Unidade da esquerda é pra valer?

“A esquerda tem a possibilidade de se recuperar agora”, afirma o sociólogo Emir Sader. Ele, entretanto, critica a divisão nas candidaturas do campo progressista. "Não projeta uma perspectiva favorável para as eleições presidenciais e de governos de estado em 2022", destacou

Jilmar Tatto (PT) e Guilherme Boulos (PSOL)
Jilmar Tatto (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)


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As eleições municipais de há quatro anos foram o pior momento para a esquerda. Se deram no auge das mobilizações promovidas pela direita, que levaram ao golpe contra a Dilma.

A esquerda tem a possibilidade de se recuperar agora, mesmo em condições de campanhas eleitorais anômalas, curtas,  limitadas pela impossibilidade de mobilizações de rua. Uma das limitações é a impossibilidade de alianças para vereadores, o que pode pressionar a alguns partidos para lançar seus próprios candidatos a prefeito, mesmo sem ter nenhuma possibilidade de vitória, mas para fortalecer a lista de candidatos a vereadores.

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As eleições nas cidades são muito importantes, antes de tudo porque é nas cidades em que as pessoas vivem suas realidades cotidianas. É nas cidades que se podem projetar lideranças populares ligadas a reivindicações concretas da massa da população, especialmente da massa mais pobre e majoritária da população, em geral excluída da vida política.

As eleições deste ano podem ser um momento em que a esquerda se una e apresente programas de luta que incluam as necessidades da população das cidades. Que permitam que os problemas fundamentais da vida das pessoas – emprego, salário, educação, saúde, segurança, entre outros – ocupem o centro da campanha, chamem a atenção das pessoas e da própria vida política.

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No entanto, em grande parte das principais cidades do Brasil, a esquerda não deve ter candidaturas que unam as forças populares. São Paulo e Rio de Janeiro são casos claros.

No Rio, depois de esboçar a unidade da esquerda em torno da chapa Freixo/Benedita, cada partido passou a lançar seus próprios candidatos: o Psol, o PCdoB, o PT e o PSB, que apoia a candidata do PDT. Pelo menos quatro candidatos terá a esquerda, facilitando que a direita e a extrema direita disputem o segundo turno e decidam entre si.

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Enquanto isso, o Rio de Janeiro passa pelo pior momento da sua história, como cidade e como estado. O governador, recém eleito, está sob processo de impeachment, o prefeito do Rio tem péssima avaliação, mas a disputa pode se dar entre um candidato apoiado pelo Bolsonaro – provavelmente o próprio Paes – e algum nome também do campo da direita ou da extrema direita. 

Enquanto a maior parte dos partidos da esquerda faz prevalecer seus interesses corporativos, tomando posições oportunistas, que colocam as necessidades internas de cada um acima dos interesses e das necessidades do povo do Rio de Janeiro. Tudo indica que, dessa forma, nada melhorará no Rio. A unidade da esquerda é pregada, da boca pra fora, por cada partido e líder político, mas na prática a esquerda coloca seus interesses acima da unidade e das necessidades do Rio.

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Não é muito diferente a situação em São Paulo. A chapa lançada pelo Psol, que poderia unificar pelo menos uma parte da esquerda, é uma chapa pura, com dois candidatos do próprio partido. A unidade da esquerda em São Paulo suporia que o PT e o Psol caminhassem juntos, com uma chapa unificada, em torno da qual se poderia aglutinar o conjunto da esquerda e disputar, realmente a prefeitura da cidade, a começar por chegar ao segundo turno.

Mas, da mesma forma que no Rio de Janeiro, os interesses de projeção de cada partido, concorrendo com os outros, predomina sobre as necessidades prementes da cidade de deixar de ser governada pela direita. Tudo projeta a perspectiva de  que a divisão entre pelo menos duas candidaturas da esquerda, que separam ao invés de unir a esquerda, facilitem as possibilidades da direita seguir governando a cidade.

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Em algumas outras cidades, como Porto Alegre, a unidade da esquerda pode ser impor. Não é a regra geral nas eleições municipais deste ano. E não projeta uma perspectiva favorável para as eleições presidenciais e de governos de estado em 2022.

Todo partido de esquerda jura pela unidade da esquerda, assim como todo líder de esquerda. Mas a prática...

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