Vazamento na Bloomberg deve ter sido proposital e calculado, com aval do próprio Biden

"Recado parece duplo: não apoiaremos o antidemocrático Bolsonaro em eventual aventura autocrática e não permitiremos que o setor privado também o faça"

Presidente da República Jair Bolsonaro, durante encontro com o Presidente dos Estados Unidos da América, Senhor Joe Biden.  09/06/2022
Presidente da República Jair Bolsonaro, durante encontro com o Presidente dos Estados Unidos da América, Senhor Joe Biden. 09/06/2022 (Foto: Alan Santos/PR)


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Por Marcelo Zero

Bolsonaro pediu ajuda a Biden para derrotar Lula e se reeleger, em uma reunião bilateral, realizada em Los Angeles, durante a Cúpula das Américas.

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Biden, é claro, desconversou. Fico aqui imaginando a cara do presidente dos EUA e de seus assessores ante tamanha estupidez e despropósito.  Qualquer pessoa de QI médio e medianamente informada teria informado ao insopitável capitão que essas coisas não se tratam nessas cúpulas. São tratadas, quando ocorrem, em intercâmbios de informação muito sigilosos, discretos e não-oficiais, normalmente feitos entre agentes de inteligência.

Como se sabe, os EUA, apesar de afirmarem o contrário, intervêm, sim, em processos políticos e eleitorais de outros países, quando julgam necessário. Mas o fazem pelos canais pertinentes e com os instrumentos apropriados. Podem até ser tolos, em relação aos objetivos, mas não são tolos, no que tange aos métodos. 

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Contudo, nesse caso específico, parece evidente que o presidente de atitudes asininas deu com os burros n’água.

O vazamento da informação constrangedora para o site de notícias da Bloomberg é indício claro disso. Evidentemente, o vazamento da informação não deve ter sido fortuito, fruto de indiscrição pessoal de um agente público.

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Não. O vazamento deve ter sido proposital e bem calculado, feito, provavelmente, com o aval do próprio Biden, que, nos bastidores, nutre desprezo e desconfiança pelo capitão antiambientalista, anti-direitos humanos, “trumpista” e saudoso da ditadura e da tortura. Ele não quer se associar a qualquer aventura autocrática de Bolsonaro e de seus militares.

O canal utilizado também parece ter sido cuidadosamente escolhido.

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A agência da Bloomberg é considerada muito confiável e dirigida ao público de empresários e grandes investidores, justamente aqueles que poderiam apoiar, com recursos financeiros e logísticos, uma aventura autocrática e um governo autoritário que favorecesse seus interesses.

Assim, o recado do vazamento parece duplo: não apoiaremos o antidemocrático Bolsonaro em eventual aventura autocrática e não permitiremos que o setor privado também o faça. 

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A aposta maior de Biden e do Partido Democrata deverá ser numa candidatura da mal chamada “terceira via”, que se alinhe aos interesses econômicos e geopolíticos norte-americanos, mas que tenha também compromissos mínimos com o meio ambiente, direitos humanos e democracia. Ao menos, compromissos formais e declarados com tais temas. Enfim, uma candidatura conservadora que não cause constrangimentos. Algo minimamente civilizado. Ou com tal aparência.

Mesmo assim, caso a terceira via não vingue, como todas as pesquisas até agora indicam, a administração Biden aceitaria uma eventual vitória do ex-presidente Lula. 

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Muito embora Lula represente algumas opções econômicas e geopolíticas que não do agrado dos EUA, como a posição contra as privatizações descabidas e por uma política externa “ativa e altiva”, ele é visto como um candidato confiável, com qual a administração Biden poderá estabelecer laços de cooperação sólidos na área ambiental, de direitos humanos, no campo democrático, na área de combate à pandemia etc.

Devemos recordar que, quando governou, Lula manteve bons relacionamentos com governantes dos EUA. Com Bush, embora não concordasse com alguns de seus pedidos, como o referente ao apoio à invasão do Iraque, Lula manteve uma relação amistosa e respeitosa. Com Obama, as relações foram ainda mais estreitas. Na reunião de Londres do G20, em 2008, Obama chegou a dizer, na frente de todos, que Lula era o “Cara”. Dilma Rousseff tentou elevar as relações entre Brasil e EUA a um patamar ainda mais elevado, esforço que foi frustrado em razão do escândalo da espionagem feita pela NSA.

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Portanto, ao contrário do que dizem os desinformados, os governos do PT nunca foram “antiamericanos”. Apenas foram pró-Brasil e praticaram uma política externa que colocava ênfase na diversificação das parcerias estratégicas, não se alinhando aos interesses de nenhuma potência.

Lula deverá ganhar as eleições e voltar a praticar uma política externa que, ao contrário da de Bolsonaro, respeite nossa Constituição, nossa soberania e nossos interesses. 

Estadista que é, terá o apoio dos democratas do mundo e será, de novo, um líder internacional que contribuirá positivamente para equacionar os graves problemas mundiais. A começar pelo da forme.

Em contraste com Bolsonaro, que é embaraçoso problema, Lula será bem-vinda solução. Biden sabe disso.

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