Vazamento na Bloomberg deve ter sido proposital e calculado, com aval do próprio Biden
"Recado parece duplo: não apoiaremos o antidemocrático Bolsonaro em eventual aventura autocrática e não permitiremos que o setor privado também o faça"
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Por Marcelo Zero
Bolsonaro pediu ajuda a Biden para derrotar Lula e se reeleger, em uma reunião bilateral, realizada em Los Angeles, durante a Cúpula das Américas.
Biden, é claro, desconversou. Fico aqui imaginando a cara do presidente dos EUA e de seus assessores ante tamanha estupidez e despropósito. Qualquer pessoa de QI médio e medianamente informada teria informado ao insopitável capitão que essas coisas não se tratam nessas cúpulas. São tratadas, quando ocorrem, em intercâmbios de informação muito sigilosos, discretos e não-oficiais, normalmente feitos entre agentes de inteligência.
Como se sabe, os EUA, apesar de afirmarem o contrário, intervêm, sim, em processos políticos e eleitorais de outros países, quando julgam necessário. Mas o fazem pelos canais pertinentes e com os instrumentos apropriados. Podem até ser tolos, em relação aos objetivos, mas não são tolos, no que tange aos métodos.
Contudo, nesse caso específico, parece evidente que o presidente de atitudes asininas deu com os burros n’água.
O vazamento da informação constrangedora para o site de notícias da Bloomberg é indício claro disso. Evidentemente, o vazamento da informação não deve ter sido fortuito, fruto de indiscrição pessoal de um agente público.
Não. O vazamento deve ter sido proposital e bem calculado, feito, provavelmente, com o aval do próprio Biden, que, nos bastidores, nutre desprezo e desconfiança pelo capitão antiambientalista, anti-direitos humanos, “trumpista” e saudoso da ditadura e da tortura. Ele não quer se associar a qualquer aventura autocrática de Bolsonaro e de seus militares.
O canal utilizado também parece ter sido cuidadosamente escolhido.
A agência da Bloomberg é considerada muito confiável e dirigida ao público de empresários e grandes investidores, justamente aqueles que poderiam apoiar, com recursos financeiros e logísticos, uma aventura autocrática e um governo autoritário que favorecesse seus interesses.
Assim, o recado do vazamento parece duplo: não apoiaremos o antidemocrático Bolsonaro em eventual aventura autocrática e não permitiremos que o setor privado também o faça.
A aposta maior de Biden e do Partido Democrata deverá ser numa candidatura da mal chamada “terceira via”, que se alinhe aos interesses econômicos e geopolíticos norte-americanos, mas que tenha também compromissos mínimos com o meio ambiente, direitos humanos e democracia. Ao menos, compromissos formais e declarados com tais temas. Enfim, uma candidatura conservadora que não cause constrangimentos. Algo minimamente civilizado. Ou com tal aparência.
Mesmo assim, caso a terceira via não vingue, como todas as pesquisas até agora indicam, a administração Biden aceitaria uma eventual vitória do ex-presidente Lula.
Muito embora Lula represente algumas opções econômicas e geopolíticas que não do agrado dos EUA, como a posição contra as privatizações descabidas e por uma política externa “ativa e altiva”, ele é visto como um candidato confiável, com qual a administração Biden poderá estabelecer laços de cooperação sólidos na área ambiental, de direitos humanos, no campo democrático, na área de combate à pandemia etc.
Devemos recordar que, quando governou, Lula manteve bons relacionamentos com governantes dos EUA. Com Bush, embora não concordasse com alguns de seus pedidos, como o referente ao apoio à invasão do Iraque, Lula manteve uma relação amistosa e respeitosa. Com Obama, as relações foram ainda mais estreitas. Na reunião de Londres do G20, em 2008, Obama chegou a dizer, na frente de todos, que Lula era o “Cara”. Dilma Rousseff tentou elevar as relações entre Brasil e EUA a um patamar ainda mais elevado, esforço que foi frustrado em razão do escândalo da espionagem feita pela NSA.
Portanto, ao contrário do que dizem os desinformados, os governos do PT nunca foram “antiamericanos”. Apenas foram pró-Brasil e praticaram uma política externa que colocava ênfase na diversificação das parcerias estratégicas, não se alinhando aos interesses de nenhuma potência.
Lula deverá ganhar as eleições e voltar a praticar uma política externa que, ao contrário da de Bolsonaro, respeite nossa Constituição, nossa soberania e nossos interesses.
Estadista que é, terá o apoio dos democratas do mundo e será, de novo, um líder internacional que contribuirá positivamente para equacionar os graves problemas mundiais. A começar pelo da forme.
Em contraste com Bolsonaro, que é embaraçoso problema, Lula será bem-vinda solução. Biden sabe disso.
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