Velho tapetão da impunidade tenta proteger PMs que executaram carroceiro
"No país onde o júri popular é previsto apenas para crimes contra a vida humana, investigação pode ser resolvida a portas fechadas", escreve Paulo Moreira Leite

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Cinco anos depois, a execução criminosa do carroceiro Ricardo Silva Nascimento, 39 anos, alvejado com dois tiros no peito por um PM a poucos metros de um Pão de Açucar de Pinheiros, em São Paulo, irá enfrentar uma passagem decisiva na trajetória que separa um julgamento correto de uma fraude jurídica, igual a tantas outras que protegem a violência contra pretos e pobres do país.
Na manhá de hoje, no Fórum Criminal da Barra Funda, será decidido se os dois policiais militares -- José Marques Medalhano e Augusto Cesar da Silva Liberalli -- irão a júri popular responder pelo crime. Ou se poderão contar com os benefícios de um julgamento a portas fechadas, ambiente que costuma ser benéfico aos acusados -- culpados ou não.
Chocante, pela violência, injustificável, por qualquer aspecto, quando se recorda o comportamento cordato da vítima, o assassinato tornou-se um pequeno marco na história democrática de um país onde crimes dessa natureza aparecem todos os dias nos jornais e raramente provocam reações maiores.
Em 2017, a indignação mobilizou lideranças e personalidades que no passado ajudaram a transformar a Praça da Sé, no centro de São Paulo, num dos centros geográficos da resistência à ditadura.
Trinta e nove anos anos depois do histórico culto ecumênico em protesto pela morte do jornalista Vladimir Herzog, que abriu uma nova etapa na luta contra o regime militar, o mesmo Audálio Dantas (1929-2018), presidente do sindicato dos jornalistas em 1975, compareceu a Sé para manifestar sua indignação -- em nova conjuntura, décadas depois.
Em vez da hierarquia católica, bem representada em 1975 pela firmeza corajosa do Cardeal Arns, ali estava o padre Julio Lancellotti, a primeira voz do Brasil oficial a reconhecer a dignidade invisibilizada de aflitos que sobrevivem no porão da sociedade -- dos quais Ricardo Nascimento tornou-se uma referência trágica, depois de uma existência descrita como afável e mesmo simpática.
No esforço para garantir aquele que é um direito de todos -- um julgamento justo -- lideranças que ajudaram a organizar o protesto na Sé, há cinco anos, organizam uma manifestação hoje, ao meio dia, no Fórum Criminal da Barra Funda. Exigem que os PMs acusados, José Marques Medalhano e Augusto Cesar Liberalli, sejam submetidos a júri popular, como determina a lei.
Não querem nenhum tipo de privilégio -- apenas neutralizar a espessa muralha de impunidade que protege a violência permanente de agentes do Estado contra pobres e pretos.
Alguma dúvida?
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247