é um atributo humano.

é necessário desumanizar o vini

é preciso fazer dele um touro de touradas.

Com sua força, vigor e valentia, ele diverte toda a gente, mas no final ele morre.

simbolicamente, os torcedores espanhóis estavam a assassiná-lo dentro de campo, matavam nele o que nele havia de humano.

a imagem daquele menino sozinho dentro daquela arena, sendo insultado por uma multidão, é perturbadora demais.

ali estava um descendente de escravizados sendo achincalhado por milhares de descendentes de escravizadores.

essa é a imagem!

não nos esqueçamos que os torcedores espanhóis, em outra ocasião, já haviam pendurado um boneco de vini jr enforcado.

esse espetáculo grotesco, é bom que se diga, contou com a conivência de muita gente.

o juiz que arbitrava a partida – maldito capa preta! - meteu uma mão de gato e expulsou de campo o jogador que sofreu a agressão.

um outro facistinha, do time adversário, agarrou o brasileiro pelo pescoço, enforcando-o, sufocando o seu grito de dor.

um gesto eloquente demais!

todo mundo ali sabia que tudo aquilo estava sendo transmitido, ao vivo, para o mundo todo.

e eles não tiveram pudor em expor, às escâncaras, o seu racismo e a sua xenofobia.

o chefe da liga futebolística daquele país foi tão cretino e insolente que teve a audácia de agredir o garoto ferido.

ele chutou a cara do menino quando este já estava no chão.

ao término da partida, a imprensa espanhola também mostrou de que lado estava.

tentaram evitar falar do episódio racista, já que a bola seguiu rolando, era preciso falar do jogo.

um idiota racista, microfone em punho, teve a cara de pau de perguntar se vini não iria pedir desculpas aos espanhóis por eles o terem insultado.

era como se questionasse se vini não sentia vergonha e culpa por ser ao mesmo tempo negro e feliz.

no dia da infâmia, nenhuma autoridade espanhola condenou, de forma contundente, a covarde agressão sofrida pelo ídolo brasileiro.

o governo brasileiro o fez, e isso é louvável.

nem um patrocinador, logo que a partida foi encerrada, foi às redes dizer que aquilo era condenável e que teria consequências financeiras.

esperaram um pouco mais para ver o que diriam as enquetes de mercado.

vini foi escrachado pela espanha toda!

e ele tem que reagir.

ele não pode sofrer como sofreu o camaronês samuel eto’o.

em 2006, em zaragoza, eto’o ameaçou deixar o campo após sofrer reiterados insultos racistas vindo da arquibancada.

o convenceram a ficar em campo.

eles obrigam o humilhado a permanecer na humilhação porque isso também faz parte do espetáculo.

afinal, foi pra isso que o racista pagou o ingresso.

na itália, era isso que faziam com o balotelli.

balotelli, filho de imigrantes africanos, fodeu sua saúde mental com a quantidade de insultos racistas que sofreu dos italianos que não o consideravam suficientemente italiano e o insultavam até quando ele fazia gol.

o cara chegou a sofrer insultos raciais do técnico do próprio time que jogava.

há racismo em todos os estádios de futebol da europa, o caso da espanha chama atenção por ser mais selvagem e brutal.

vini jr recebeu a solidariedade do povo brasileiro e está tomando a decisão certa de meter o dedo na ferida.

ronaldo fenômeno e neymar jr já sofreram racismo, mas não usaram todo o seu poder para tentar combatê-lo.

no fundo, eles temiam os prejuízos financeiros que isso poderia lhes causar.

vini parece querer lutar o bom combate.

ele sabe que é preciso mover o pescoço, que está debaixo do joelho do racista, e trocar de lugar com ele.

é necessário parar de sofrer e fazer com que os racistas sofram.

é urgente se livrar dessa maafa² sufocante!

há exemplos a serem seguidos.

na inglaterra, em 1995, durante uma partida entre o manchester united e o crystal palace - numa época em que os estádios ingleses eram repletos de hooligans (brigões racistas e xenófobos) -, o jogador francês éric cantona, de origem humilde, após ser expulso de campo, ouviu insultos xenofóbicos vindo das arquibancadas e ele não hesitou.

qual um kung fu panda, o malandro saltou do gramado até a arquibancada, em um voo acrobático, e acertou uma voadora em cheio, com os cravos da chuteira, no peito do fascistinha.

o sujeito se cagou todo.

sobre o ocorrido, disse cantona à bbc londrina: “(...) este tipo de gente não tem nada o que fazer em um jogo. acredito que é um sonho para alguns dar um chute neste tipo de gente. assim, eu fiz por essas pessoas, para que elas ficassem felizes.”

em 1966, muhammad ali, então campeão mundial de boxe, se recusou a lutar na guerra que os esteites travavam contra os vietnamitas.

uns estudantes brancos e ricos resolveram afrontá-lo, acusando-o de não ser patriota, o pugilista foi duro:

 “minha consciência não deixa que eu atire em um irmão, ou em gente de pele escura, ou em qualquer pessoa pobre e faminta vivendo na lama, pela grande e poderosa américa. e atirar neles por que, eles nunca me xingaram de crioulo, eles nunca me lincharam, ou soltaram os cães em mim, nem roubaram minha nacionalidade, nunca estupraram e mataram minha mãe e meu pai... eu vou morrer aqui lutando contra vocês, vocês são meus inimigos e não os vietcongues, chineses ou japoneses.; vocês se opõem quando eu quero liberdade, se opõem quando eu peço justiça..”

é assim que se luta.

em 2013, o craque marfinense yaya touré já vinha criticando a uefa de ser conivente com os insultos racistas vindos das arquibancadas.

em 2018, ele teve a coragem de dizer que o todo poderoso pepe guardiola é racista e que trata os jogadores negros de forma diferente.

touré sofreu represálias, o que prova que ele estava certo.

como também sofreu represálias o inigualável boxeador estadunidense.

como represálias sofreu colin kaepernick, o ídolo do futebol jogado com as mãos, lá nos nos estetites, quando ele deitou o joelho no chão em protesto contra os policiais que assassinavam jovens negros.

por seu gesto antirracista, ele perdeu patrocinadores e foi banido do esporte.

e ele segue sua vida, com punhos e cabeça erguida. sabe que fez o que deveria ser feito.

o que fica como exemplo é que esses caras não baixaram a guarda e nem baixaram a cabeça para os racistas colocarem os joelhos sobre elas.

uma coisa vini jr deve ter em mente: a honra, a dignidade e a moral das pessoas não são negociáveis.

não se pode fazer graça pra racista.

o racismo se combate com fogo, murro e voadora.

palavra da salvação.

1 - Estado de Maafa é um conceito trabalhado pela antropóloga afro-americana Marimba Ani, e diz respeito ao holocausto negro e ao sofrimento espiritual experienciado pelas pessoas negras devido às constantes agressões que sofrem, e das que carregam na alma pelo sofrimento dos seus ancestrais escravizados, violentados e assassinados,
Ótimo
2 - Frantz Fanon, em Peles Negras e Máscara Brancas, mostra como a cor da epiderme se constituiu em um significante e como isso é utilizado para marcar as pessoas africanas, e seus descendentes da diáspora, roubando delas a sua humanidade.

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