Lula deveria aceitar o apoio de todos o que o queiram apoiar

"Não recusar ninguém. No entanto, Lula deveria estipular com clareza e firmeza um programa de transformações sociais profundas, que atenda os interesses das maiorias que estão sendo vítimas de todas as desgraças desde o golpe de 2016", escreve o economista Jair de Souza

Ex-presidente Lula
Ex-presidente Lula (Foto: Ricardo Stuckert)


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Depois de passar anos sob o fogo cerrado de toda a mídia corporativa do Brasil, a figura de Luís Inácio Lula da Silva reaparece como a estrela mais fulgurante do universo político do país.

Em contraposição ao esperado por seus patrocinadores, a imensa campanha de difamação despejada sobre Lula não foi capaz de extirpar do povo brasileiro o sentimento e as recordações positivas emanadas do período em que o país foi governado por aquele ex-torneiro mecânico, desprovido de título universitário e com um dedo a menos em suas mãos (por isso, ele era o “nine” para Deltan Dallagnol e os outros procuradores da Lava-Jato).

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No entanto, em um dado momento, nossas elites econômicas (as elites do atraso, como diria Jessé Souza) concluíram que já não deveriam mais tolerar que o comando da nação estivesse em mãos de um ser tão desvinculado de seus padrões sociais e sem vínculos intrínsecos com seus interesses econômicos.

Porém, como não contavam em suas próprias hostes com nenhum aspirante em condições de atrair o voto das maiorias populares, essas elites e seus meios de comunicação se viram forçados a optar pela única figura que, naquele momento, era capaz de colher os frutos do ódio e da desesperança com a política que eles haviam semeado com tanta intensidade por quase uma década. Só isto pode explicar o fato de que Bolsonaro, provavelmente o político mais abjeto e desprezível de todo nosso baixo clero parlamentar, tenha sido por eles reformatado e reapresentado com um novo rótulo. Ou seja, em lugar do politiqueiro ligado ao que de pior havia no submundo da política, ele passou a ser tratado como um novato debutante que estava chegando para pôr fim à velha política e à corrupção. Ou seja, era a podridão sendo re-embalada e divulgada como exemplo de frescura.

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Mas, como a leitura bíblica nos ajuda a entender, não se pode esperar que uma árvore podre dê frutos bons. Como consequência, o país está recebendo de Bolsonaro tão somente aquilo que Bolsonaro poderia proporcionar: ódio, miséria, destruição, sofrimento e morte. E, digamos, tudo em medidas colossais, visto que Bolsonaro não está para modéstias no tocante a essas coisas.

Agora, ao nos acercarmos às 400.000 mortes pelo descaso com a covid-19, o descalabro atingiu tais proporções que até inúmeros representantes de setores das próprias elites se deram conta de que não dá mais para deixar o barco seguir nas ondas do bolsonarismo. Eles também sentem que acabar com esta tragédia é não apenas preciso, como imperativo.

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Ocorre entretanto que, uma vez mais, nossas elites do atraso não contam com ninguém de sua própria estirpe para assumir a contento a tarefa de livrar o país do monstro que nos está assolando. Por mais que o fato lhes desagrade, eles vão entendendo que ninguém além do já conhecido Luís Inácio Lula da Silva se perfila em condições de derrotar o flagelo do bolsonarismo e recolocar a nação no rumo da civilidade. É triste para eles, mas, até o momento, não puderam fabricar ninguém capaz de lhes dar esperanças de vitória. E olha que já testaram vários nomes.

Sendo assim, começaram a surgir no seio dessas elites elementos que, a despeito de sua profunda ojeriza a Lula e a tudo que ele representa, entenderam que seria melhor entregar os anéis para não perder os dedos. Essa gente percebeu que Lula é a única salvação até mesmo para as próprias elites, ou seja, até para aqueles que foram os responsáveis pelo crescimento do câncer que está corroendo as entranhas de nossa nação.

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Em visto disto, poderíamos indagar: Lula deveria aceitar ou rejeitar os apoios provenientes dessa gente? Para mim, Lula deveria aceitar de bom grado toda e qualquer adesão a seu nome, venha de quem vier.

Sim, para aceitar adesões Lula deveria ser totalmente amplo e generoso. Não recusar ninguém. No entanto, Lula deveria estipular com clareza e firmeza um programa de transformações sociais profundas, um programa que atenda fundamentalmente os interesses das maiorias que estão sendo vítimas de todas as desgraças que lhes vêm sendo causadas desde o golpe de 2016. E a direção de sua campanha deveria ser entregue a gente que esteja plenamente comprometida com o programa.

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Entre outras medidas necessárias, Lula deveria estipular claramente que é a favor de pôr fim à miserável limitação dos gastos públicos (teto de gastos); Lula deveria propor a volta do comando do Banco Central às mãos do governo e formular uma política de crédito favorável aos pequenos e médios produtores; Lula deveria deixar patente nosso empenho para a recuperação do pré-sal para a nação brasileira; Lula deveria encampar a luta pela recuperação dos direitos trabalhistas que foram eliminados depois do golpe de 2016; Lula deveria enfatizar a disposição de invalidar as agressões desfechadas contra nossa previdência social com as reformas dos golpistas de 2016; Lula deveria relançar o programa de habitação popular.

Estabelecendo abertamente seu programa de governo nessas bases e assegurando-se de que o comando vai estar sob a orientação de quem realmente se identifica com o mesmo, Lula poderia e deveria aceitar sem vacilação o apoio de todos os que queiram a ele se associar. Sem nenhum medo.

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