Unidade PT-PSOL é uma virada histórica e aponta novas dinâmicas para o país
Mauro Lopes anota que a unidade da esquerda brasileira é evento de alto impacto e abre possibilidades ainda difíceis de mensurar
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Por Mauro Lopes
A semana política do país está pautada por dois eventos de enorme magnitude: a condenação de Deltan Dallagnol pelo STJ, que enterra o período macartista no país, e o anúncio da desistência de Guilherme Boulos à candidatura para o governo de São Paulo e seu apoio e do presidente do PSOL a Haddad e a Lula.
O primeiro fato refere-se ao passado que ainda subsistia como um fantasma pelos cantos.
O segundo refere-se ao presente-futuro e é muito mais decisivo.
A união da esquerda brasileira tem repercussão tamanha e tão complexa que ainda é difícil de avaliar. É capaz de alterar as dinâmicas e equilíbrios e abrir horizontes amplos para o tempo que se abrirá com a provável eleição de Lula -e de Haddad.
O trauma da cisão de 2004 causou feridas que se arrastaram por anos, com inimizades, acusações e ataques mútuos e de satélites tanto do PT como do PSOL. Nas bases do PSOL, as críticas a Lula eram ferinas; em franjas do PT, até recentemente, as acusações a Guilherme Boulos eram despropositadas.
Houve um início de reaproximação por conta do golpe contra Dilma e, a seguir, em função da prisão de Lula. Foi uma aproximação de resistência que, aos poucos, foi desmontando desconfianças e mágoas.
A resistência abriu caminho para este novo momento. Não se trata de resistir, mas de construir juntos, o que é de qualidade distinta.
O primeiro efeito do movimento em curso é sinalizar para toda a sociedade brasileira de maneira potente: a esquerda está unida.
O próximo passo é o projeto desta unidade, a indicar que a esquerda tem um programa para o país. Gleisi Hoffmann já anunciou que Boulos e o PSOL construirão em conjunto com o PT o programa de governo.
Enquanto isso, à luz do dia, vê-se a extrema direita e a direita em conflagração, sem projeto, oferecendo ao Brasil comércio e escândalos.
A unidade da esquerda dará novo impulso ao processo de atração da centro-esquerda, do centro e mesmo setores desgarrados da centro-direita. Como um bloco, PT-PSOL e outras forças de menor expressão terão condições de apresentar à aliança ampla ao redor de Lula um programa progressista e arrancar uma plataforma comum.
O que parecia utópico, concretiza-se.
Há vários protagonistas nesse processo. Lula, Haddad e Gleisi do lado do PT; Boulos e Juliano do lado do PSOL.
Como anotou o cientista político Mathias Alencastro no programa Giro das 11 na TV 247, este conjunto de líderes traz uma novidade promissora para a esquerda: são três gerações de lideranças, a apontar um horizonte de curto, médio e longo prazo para pensar e mudar o país.
Lula com 76 anos, Haddad, 59, Gleisi, 56, Boulos, 39, Juliano, 38. A esquerda unida projeta líderes para os próximos 30 anos pelo menos.
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