Velha direita quer Bolsonaro ‘pato manco’ e salvar agenda de Guedes
Colunista Milton Alves avalia que a decisão do PSDB de não apoiar o impeachment, acompanhada pelo DEM, busca três objetivos: "1º. Enfraquecer Bolsonaro, mas não derrubá-lo; 2º. Preservar a agenda neoliberal de Paulo Guedes. 3º. Isolar a oposição de esquerda, em particular o PT e Lula"
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A decisão do PSDB de rejeitar a fórmula política do impeachment, acompanhada pelo DEM, aponta que os partidos da velha direita, em companhia do bloco parlamentar conhecido como “Centrão”, dos generais palacianos, do empresariado rentista e a Rede Globo operam pelo caminho político do desgaste continuado do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, o establishment prefere ter um Bolsonaro sangrando de forma gradual e segura para garantir a aplicação da agenda neoliberal do ministro da Economia Paulo Guedes -, de privatizações e do esmagamento da renda e das condições de vida da classe trabalhadora.
A operação em curso para salvar a agenda de Guedes foi potencializada nos últimos dias pelos sucessivos golpes desferidos pelo STF contra os impulsos bonapartistas e delinquentes de Bolsonaro – e fortalecida com o aprisionamento de Fabrício Queiroz, tesoureiro do clã, e pela fuga desesperada do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.
O movimento das forças políticas da velha direita busca três objetivos: 1º. Enfraquecer Bolsonaro, mas não derrubá-lo; 2º. Preservar a agenda neoliberal de Paulo Guedes. 3º. Isolar a oposição de esquerda, em particular o PT e Lula.
Um efeito colateral dessa operação do establishment foi o esvaziamento da tática de “Frente Ampla”, uma tentativa de articulação entre as velhas legendas direitistas e os partidos da centro-esquerda. É verdade que o ex-presidente Fernando Henrique até se esforçou para juntar numa mesma mesa Rodrigo Maia (DEM), Marina (Rede), Flávio Dino (PCdoB) e Luciano Huck (Cidadania-Globo), porém a combustão do atual momento político empurrou os partidos da velha direita – PSDB, DEM, MDB e o Centrão – para uma linha de contenção de Bolsonaro, com o objetivo de blindar a agenda neoliberal de desmonte do país.
O Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) – controlados pelas forças políticas conservadoras e da velha direita – já operam como diques de contenção do bolsonarismo.
O presidente Bolsonaro já sentiu o bafo quente na nuca e manda mensagens apaziguadoras, ganhando tempo para retomar o fôlego. Se é verdade que o governo perdeu a iniciativa política nas últimas duas semanas, no entanto, ele ainda conta com apoio social de cerca de 30% da população e cultiva fortes laços de solidariedade nas Forças Armadas. A tensão entre o governo da extrema-direita e as forças da direita tradicional continuarão existindo no próximo período, um equilíbrio precário, mas necessário para impedir um cenário de emergência da mobilização popular por uma alternativa sem Bolsonaro e a direita neoliberal.
Neste sentido, a oposição de esquerda, em particular o Partido dos Trabalhadores (PT), tem o imenso e duplo desafio de unificar o conjunto das forças do campo popular e democrático e, ao mesmo tempo, demarcar com a velha direita, atuando com nitidez na defesa de uma saída pela esquerda da crise política, econômica e sanitária em curso.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, em recente artigo publicado na Folha de São Paulo, apontou que “o Brasil não suportará uma saída ‘por cima’, para manter a agenda de Guedes com ou sem Bolsonaro. Nem voltará à normalidade sem reparar a injustiça e restaurar os direitos do ex-presidente Lula. Mais que o impeachment, o PT defende novas eleições com participação de todas as forças políticas. Ou enfrentamos a crise com o povo ou ela só vai se aprofundar”.
A chave política sugerida pela líder petista significa a rejeição de qualquer “frente ou pacto” que conduza para uma solução pelo alto, sem luta e mobilização popular para derrotar Bolsonaro, o que abriria espaços para saídas que preservem o atual modelo econômico neoliberal de espoliação dos trabalhadores e dos mais pobres.
Portanto, a esquerda deve apostar na retomada das ruas, acumulando mais e mais forças na luta pelo “Fora Bolsonaro”, construindo um bloco político e social capaz de se constituir como alternativa de governo no bojo do combate ao neoliberalismo, ao autoritarismo e aos truques e manobras das velhas elites do país.
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