Unidade da esquerda: eixo da frente anti-bolsonaro
Para o colunista do 247 Emir Sader, a 'brutal contraofensiva da extrema direita, representada pela eleição de Jair Bolsonaro (PSL), somente poderá ser enfrentada por meio de um movimento 'muito mais amplo do que o que a esquerda representa'; 'A unidade da esquerda é sempre o ponto de partida. Quem age contra essa unidade, faz o jogo da direita, divide a esquerda, ao invés de uni-la. Liderar a oposição é, antes de tudo, trabalhar pela unidade de todas as forcas de esquerda. Quem age na direção oposta está tentando substituir forcas determinantes na esquerda, como o PT, por aproximações com os tucanos e até com o DEM. Trabalha na direção oposta da unidade da esquerda e de todas as forças democráticas e populares', afirma
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A brutal contraofensiva da extrema direita atualizou, com mais força ainda do que antes, a polarização entre direita e esquerda no Brasil. Uma direita descarnada, sem disfarces, se apropria do Estado brasileiro, e coloca em prática seu programa mais radical, de versão mais extrema do neoliberalismo, com desmonte total do Estado brasileiro. A direita escancara o que quer fazer do Brasil. A esquerda representa exatamente o oposto: defesa dos direitos de todos, defesa do patrimônio público, prioridade das políticas sociais, soberania brasileira no mundo.
Mas a força que se necessita para deter e reverter a contraofensiva da direita é muito mais ampla do que o que a esquerda representa. Ela precisa organizar a todas as vitimas do política anunciada e já posta em prática pelo novo governo: trabalhadores, mulheres, negros, jovens, educadores, estudantes, bancários, LGBT, em suma, todos os que são discriminados e que já estão começando a sofrer as consequências da ofensiva da ultradireita, em nome de uma questionável vitória eleitoral, mas que coloca a iniciativa nas mãos de uma equipe abominável de todos os pontos de vista.
Discussões sobre frente antifascista são inócuas. Não se trata de um governo fascista, embora reivindique valores fascistas. E nem a grande maioria da população brasileira tem ideia do que é o fascismo. É um debate restrito à velha esquerda, aquela do século XX, que age conforme as experiências do fascismo e do nazismo europeus dos anos 1930. E que prega uma aliança de partidos, absolutamente restrita pelo que se necessita. A grande maioria dos partidos de esquerda tem muito pouca representatividade social, não chegam à massa popular, onde a direita avançou e onde é preciso chegar.
A unidade da esquerda é sempre o ponto de partida. Quem age contra essa unidade, faz o jogo da direita, divide a esquerda, ao invés de uni-la. Liderar a oposição é, antes de tudo, trabalhar pela unidade de todas as forcas de esquerda. Quem age na direção oposta está tentando substituir forcas determinantes na esquerda, como o PT, por aproximações com os tucanos e até com o DEM. Trabalha na direção oposta da unidade da esquerda e de todas as forças democráticas e populares.
Diante de um governo ultradireitista, que promete não deixar pedra sobre pedra do Estado brasileiro, dos direitos dos trabalhadores, dos espaços de liberdade nas escolas, entre outros retrocessos, é preciso mobilizar aos mais amplos setores da população. Chegar aos que votaram no candidato da ultradireita, mostrando como, se a vida deles está ruim, só vai piorar com o novo governo, que mantém e piora ainda mais a política econômica do governo Temer.
Chegar aos que votaram com a ilusão de que seria um governo contra a corrupção, mostrando como a composição do governo está cheia de corruptos. Aos que votaram achando que se combateria a insegurança, mostrar como o aumento do comercio de armas só vai aumentar as mortes. Como a liberação da política para atuar só vai aumentar a insegurança das pessoas, especialmente dos jovens, nas ruas.
Mostrar aos que não votaram, como contribuíram para que o pior do Brasil ganhasse. E como agora tem que se comprometer a evitar os retrocessos. Chegar a todos os que se sensibilizam com o fato de que os direitos de todos estão em risco. Mobilizar especialmente as vítimas privilegiadas do novo governo: as mulheres, os jovens, os negros, os indígenas, os quilombolas, os LGBT, os professores, os bancários. Mobilizar a todos os que têm sensibilidade democrática e se indignam com o que estão fazendo com o Brasil.
A questão da hegemonia não se decide por decreto. Terá hegemonia quem postular as teses mais amplas e democráticas para unir os setores majoritários da população. Hegemonia não é questão de força, mas de convencimento, de consenso.
Unir a esquerda não é um fim em si mesmo. É reconstruir um instrumento para a construção da mais ampla frente de luta social e democrática. Uma não substitui a outra. Ao contrário, a primeira é o eixo para a construção da mais ampla frente social, política, cultural, para a resistência contra a nova ofensiva da direita.
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