Verdade, simulacro, Política e Justiça
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Um amigo improvável, engenheiro químico pela UNICAMP, é um observador atento dos tempos e movimentos do ambiente político da nossa cidade, região, estado e país.
As análises de Marcelo Matheus, esse é o seu nome, sempre ácidas, quase nunca agradam o interlocutor, pois ele trabalha com a “verdade”, categoria pouco usada no ambiente político e que nem sempre quer ser ouvida pelo detentor de cargo eletivo ou por seus postulantes.Uso aqui o substantivo feminino “verdade” no sentido “da propriedade de estar conforme os fatos ou a realidade”.
A partir de um bate-papo com meu amigo sobre as possibilidades e variáveis eleitorais para 2024, após dois cafezinhos São Joaquim – que aprendi a apreciar com o meu tio Chico - me recolhi, tendo como companhia apenas o silêncio ensurdecedor das minhas tantas dúvidas, passei a refletir sobre a verdade, o simulacro, a Política a Justiça.
Para tentar chegar ao significado de Política, parti da reflexão sobre os interesses mesquinhos contidos nos projetos eleitorais e de poder – dissociados do interesse público – e que usam a Política como mera ferramenta de reprodução das injustiças (pois o que importa para os simulacros de políticos, é o seu gabinete com ar-condicionado, sua poltrona de couro e seus privilégios).
Para os falsos políticos, sejam eles detentores de cargos eletivos ou postulantes, não interessa a verdade - ela pode ser incomoda -; para esses interessa o simulacro, a versão e, no limite, a mentira, instrumentos retóricos usados para manipular e alcançar objetivos nem sempre de interesse coletivo.
Acredito que o simulacro - enquanto imitação feita sobre algo ou alguém, representação imagética que engana por transmitir determinada coisa como real, sendo na realidade falsa ou incorreta -, é o método preferencial de muitos que apresentam-se como “políticos”, mas são imitação pobre das potencialidades humanas.
Aliás, no âmbito da Filosofia, para Jean Baudrillard a ideia do simulacro na sociedade contemporânea deve ser compreendida tendo em perspectiva o avanço nos meios de comunicação, notadamente as redes sociais que passaram a exercer uma enorme influência sobre todos nós. Tanto que para o filósofo, a realidade deixou de existir e as pessoas passaram a viver e a dar mais importância às representações sobre a realidade, que são disseminadas pela mídia e por pautas desimportantes colocadas na esfera pública.
Os simulacros são simulações do real, que infelizmente despertam maior atração ao espectador do que o objeto ou situação que está sendo reproduzido.
A visita dos ministros Flávio Dino e Silvio Almeida às comissões na Câmara dos Deputados é exemplo de um simulacro de debate; pois o que vimos e ouvimos, patrocinado pelos gorilas bolsonaristas, foi apenas a produção de conteúdos que serão reproduzidos nas redes sociais, distantes da realidade.
A direita internacional e a brasileira, trabalham com os simulacros e, com isso, buscam nos afastar da realidade e impedir que discutamos o que de fato importa.Quando a direita, escorada grandemente nos falsos pastores e padres, coloca no centro do debate a pauta de costumes, religiosa e moral, ela busca nos afastar de temas de realidade e que realmente importam: emprego, trabalho, saúde, educação, direitos humanos, lazer, cultura e segurança, cuja solução está na Política (com “P” maiúsculo).
As pautas de costumes, religiosa e moral distanciam as pessoas do debate Político; pois somente a Política pode mudar a realidade das pessoas. A direita e regimes totalitários em geral, não gostam do povo, da participação popular, nem da democracia, por isso tem como método distanciar as pessoas da realidade, do centro do debate e das decisões, é um processo de unificação das esferas pública e privada, um processo de encarceramento do indivíduo, através do medo e da alienação.
A “verdade” (realidade) e a “política menor” (dos interesses mesquinhos), mantém-se sob grande tensão, estão sempre às turras e não tenho notícia de que a boa-fé esteja entre as virtudes dessa política menor.
A manipulação e as mentiras foram sempre consideradas como instrumentos necessários e legítimos, não apenas na profissão de político ou demagogo, mas também na de homem de estado; a falsa pauta proposta pela direita - costumes, religiosa e moral - trabalha com manipulação
Minhas dúvidas: serão, a manipulação e a mentira, de fato instrumentos necessários? O que é que isso significa no que se refere à natureza e à dignidade do domínio político, por um lado, e à natureza e à dignidade da verdade e da boa-fé, por outro? É da essência da verdade ser impotente e da essência do poder enganar? Que espécie de realidade possui a verdade se não tem poder no domínio público, o qual, mais do que qualquer outra esfera da vida humana, garante a realidade da existência aos homens que nascem e morrem - quer dizer, seres que sabem que surgiram do não-ser e que voltarão para aí depois de um breve momento?
E, finalmente, a verdade impotente não será tão desprezível como o poder despreocupado com a verdade? Estas são questões que me inquietam e remetem à uma última questão fundamental: qual o significado de Política?
Bem, penso que Política não é, propriamente, a análise dos cenários possíveis para 2024 ou 2026 (apesar da relevância das análises), ela é algo maior, transcendente e transformador e tem um significado simples, que tornaria qualquer outro irrelevante: “o significado da Política é a Liberdade” (Arendt, “A promessa da política), desde que todos dela participem, e não apenas nossos representantes.
Somente a liberdade na ação Política e o pensar crítico, poderá nos manter atentos ao que realmente importa: amar a verdade, rejeitar a mentira e os simulacros e realizar a obra interminável de construção de uma sociedade justa, generosa e igualitária.
Essas são as reflexões.
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