Universidades sem futuro

Está configurado aí um imenso passo curto para a privatização do sistema universitário brasileiro e sua domesticação ante os interesses das empresas privadas (e instituições de ensino privadas).

Na UnB, 2.785 professores correm risco de perder 26% do salário
Na UnB, 2.785 professores correm risco de perder 26% do salário (Foto: Mariana Costa/Agência UNB)


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Durante os últimos anos do regime militar, nós – docentes universitários – lutamos bravamente contra o projeto de transformação das Autarquias Universitárias em Fundações. Alegavam os militares que a transformação traria mais autonomia de gestão aos reitores e eles podiam criar receitas para suas instituições, através da venda de serviços e produtos, sem a participação do governo federal. Era uma clara tentativa de transferir o ônus do financiamento público-estatal para a venda de serviços ao mercado, as empresas e a investidores privados, numa tentativa de alienação da autonomia científica e didático-pedagógica das universidades públicas do país.

Essa tentativa espúria, que copiava o modelo de financiamento de algumas universidades americanas, onde o sistema de cátedras patrocinado por fundações privadas é comum, foi largamente rechaçado pelo movimento docente e sua entidade representativa, a ANDES. Agora, volta com nova roupagem, tentando seduzir os reitores com a promessa de mais recursos e mais autonomia administrativa. Ledo engano.

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Está configurado aí um imenso passo curto para a privatização do sistema universitário brasileiro e sua domesticação ante os interesses das empresas privadas (e instituições de ensino privadas).

O sistema universitário brasileiro (onde predomina o modelo autárquico e financiamento público-estatal) é uma das grandes conquistas do nosso povo. Ele se destaca no contexto latino-americano. E algumas das nossas universidades públicas estão entre as melhores do mundo. E não é só pela acessibilidade pública, ampliada com o sistema de cotas raciais, étnicas e sociais. É pela excelência acadêmica, em todas as áreas de pesquisa, ensino e extensão. 

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Se nossas instituições de ensino fossem meros apêndices de empresas privadas ou fundações empresariais, jamais teriam conquistado o respeito e a admiração e todo o mundo. Não há no planeta, países que se desenvolveram e se tornaram prósperos, sem universidades livres, fortes, autônomas e produtivas. Os únicos financiadores da pesquisa pura, das humanidades, das benfeitorias na saúde, na nutrição, no esgotamento sanitário, na construção de habitações populares, transporte público etc. são os órgãos do governo federal. Mas não de qualquer governo.

Só os gestores que se inspiravam em objetivos nacionais e democráticos se preocupam com a vida das universidades. Um presidente que se comporta com um gerente de empresas e investidores privados, pouco vai se importar com a qualidade pública e democrática da educação. Vai, sim, privatizá-las e neutralizar o potencial de crítica e invenção dessas instituições de ensino. 

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Se o gerente não fosse tão estupido, entenderia o valor das universidades públicas, inclusive par a reprodução do capital. Afinal, a ciência e a tecnologia transformaram-se há muito tempo em forças produtivas de primeira grandeza. Mas a miopia e o estreitamento de visão impede ao “analfabeto político” de entender essa afirmação.

Nenhum reitor que tenha sido eleito democraticamente pela sua comunidade vai se deixar seduzir por este autentico “canto das sereias” de mais liberdade administrativa, mais recurso e mais produção. Mas os oportunistas e carreiristas de plantão vão se manifestar – na hora difícil de defender o patrimônio educacional público – a favor, entrevendo possibilidades de auferir muitas vantagens pessoais e profissionais com sua adesão a essa pá de cal se se jogará sobre as universidades brasileiras.

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