Uma resposta sem resposta

José Geraldo de Souza Júnior
José Geraldo de Souza Júnior (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

No Brasil, costuma-se valorizar a prática em detrimento da teoria. Nação dada a poucos volumes de estudo, prefere, muitas vezes, os homens de ação, os desbravadores, como os bandeirantes na época da colonização, aos pensadores, os que contemplam o panorama exibido e recolhem do mesmo uma reflexão. As CPIs no Congresso se delineiam assim, repletas de movimentos, inclusive nos discursos, de uns tempos para cá amiúde mais ferozes. Qual não foi a surpresa do espectador ao ver à mesa de uma delas a presença de um acadêmico, professor e ex-Reitor da Universidade de Brasília, convidado a partilhar dos debates e de oferecer suas contribuições como jurista. Nas discussões, entre os loquazes e os que economizam nas exposições, ganham frequentemente os primeiros, carregados de argumentos e, vez por outra, falsas informações. A figura já notável do Prof. José Geraldo de Souza Júnior, com uma vasta bagagem de referências literárias e filosóficas, mudou a dinâmica do evento. 

É possível que, num primeiro exame, não lhe viriam a dar grande crédito. Não parecia de esquerda, situando-se ao largo do problema com seus conhecimentos sobretudo teóricos. Ledo engano. Mal começou a falar, o Professor se revelou de uma inteligência aguda, superior aos noventa por cento dos debatedores. Modulava sua retórica com citações de inegável conhecimento. Ao lado do deputado Ricardo Salles, o da boiada, esperto, no entanto, em mover-se em situações delicadas, sugeria um Davi contra Golias. Parecia, sim, apenas parecia, porque logo se demonstrou destro na palavra e dono do verbo para ninguém botar defeito. Ricardo Salles, na primeira tentativa, imaginou que se sairia bem, tudo para, em seguida, verificar que, na ironia ou na argumentação direta, gradualmente perdia terreno. Um instante mais tarde, compreendeu-se que a solidez do quadro acadêmico confrontada com a prática banal dos demais participantes ficava em vantagem clara. Claramente, ganhavam os Sem Terra.

continua após o anúncio

Mas o pior ocorreria na vez da deputada Carolina Otoni. Ela tem por hábito realizar intervenções marcadas pela paixão pelo agronegócio. Simula delicadeza que rapidamente se transforma em contundência, para não mencionar irreverência e agressividade com as autoridades, alvos de sua escolha. O mesmo aconteceria com o Prof. José Geraldo, não fosse a veemência de sua astúcia e a capacidade de esgrimista com que manobrava humor e sabedoria. Ele entendeu que a jovem de direita não necessitava de resposta. Tinha na mente um arcabouço de preconceitos usados e repetidos em sua atuação na Câmara. Expressou-se muito bem, afirmando, contudo, que não lhe daria resposta, algo que ela apenas utilizaria para descartar e prosseguir na linha de seu comportamento. 

A ausência de resposta, ali posta na hora certa, ganhou a plateia. Registrou-se a vitória da razão frente a uma prática rasteira, moldada em ideologia e propaganda adversa ao MST. A sessão estava definida. Nada havia a fazer com ela a não ser encerrar as intervenções e agradecer a delicadeza do convidado, delicadeza que se serviu de luvas de pelica para destroçar os valores da maioria e afirmar concepções. De uma próxima feita, redobrarão os cuidados ao convidar um quadro acadêmico para contribuir com os programas. Eles carregam estudo e valores humanistas, o bastante para pôr ordem naquele tipo de plenário. 

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247