Verdades inconvenientes

O governo de coalizão liderado por Lula e depois Dilma "perdeu a mão"? Perdeu-se? Tornou-se um partido igual ou pior, tudo em nome da governabilidade. Talvez... E a consequência foi depender, para a manutenção da tal governabilidade, dos setores não éticos do mercado e do Congresso

Brasília- DF 17-03-2016 Presidenta Dilma durante posse do ministro Lula e outros ministros.Foto Lula Marques/Agência PT
Brasília- DF 17-03-2016 Presidenta Dilma durante posse do ministro Lula e outros ministros.Foto Lula Marques/Agência PT (Foto: Pedro Maciel)


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Sim, vivemos as consequências de um Golpe de Estado (alguns dizem que neste momento vivemos o "golpe dentro do golpe").

Sim, os golpistas são ratazanas que merecem as punições que decorram da lei e que resultem do devido processo legal, observando-se o amplo direito de defesa.

Sim, os golpistas devem receber o desprezo do Tempo e da História, reduzidos ao que são: medíocres e constrangedoras notas de rodapé.
Mas há verdades inconvenientes que não podem ser esquecidas...

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Não podemos esquecer que diversos companheiros foram incapazes em desconstruir feudos de malfeitos e outros estão, de alguma forma, envolvidos em casos de corrupção.

Não podemos ser hipócritas e minimizar os erros de quadros do nosso campo.

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Os anos Lula hegemonizaram um processo novo na política brasileira, apresentou políticas sociais de reconhecido sucesso, investiu, multiplicou o PIB, gerou milhões de empregos, retirou milhões de brasileiros da miséria, fez o que se espera de um governo socialdemocrata inserido num mundo liberal, mas errou também.

E apesar de Dilma haver demitido Geddel da Caixa Econômica, Paulo Roberto Costa da Petrobras, negado apoio a Cunha, contrariado Aécio em Furnas, não ceder às pressões e não haver dado os 70% de aumento que o STF exigia, não ter aceitado aumentar as verbas de publicidade da Globo e não ter aceitado comprometer as contas públicas comprando apoio parlamentar para se manter no governo, faltou muito, afinal nada justifica um gerente da PETROBRÁS ter e manter milhões de dólares numa conta no Principado de Mônaco, assim como não se justifica um Diretor da mesma empresa manter "seus" milhões em conta da Suíça.

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Penso que algumas pessoas comprometeram suas biografias e não souberam usar do poder concedido pelo povo como legitimo e necessário instrumento de mudança e tornaram-se desprezíveis representantes de interesses e vantagens corporativas; acredito que muitos perderam a conexão orgânica com os movimentos sociais legítimos e com os setores produtivos éticos.

Sim, devemos gritar #ForaTemer e #EleiçõesDiretas, mas há um punhado de corruptos e de ladrões do dinheiro público que traíram os sonhos de uma geração e envergonharam a nação, por isso devem responder por seus atos e pagar por suas escolhas.

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Não há surpresa nas prisões dos arautos de Temer, essa corja do PMDB é conhecida e se desconfia dela faz décadas; não há surpresa na vocação golpista de setores PSDB e seus envelhecidos quadros, hoje tão distantes da socialdemocracia. A surpresa está na presença de nossos companheiros "jogando um jogo" para o qual não treinamos e que tanto criticamos.

Por que não se promoveu nenhuma reforma estrutural necessária?

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Onde ficaram as reformas agrária, tributária e política? Imperdoável, afinal Lula chegou a ter mais de 80% de aprovação e folgada maioria no congresso nacional.

O governo de coalizão liderado por Lula e depois Dilma "perdeu a mão"? Perdeu-se? Tornou-se um partido igual ou pior, tudo em nome da governabilidade. Talvez... E a consequência foi depender, para a manutenção da tal governabilidade, dos setores não éticos do mercado e do Congresso.

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Se tivesse promovido a reforma agrária, por exemplo, de modo a tornar o Brasil menos dependente da exportação de commodities e favorecido mais o mercado interno dependeria menos dos corruptores e dos corruptos.

Se tivesse ocorrido a reforma tributária recomendada por juristas, economistas desenvolvimentistas, priorizando a produção e não a especulação teria assegurado a governabilidade prioritariamente pelo apoio dos movimentos sociais e os setores produtivos éticos.

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Assim teria sido possível - desde o primeiro dia - dissipar as estruturas de corrupção postas desde antes de sua chegada ao poder.

Reflexões sobre fatos, talvez verdades inconvenientes...

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