Uma fortaleza vazia
O recente episódio da Nota-Resposta do Ministro da Defesa e dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica contra Omar Aziz, Presidente da CPI, ficou muito abaixo do que se espera de uma instituição capaz de nos proteger
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A respeitabilidade de uma instituição militar mostra-se importante na guerra ou na paz. Parte das vitórias ou das derrotas provêm de razões de ordem psicológica, pelas quais um país já entra nos conflitos ganhando ou perdendo, de acordo com a imagem que desenvolveu de si mesmo. Não basta a força das armas. É preciso, antes de tudo, uma respeitabilidade, graças à qual se exterioriza algo da superioridade ou da inferioridade dos soldados postos em ação. Para tanto, cumpre zelar por um estado de espírito que instile confiança de cima a baixo no interior do sistema. Cabe lembrar que, quando as constituições o concebem, o fazem determinando sua ligação com o Estado – e não com um indivíduo ou um líder político: para que não se atrele a interesses pessoais.
Um poder militar mal gerido é uma “fortaleza vazia”, desprovida de valores e frágil do ponto de vista de seu prestígio. Da mesma forma, se o seu corpo permanece desprovido de inteligência, apenas obedecendo ao dirigente, sejam quais forem as características da realidade, viveremos dentro de crises, com poucas saídas à frente. O conceito “Fortaleza vazia” aqui utilizado pegamos emprestado a Bruno Bettelheim, o grande psiquiatra radicado nos Estados Unidos, depois da guerra, cujos estudos sobre o psiquismo marcaram uma geração de estudiosos. Ele observou, em alguns doentes, por diversos fatores (muitas vezes ligados à mãe) a tendência de recuarem em direção a si mesmos até o corte definitivo de suas ligações com o ambiente exterior. No seu âmbito pessoal, no entanto, nada subsistia que lhe garantisse a lucidez. Ali apenas se refugiava, prisioneiro de seus fantasmas.
Claro que as Forças Armadas se situam acima de seus dirigentes nomeados pelo ocupante do Palácio do Planalto. Não podem e não devem representar um partido político. Se lúcidos ou medíocres, garantem ou não o acervo de valores com os quais, mesmo em paz, nos sentimos seguros ou inseguros no quadro das nações. O recente episódio da Nota-Resposta do Ministro da Defesa e dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica contra Omar Aziz, Presidente da CPI, ficou muito abaixo do que se espera de uma instituição capaz de nos proteger. Não se protege um país ficando abaixo dele, de seus congressistas, magistrados, pensadores e observadores. Ainda por cima, vivemos um momento com um Presidente que mal sabe se expressar em público, sem papas na língua e sem respeitabilidade. Quando este indivíduo, em entrevista à imprensa, usa palavras de baixo calão para definir a sua forma de atender aos senadores, é sinal de que descemos ladeira abaixo em alta velocidade e temos de torcer para que o pesadelo acabe rápido.
Esperemos que o vírus da sensatez (e não o da Covid-19) se haja infiltrado entre nossos soldados e oficiais da ativa. Os que se aproximaram da administração pública, pelo que temos assistido, não se exibem à altura, segundo qualquer critério, do que tanto necessitamos em termos de honestidade e eficiência. Esbravejar não resolve o problema. Notas para desopilar o fígado, muito menos. Em nosso Exército já tivemos até intelectuais e literatos de prestígio, enriquecendo a fortaleza dos nossos talentos. Onde foram parar?
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