Vamos fazer do limão uma limonada – As fragilidades da democracia brasileira expostas pelo bolsonarismo

Temos uma grande oportunidade de reestruturar todo o país. Caso não o façamos, correremos o risco de que uma tragédia pior que o Bolsonarismo volte a ocorrer

Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no centro do Rio de Janeiro. 02/10/2021
Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no centro do Rio de Janeiro. 02/10/2021 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)


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Temos uma grande oportunidade, diria até uma imensa oportunidade de retificar vários erros que foram mostrados claramente pelo Bolsonarismo em nosso Estado Democrático de Direito. Sem fazer estas correções, poderemos repetir estes erros de forma desastrosa novamente e lamentavelmente em um futuro próximo. Não vamos perder tempo, não vamos como dizem, “passar pano”, vamos trabalhar para que este momento terrível que vivenciamos não volte a ocorrer em nosso país. Temos que fazer desse limão amargo uma limonada saborosa.

Vimos como todo o Estado foi aparelhado com relativa facilidade pelo Bolsonarismo. Pedidos de “impeachment” não são analisados, notícias-crimes são arquivadas, processos contra os filhos e amigos do presidente não andam na justiça. É hora se implantar mecanismos que impeçam o correto funcionamento do Estado, pois como pudemos constatar, uma redoma foi colocada em volta dos apoiadores do governo para os proteger, parecendo que estes estão acima das leis do país e que tudo podem fazer. Essa questão é de imensa importância e urgência, pois caso não a solucionemos correremos o risco de cair novamente nas mãos de outro tirano genocida.

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Também pudemos constatar o mau uso das redes sociais para fazer propaganda maciça contra a democracia. Ameaças de golpe, “fake news” e até ameaças de morte foram vistas. Não foram somente anônimos que usaram as redes sociais desta forma, vimos pessoas públicas e inclusive políticos usá-las indevidamente. Está claro que a tão falada liberdade de expressão foi usada como desculpa para se fazer mau uso destes canais de comunicação. Assim sendo está na hora de fazer uma regulação destes novíssimos meios de comunicação, para evitar que os mesmos sejam usados novamente como armas contra a democracia. Até porque liberdade de expressão não existe para que sejam cometidos crimes.

Quando vemos que Chico Buarque não é celebrado por ter ganho o prêmio Camões de Literatura e percebemos o desprezo pelo falecimento de João Gilberto, vemos que realmente existe um ataque a cultura brasileira sem precedentes. Quando dois ícones como estes são deixados de lado pelos nossos governantes deixa claro que temos que rever como estamos tratando nossa cultura. E estes são somente dois exemplos contundentes dos ataques que o Bolsonarismo está fazendo contra a cultura do país, muitos outros exemplos poderíamos citar. Preservar e valorizar a nossa cultura é essencial para construirmos uma nação soberana. Que ações devemos fazer para que a cultura brasileira não seja mais atacada desta forma? Quais incentivos temos que fazer para proteger e disseminar nossa cultura? São estas perguntas que temos que nos esforçar em responder e tomar as ações necessárias para que o país não ponha mais em risco a sua imensa diversidade cultural. É através da cultura que o Brasil expressa sua beleza, seus costumes, suas tradições para o seu povo e para o mundo. Isso tem que ser protegido a todo custo.

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Temos que proteger o sistema educacional do país de pautas ideológicas que visão exclusivamente impedir a conscientização dos cidadãos e elitizar o acesso as universidades. A tal da “escola sem partido” é uma tentativa clara de fazer com que o povo não tenha consciência da real situação em que se encontra. Evitando assim que uma visão crítica das injustiças sociais seja percebida por quem as sofre, impedindo desta forma que ações mais efetivas e contundentes sejam tomadas para que uma mudança de qualidade de vida da sociedade se desenvolva. Em quanto o patrono da educação, Paulo Freire, propôs a conscientização da sociedade através da educação, o projeto Bolsonarista busca justamente o oposto. Sem que o povo perceba os seus problemas e sem saber quais ações pode realizar para solucioná-los, transforma esse povo em uma preza fácil a ser explorada e até dizimada pela classe econômica opressora, a qual só pensa em privilegiar a si própria e marginalizar os mais fragilizados socialmente.

Quais foram as lacunas que foram deixadas abertas que permitiram que o fundamentalismo religioso servisse de abrigo aos mais fragilizados socialmente? Esta pergunta precisa ser respondida, pois sem esta resposta a laicidade do estado pode dar lugar ao domínio político dos empresários da fé, os quais têm mostrado claramente suas vis intensões, as quais com certeza não é levar os fiéis de suas igrejas, ou de talvez melhor seria de chamar de empresas, ao “religare”, o que deveria ser o objetivo de uma instituição religiosa. Como sempre foi visto na história da humanidade, a associação do estado com a religião nunca deu bom resultado, melhor dizendo, sempre deu frutos nefastos. O estado laico tem que ser preservado em nosso país.

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Quando nos tornamos tão egoístas? Resposta de simples dedução. Quando deixamos que o Neoliberalismo invadisse nossas mentes e corações, além é claro de nossa economia. Tudo se tornou uma disputa. Cada vez mais tínhamos que ser os “números uns”, os mais ricos, os mais poderosos, custasse o que custasse. Acumular títulos, acumular riqueza. Acumular, acumular e acumular. Passamos a pensar somente nisso. E ao mesmo tempo o que aumentava era a desigualdade em toda a sociedade. E com o aumento da desigualdade todos os problemas inerentes a isso vieram de mãos dadas. Criminalidade, corrupção, desemprego, extrema pobreza e tudo o mais que temos visto infelizmente a nossa volta. Todo esse acumulo nunca visou atender a sociedade, mas sim a uma extrema minoria. Vejam! Em quanto voltamos ao mapa da fome, aumentamos também a quantidade de bilionários no país. Em 2021, apesar da crise potencializada com a pandemia do Covid 19, no Brasil surgiram mais 42 bilionários. Riqueza para pouquíssimos e escassez para a grande maioria. Todo esse acumulo foi somete isso o que promoveu.  Não há nação desenvolvida sem que todo o desenvolvimento seja compartilhado por toda a nação. É urgente revermos este conceito econômico, filosófico e egoísta que nos encontramos. Caso contrário jamais conseguiremos nos tornar uma nação plenamente desenvolvida econômica e socialmente. O desenvolvimento econômico não pode estar dissociado do desenvolvimento social.

Temos uma grande oportunidade de reestruturar todo o país. Caso não o façamos, correremos o risco de que uma tragédia pior que o Bolsonarismo volte a ocorrer. Depende de todos nós trabalharmos para construir uma nação com vida digna para todos os brasileiros e não só para uma minoria de opressores econômicos que condenam o país a pobreza. Como diz a canção de Ivan Lins: “Depende de nós.” Vamos arregaçar as mangas e trabalhar nesse sentido.

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