Uma ética em frangalhos

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira
Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)


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Um estado de ordem social começa a preocupar quando, nos costumes, os hábitos entram em colapso, em processo de degradação, e se desvestem de suas nobres vestimentas para exibir faces preocupantes. A política brasileira tem se revelado difícil de endireitar, apesar de grandes nomes que figuram em seu panteão, ao lado de perfis que mais dá vontade de esconder. Nos debates, na atual legislatura, o acirramento das disputas ocasiona situações lamentáveis, como as que assistimos em comissões com a presença do Ministro da Justiça Flávio Dino. Depois de um tempo sem a instalação de um Conselho de Ética, eis que, de repente, no agora criado, junto a nomes consagrados pela farsa, como Nicolas Ferreira ou Carla Zambelli, surgem processadas, com o aval de Arthur Lira, mulheres que honrariam qualquer assembleia pela sua coragem, combatividade, energia e lucidez. A Câmara cresceu em respeitabilidade ou diminuiu de estatura?

A capacidade de luta conduz às vezes a acirramentos na exposição de verdades. Trata-se de um efeito secundário de certas discussões durante as quais não se nota aprimoramento; antes, deslizes que resvalam para ofensas. É natural nos melhores e mais experimentados quadros. No caso, as deputadas Talíria Petrone, Sâmia Bomfim, Fernanda Melchionna, Juliana Cardoso, Célia Xakriabá e Érica Kokay só podem se sentir injustiçadas. Entram em causas que merecem atuação e vão até o fim na defesa de direitos humanos, pouco importando as consequências. As atas do distinto parlamento revelam o que fazem e como fazem, sem nada que as desabone. Talvez por isso, seguindo ladeira abaixo na curvatura que se apresenta mais recentemente na instituição, viraram alvo de macarthismo com objetivo de calá-las. O grupo coeso e destacado já avisou que a estratégia não dará certo e que continuará notável sempre que possível, solicitando a palavra e usando o microfone para provar com quem estão lidando. 

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Em suas justificativas, Arthur Lira enfatiza que trata com liberalidade punitiva a gregos e troianos, isto é, à direita e à esquerda, como se fosse equilibrado misturar alhos e bugalhos. Um jovem parlamentar que se valeu de uma peruca para zombar de representantes de gênero, ferindo a Lei, ou uma bolsonarista que perseguiu um jornalista em São Paulo de arma em punho, na balança que defende valem tanto quando aquelas deputadas, cujos argumentos caminham no sentido da honra. Talvez se revele necessário limpar as lentes de observação para melhor apreciar o que se pode e não se pode esperar de seus políticos no elenco em nosso Congresso. 

Registre-se que uma das deputadas enumeradas para punições, Célia Xakriabá, entrou numa dos mais belos quadros de protesto durante o chamado Marco Temporal, depois de assistir à imposição de uma legislação que se posiciona contra os interesses dos povos originários. Munida de um cocar colorido, expressou-se com um misto de indignação e revolta, sem jamais perder a compostura. Formada nos rigores das florestas, não se restringe à calma. Segura os séculos de sabedoria com as mãos firmes. Com a espinha ereta, sabe que nenhuma ética em frangalhos logrará derrubá-la.

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