Uma CPMI para manter o cocho cheio
Está claro que o que interessa ao bolsonarismo, é manter o cocho cheio de mentiras
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Os atos golpistas do dia 8 de janeiro, apesar de induvidosamente serem de autoria do nazi-bolsonarismo e de estarem sendo amplamente investigados pela Polícia Federal, pelas polícias do Distrito Federal e pelo MPF, incitaram a abertura de comissões parlamentares de inquérito no congresso, com o objetivo de averiguar responsabilidades.
O curioso é que a ideia de criar uma CPMI virou bandeira justamente dos aliados de Bolsonaro, um aparente contrassenso, tendo em vista que é evidente que foi o bolsonarismo que organizou e realizou a barbárie.
Mas o bolsonarismo precisa da CPMI para manter o cocho do gado cheio de mentiras e versões; o gado bolsonarista alimenta-se delas, para eles os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Para quem não sabe o que é “cocho” eu explico: esse substantivo masculino, se refere ao “...comedouro para o gado, com formato semelhante ao tronco escavado”.
Vamos lá.
Recebo com frequência, pelo WhatsApp, memes e Fake News de bolsonaristas resistentes; o assunto da moda são os atos de 8 de janeiro, que teriam sido segundo eles, pacíficos, sendo que a “quebradeira” é responsabilidade de “infiltrados petistas” e da “esquerdalha”; eles acreditam que tudo será esclarecido por uma CPMI.Um meu conhecido, daqueles lobotomizados, enviou um WhatsApp com um filmezinho patético, no qual “famosos desconhecidos” denunciam que “Lula pagou os infiltrados para quebrar tudo (...), o canalha caiu na própria armadilha que armou, Deus pega peixe grande na rede” (essa gente sempre dá um jeito de colocar Deus no meio da conversa – como que para legitimar a mentira e a hipocrisia, que caracterizam suas palavras e movimentos -, e o fazem ignorando o Terceiro Mandamento: "Não tomarás o Nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar seu nome em vão”).O fato é que a narrativa mentirosa é essencial para sobrevivência do bolsonarismo, pois, o gado precisa seguir acreditando que tudo foi quebrado porque “Lula pagou para quebrar”. Trata-se de narrativa vil - que não leva em conta as investigações realizadas pela PF, pela PMDF e pelo MPF -, mas que mantém o cercadinho ativo e assanhado.
Essa narrativa é como a estória da URSAL. Lembram? Foi no primeiro debate entre os candidatos à presidência em 2018, que uma mentira tornou-se um dos pontos mais polêmicos discutidos. Daciolo acusou Ciro de pertencer a uma organização internacional secreta que estaria conspirando pela articulação e implementação de uma ditadura comunista que integraria os países latino-americanos por meio da chamada Ursal - União das Repúblicas Socialistas da América Latina.
Ciro ficou perplexo, tendo em vista que nunca havia ouvido falar na tal Ursal, justamente porque essa organização jamais existiu e disse: “Meu estimado Cabo, eu tive o prazer de lhe conhecer hoje e pelo visto o amigo também não me conhece. Eu não sei o que é isso”.
Aquele foi um debate marcado pela categoria da pós-verdade e que fique claro: o que interessa àquele que trabalha com essa categoria não é a verdade, mas alimentar “os seus” com argumentos, mesmo sabidamente falsos, que os mantenham em movimento.
Grupos conservadores orientados pela visão de mundo de Olavo de Carvalho, passaram a se articular por canais da internet, divulgando informações equivocadas, distorcidas ou mentirosas, operam como digital influencers atuantes usando a mentira.
As chamadas “novíssimas direitas conservadoras” são permeáveis à mentira, ou pós-verdade, que chegam a eles pelas redes sociais.
Vivemos um fenômeno recente que alterou radicalmente a forma como nos relacionamos com as informações; deixamos de ser meros receptores de notícias selecionadas e difundidas, hoje cada de um nós pode se transformar em uma espécie de canal de televisão e com a probabilidade ainda de ganhar dinheiro com isso (basta encontrar a forma mais adequada para atingir o público selecionado através de um formato que consiga capturar aquele que está em busca de alguém que compartilhe com ideias próximas às suas). Nesse universo um fato inexistente ou equivocado pode ganhar a força de verdade, dependendo da intensidade das visualizações, compartilhamentos e comentários encontrados nas páginas da internet.
O que pareceu ser algo muito bom num primeiro momento, permitiu a emergência daquilo que o dicionário Oxford trouxe como palavra do ano em 2016, a pós-verdade; as redes sociais fez com que a difusão de uma informação, sem fonte, distorcida e até mesmo mentirosa, passasse a ter efeito de verdade, trazendo todas as consequências sérias, “a pós-verdade deixou de ser um termo periférico para ser um dos pilares dos comentários políticos, sendo agora muitas vezes usados por grandes publicações sem a necessidade de esclarecimento ou definição em suas manchetes”. Desse modo, assim como a pergunta do Cabo Daciolo ao Ciro Gomes em 2018 estava fundada numa mentira (a URSAL), a participação de “petistas” e da “esquerdalha” nos atos selvagens, bárbaros ou terroristas de 8 de janeiro é evidente mentira.
Está claro que o que interessa ao bolsonarismo, é manter o cocho cheio de mentiras, pois a manutenção gado alienado precisa delas, suas vidas vazias de realidade não encontram sentido fora da pós-verdade.
A CPMI
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