Vacinação obrigatória provocou banho de sangue e estado de sítio
"Em cinco dias de luta, a revolta popular resultou em 30 mortos, 900 presos, 100 feridos e 46 deportados para o Acre e só acabou com a decretação do estado de sítio no dia 16 de novembro", diz o jornalista Alex Solnik sobre a Revolta da Vacina
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia
No dia 9 de novembro de 1904 os jornais do Rio de Janeiro publicaram na íntegra a Lei da Vacinação obrigatória contra a varíola, elaborada pelo governo Rodrigues Alves com a melhor das intenções e com a recomendação expressa do maior cientista brasileiro da época, o dr. Oswaldo Cruz, a quem coubera a ingrata tarefa de livrar a capital do país de três pragas simultâneas: peste bubônica, febre amarela e varíola.
As punições estipuladas na lei eram draconianas e claramente inconstitucionais.
Quem não se vacinasse não poderia casar.
Nem votar.
Caso passageiro não vacinado fosse flagrado a bordo de um navio, o comandante pagaria pesadas multas.
O mesmo ocorreria com o gerente do hotel em relação aos hóspedes.
Havia estímulo a delações.
Quem contraísse varíola seria multado. Pois estaria provado que não tomou vacina.
Só ficaria dispensado da vacina quem apresentasse três atestados médicos (três!), garantindo estar impedido por doença.
O governo queria todos cidadãos acima de seis meses vacinados compulsoriamente.
Prisões também eram previstas.
No dia seguinte, 10 de novembro, os cariocas iniciaram uma das maiores batalhas campais da cidade, incendiando bondes, quebrando postos telefônicos, lojas e postes de iluminação, em protesto contra o governo e a polícia.
Dos conflitos sangrentos, que ficaram conhecidos como a Revolta da Vacina, emergiu um herói popular, Horácio José da Silva, o Prata Preta, um estivador e capoeirista “de 30 anos presumíveis, de compleição robusta, completamente imberbe, com fama de valente e rixento que era visto nos pontos mais perigosos das trincheiras e barricadas atirando de carabina”, segundo “A Noticia” de 17 de novembro. “Preso com um revólver em cada mão, não parou de protestar veementemente, prometendo desforra aos seus algozes”, diz a reportagem.
Em cinco dias de luta, a revolta popular resultou em 30 mortos, 900 presos, 100 feridos e 46 deportados para o Acre e só acabou com a decretação do estado de sítio no dia 16 de novembro.
No dia 15, uma tentativa de golpe contra o presidente da República liderada pela Escola Militar foi sufocada pelas forças governistas.
A lei foi revogada no dia 16. Jamais entrou em vigor.
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